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Prosa: Ser irmã

Lembro-me bem. Tinha quatro anos e gostava muito de brincar.

26 de maio de 2015 às 11:00

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Votação fechada. Vê os resultados na fanzine publicada com o Correio da Manhã de dia 25 de junho. Entretanto, recordamos que o concurso é mensal e contamos com os teus trabalhos (vê aqui o regulamento). 

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Lembro-me bem.

Tinha quatro anos e gostava muito de brincar. Dei por mim a pensar em como seria bom, ter um irmão ou melhor, uma irmã que pudesse partilhar comigo esses momentos de diversão!

Falei disso aos meus pais...

Estávamos perto do Natal e uma das prendas que pedia era o bebé. E a consoada chegou depressa. Na hora de abrir os presentes os meus pais anunciaram que tinham um especial para mim: a minha mãe estava grávida; o meu desejo ia concretizar-se mas teria de esperar até ao verão; faltavam seis meses.

A barriga da minha mãe era cada vez maior. Eu fazia-lhe mimos na barriga e deitava-me ao colo dela; queria falar com a minha irmã. Contava-lhe histórias, dizia-lhe que já gostava muito dela e "explicava-lhe" todos os jogos e brincadeiras que iríamos fazer juntas.

Chegou o dia há muito esperado; a minha irmã ia nascer! O meu contentamento e ansiedade eram inexplicáveis.

Ao entrar no quarto do hospital, vi-a ao colo da minha mãe a mamar e fiquei a observá-la. Era mais linda do que a tinha imaginado, era perfeita!

Quando pude, peguei-a ao colo com todo o cuidado, dei-lhe beijos e mimos…

Ansiava pelo momento de a pôr no baloiço e no escorrega no jardim, ensiná-la a jogar à bola, às escondidas… Tinha que esperar mais algum tempo até que aprendesse a caminhar.

Esse dia nunca chegou; a minha irmã sofre de uma doença congénita rara, – Atrofia Neuromuscular-Espinal - para a qual ainda não há cura.

Naquele dia em que os meus pais me explicaram o problema da minha irmã, eu não podia entender. Nem queria! Eu apenas queria ter direito a brincar com ela. Sim, é de direito que se tratava!

O tempo foi passando e fui aprendendo a aceitar a situação e a arranjar formas diferentes de interagir com ela.

Ela cresceu linda e excecionalmente inteligente. A sua personalidade é inexplicável: alegre, confiante, positiva.

Hoje, as suas capacidades cognitivas, a sua imaginação e força de vontade não têm limites e não conhecem barreiras...

Nestes quase quinze anos, assisti e acompanhei momentos de dor e revolta mas, sobretudo, momentos memoráveis de força e coragem!

O motivo que me fez escrever este texto foi o facto de AMAR alguém que, por ser diferente é ainda mais especial.

Sinto-me inspirada por ela em múltiplos momentos e é por ela e para ela que criei este texto; é um testemunho mas é sobretudo um tributo e uma homenagem à pessoa que ela é.

Porque ela existe, sou uma pessoa melhor!

Texto enviado pela participante Raquel Bastião, 19 anos, de Aveiro.

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