Katmandu: "Como será o próximo minuto?"

Portugueses Pedro Queirós e Lourenço Macedo Santos estão no Nepal a viver a tragédia.

02 de maio de 2015 às 14:55
02-05-2015_14_41_56 kat.jpg Foto: Pedro Queirós/Lourenço Macedo Santos
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Não posso deixar de começar o nosso report diário sem expressar aquilo que sentimos por todos vocês. Todos os que enviam mensagens. Todos os que partilham. Todos os que contribuem. Vocês são a nossa força nos momentos difíceis. Quando estamos cansados ou com medo. Quando os sacos de arroz pesam nas costas. Quando estamos em situações surreais. São muitas acreditem.

O apoio e as palavras que nos chegam enchem-nos de coragem...Heróis, exemplos, humanidade, respeito... Como é possível isto ter chegado a este ponto? Mil obrigados a sério, vocês são o vento nas nossas costas.

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Não parem de contribuir e apoiar. Nós prometemos não vos desiludir. Amanhã até estamos a pensar não beber a cerveja de final da noite para estarmos ainda mais concentrados.

O dia de hoje...

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A reunião de alto nível para a qual fomos convidados aconteceu, mas nós não fomos. Pelas 10 da manhã fomos desafiados a ir para uma vila nos arredores de Katmandu e nem hesitamos. Reuniões já chega as de condomínio.

O processo já o conhecemos mas nem por isso deixa de ser difícil. Basicamente são duas fases.

Primeira fase:

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O que comprar? A que preços? Onde? Como vamos transportar? Estas são as perguntas essenciais. E as respostas vão surgindo ao longo dos minutos. As pessoas também vão conhecendo a nossa história e a ajuda chega de todo o lado. "Nós vamos com vocês!!!", dizem eles...e vêm mesmo!! E do nada arranjam carrinhas. E levam-nos aos melhores sítios para comprar. A equipa de hoje foi verdadeiramente fantástica. Domingo vamos estar juntos de novo.

Segunda fase:

Pegar em tudo o que temos e arrancar! Como distribuir? Em sacos? Fazer filas? Vai haver militares para onde vamos? Há mesmo necessidade de comida nessas áreas?

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Em ambas as fases as nossas competências têm evoluído notoriamente. Já compramos arroz muito mais barato. Já temos carrinhas maiores. Já sabemos como distribuir a comida. Já topamos quem volta para o final da fila depois de receber.

Os grandes números de hoje são:

- 140.000 rupias, aproximadamente 1230 €, dos quais 260 € gentilmente cedidos por uma Australiana que se revelou uma verdadeira missionária, obrigado Dominic Morency!

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- 4500 pacotes de noodles, cerca de 350 kgs.

- 500 kgs de arroz,

- 400 kgs de sal,

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- 2400 pacotes pequenos de bolachas,

- 2 caixas de pastilhas para filtrar água.

Estamos a focar-nos naquilo que é realmente necessário. Hidratos de carbono e a alguns minerais. Hoje por exemplo também decidimos não levar água. Para além de ser pesada, a vila para onde iamos nas montanhas tem bastantes riachos e cascatas. Água boa para beber.

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Estradas de pedras e lama totalmente inacessíveis. Inúmeras vezes tivemos de sair para empurrar as carrinhas porque o peso era muito. Demoramos cerca de 2 horas para fazer os 20 kms finais. Quando lá chegamos haviam 100 casas em ruínas e muitas pessoas a precisar de ajuda.

Ajudamos cerca de 160 famílias. Vejam mais uma vez com os vossos olhos o que as contribuições fizeram. Obrigado. Não temos palavras. A alegria das pessoas quando nos vêm é algo que não tem preço. E nós dizemos sempre: "THIS IS FROM PORTUGAL!" Continuem a ajudar!

Hoje parece que vamos dormir num quarto? Como será voltar a dormir entre paredes? Vamos ter de preparar um plano de evacuação antes de dormir. Os empregados do hotel tratam-nos como reis. Viram-nos na televisão a dar comida.

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Queríamos já agora agradecer a todos os media que nos têm contactado. Já percebemos que a noticia tem impacto mas precisamos de estar concentrados e aproveitar o pouco tempo que temos. Já escrever todas estas palavras diariamente e escolher fotografias não é tarefa fácil. O que os jornalistas podem fazer é colocar o NIB para contribuir na capa do jornal! Entre nós, já sonhamos em ajudar a construir uma escola nova.

A decisão de ficar foi a mais acertada. Ou não? Como será o próximo minuto?

Texto de Pedro Queirós e Lourenço Macedo Santos, partilhado no Facebook e cedido ao CM para publicação.

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