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Integração energética da Ucrânia será crucial para a segurança da Europa

Estudo identifica três áreas principais de cooperação futura: armazenamento de gás natural, produção de biometano e fornecimento de matérias-primas críticas.

30 de outubro de 2025 às 17:34

A integração do setor energético da Ucrânia na União Europeia (UE) será crucial para a segurança e estabilidade da Europa, conclui um novo estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) e da norte-americana Brookings Institution.

Intitulado "O papel do setor energético na guerra da Ucrânia", o documento analisa como a energia se tornou um elemento central no conflito com a Rússia e defende que a reconstrução e modernização do sistema ucraniano, em articulação com a UE, serão determinantes para a ordem energética e geopolítica europeia.

Da autoria de Maciej Zaniewicz e Danylo Moiseienko, investigadores do Forum Energii --- um 'think tank' polaco, ou seja, uma organização independente dedicada à investigação e análise de políticas públicas nas áreas da energia e do clima ---, o estudo destaca que a Ucrânia pode tornar-se um pilar estratégico da transição energética europeia, com benefícios mútuos para Kiev e Bruxelas.

O estudo identifica três áreas principais de cooperação futura: armazenamento de gás natural, produção de biometano e fornecimento de matérias-primas críticas.

A Ucrânia possui as maiores reservas subterrâneas de gás da Europa, equivalentes a cerca de 10% da procura anual da UE, e poderá exportar até mil milhões de metros cúbicos de biometano por ano até 2030, aproveitando o seu potencial agrícola para substituir parte do gás russo.

O país detém ainda reservas de lítio e grafite essenciais para baterias e tecnologias limpas, contribuindo para reduzir a dependência europeia da China.

Os autores citam cálculos do Banco Mundial para concluir que o custo total da reconstrução energética da Ucrânia ascende aos 67,8 mil milhões (58,2 mil milhões de euros), montante que poderá ser parcialmente coberto por investimento privado e pelo Fundo de Apoio à Energia da Ucrânia, gerido pela Comunidade da Energia e pela Comissão Europeia.

O estudo alerta, contudo, que o financiamento permanece insuficiente e que infraestruturas como centrais térmicas móveis e redes de distribuição continuam vulneráveis a ataques. Entre os riscos apontados estão ainda o controlo político sobre empresas estatais e preços domésticos abaixo do mercado, que desincentivam o investimento.

Face a estas conclusões, os autores traçam dois cenários: um em que a Ucrânia consolida a integração na UE, atrai capital estrangeiro e se torna um 'hub' descentralizado baseado em energia nuclear, gás flexível e renováveis, e outro em que, se a guerra se prolongar, o sistema colapsa e o país volta a ficar sob influência russa.

"Apoiar a reconstrução ucraniana é, acima de tudo, um ato de defesa da ordem ocidental baseada no direito, na cooperação e na inovação tecnológica", referem os investigadores, sublinhando que a escolha entre os dois caminhos "definirá não apenas o futuro da Ucrânia, mas também da ordem energética e geopolítica da Europa".

A energia, concluem, é "mais do que um instrumento de guerra, é o coração da soberania ucraniana e o eixo da segurança europeia".

Este é o quinto estudo da série "A transição energética da Europa: equilibrar o trilema", desenvolvida em parceria entre a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Brookings Institution sobre os desafios da transição energética europeia em tempos de crise e conflito.

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