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“O agressor tem grande necessidade de protagonismo”: Associação quer acabar com o bullying em contexto escolar

No Bully Portugal, congénere da associação americana com o mesmo nome, trouxe para o País uma abordagem baseada na empatia.
Ana Maria Ribeiro 1 de Abril de 2022 às 01:30
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escolas, bullying, alunos FOTO: DR
Inês Freire de Andrade sabe do que fala. Foi bully na escola primária e vítima de bullying no secundário. Por isso, quando, em 2016, fundou a No Bully Portugal, foi para tentar acabar com uma realidade complexa mas evitável. E porque habitualmente "nem colegas nem professores sabem muito bem como agir" perante as situações, é preciso dar-lhes os instrumentos que põem um ponto final nas agressões.

A No Bully Portugal, congénere da associação americana com o mesmo nome, trouxe para o País uma abordagem baseada na empatia: aprender a colocar-se na pele do outro, para perceber o que ele sente.

"O bully tem uma grande necessidade de protagonismo. Normalmente é isso que o move", explica Inês Freire de Andrade. "Mas podemos mostrar-lhe que pode continuar a brilhar sem magoar ninguém e devemos chamar a atenção para o sofrimento que está a provocar nos outros. A ideia é inverter papéis: o bully pode passar a ser herói da história, em vez do vilão", afirma ao Correio da Manhã.

A associação é formada por nove elementos fixos e envolve atualmente 15 formadores, entre psicólogos e profissionais de educação, que se deslocam às escolas para ajudar professores e auxiliares a sanarem os problemas entre alunos. Até ao momento, a No Bully conseguiu a adesão de 16 escolas de várias zonas do País. Mas a curto prazo quer duplicar esse número. Até ao fim deste ano letivo, estará em mais seis escolas. E o feedback tem sido positivo: não só as vítimas voltam a encontrar razões para se sentirem bem na escola, como os agressores têm mudado de atitude. "Impera a ideia feita de que os bullies não têm empatia. Que não querem saber de ninguém. Mas isso não é verdade. Não há más pessoas – há más ações. E as pessoas podem mudar, se lhes dermos oportunidade e a motivação para tal", conclui.

Formação para prevenir casos
O Agrupamento de Escolas João de Deus, em Faro, tem em marcha um projeto de saúde mental, centrado na prevenção da violência. Há uma equipa de sete técnicos qualificados na área, que ministram regularmente sessões de formação a toda comunidade educativa: alunos, pais, docentes e pessoal não docente. "Para não termos uma atuação secundária, só quando o aluno já é vítima, tentamos sensibilizar e formar para prevenir", explica ao Correio da Manhã Luís Neves, coordenador do Serviço de Apoio ao Aluno.

Discurso Direto
Carlos Luís Presidente do AE João de Deus, Faro
CM-
O bullying ainda é um tema tabu na comunidade educativa?
Carlos Luís – Formalmente, não é. Informalmente, eu creio que ainda há algum tipo de resistência relativamente a esse assunto, em aceitar que estamos a tratar de situações que configuram bullying.
– O agrupamento de escolas incentiva, de algum modo, as denúncias?
– Nós incentivamos essas denúncias e pedimos que as situações nos sejam reportadas para agirmos de imediato. Verifica-se é que, por vezes, há alguma confusão relativamente àquilo que é bullying e ao que são desavenças de crianças, que podem ser resolvidas de outra forma.
– Que tipo de acompanhamento existe das vítimas?
– Primeiro, passa por uma intervenção imediata da direção. Temos conversas com os pais e fazemos uma análise caso a caso: há casos em que comunicamos com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e com as autoridades, há casos em que aconselhamos o acompanhamento ao nível psicológico e outros em que conseguimos gerir a situação internamente.
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