20 histórias de um dia que mudou o Mundo

Anónimos e famosos assistiram ao colapso das Torres Gémeas e participaram no resgate possível das vítimas. Escolhemos duas dezenas de exemplos nos vinte anos dos atentados do 11 de Setembro

10 de setembro de 2021 às 20:13
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A identidade desconhecida de "O Homem em Queda"

Richard Drew estava em reportagem quando se apercebeu que um avião tinha colidido com as Torres Gémeas do World Trade Center. O fotógrafo da Associated Press dirigiu-se logo para o local e começou a fotografar: o caos, pessoas feridas e o intenso fumo que saía dos edifícios. Sem saber, viria a captar uma das fotografias mais icónicas do 11 de Setembro. A imagem mostra um homem a saltar de um dos andares superiores da torre norte, percorrendo o vazio de cabeça para baixo.

"Não é como outras fotografias violentas de outros desastres: não há sangue, não há ninguém a ser alvejado, mas as pessoas reagiram à imagem de uma maneira...como se se relacionassem com a fotografia, como se estivessem na mesma situação e tivessem que tomar uma decisão como a que o homem na fotografia tomou", revelou o fotógrafo numa entrevista à revista Time.
Richard acredita que aquela imagem que captou é uma das únicas fotografias daquele dia que mostra alguém a morrer.

A fotografia foi publicada no dia seguinte em vários jornais, incluindo no The New York Times. Em muitos casos os leitores acusaram os jornais de aproveitamento do momento, como revela a Esquire. Após ter desaparecido dos registos, a imagem viria a reaparecer em 2003.
A identidade do designado "Homem em Queda" permanece uma incógnita 20 anos após os atentados, uma vez que o corpo nunca foi recuperado.

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Homem em queda, torres gémeas
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"Eram corpos a cair a cada 40 a 50 segundos"

Aquele que começou por ser um dia normal de trabalho para os irmãos Naudet, rapidamente se transformou num cenário apocalíptico que viria a mudar para sempre a história mundial.

Estava a gravar um plano clichê do World Trade Center com os bombeiros no meio da rua, quando às 8h46 ouvimos um ruído muito alto", disse Jules Naudet ao Daily News. "Tive o reflexo de virar a câmara e foi aí que filmei aquela imagem horrível do primeiro avião a embater na torre", acrescentou.

Gedeon e Jules estavam a acompanhar os bombeiros numa ocorrência de suspeita de fuga de gás no centro de Nova Iorque quando tudo aconteceu.

Ao dirigir-se à entrada da torre Norte com o chefe dos bombeiros, Jules recorda um barulho ensurdecedor que ecoava como se pedaços do prédio estivessem a cair. "Eu ouvi o bombeiro atrás de mim a dizer 'ok, há suicidas’, e foi quando percebi que eram corpos a cair a cada 40 a 50 segundos ", disse um dos irmãos em entrevista à BBC.

Jules esteve cerca de uma hora e vinte a filmar dentro da Torre Norte. Só horas depois é que conseguiu reencontrar o irmão Gedeon que tinha ficado com a equipa dos bombeiros.

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"Vejo água. Vejo prédios. Estamos a voar baixo, a voar muito baixo"

As últimas palavras de Madeline Amy Sweeney e Betty Ann Ong ficaram marcadas na história do 11 de Setembro. As duas hospedeiras de bordo da American Airlines foram as primeiras a alertar os oficiais em terra que algo de errado se passava com o primeiro avião a atingir as Torres Gémeas.

"Estou no voo 11. Este avião foi sequestrado", disse Betty numa chamada para o serviço de voos da companhia aérea.

Também Amy deu o alerta para uma emergência a bordo e explicou que um passageiro e dois comissários de bordo tinham sido esfaqueados. A mulher referiu ainda que os terroristas lhe mostraram uma bomba e forneceu os lugares de cada um, destacando que se tratavam de descendentes do Médio Oriente e que um deles falava inglês.

Ambas perceberam que o cockpit tinha sido ocupado pelos terroristas e que tinha sido usado gás pimenta na classe executiva para dificultar a respiração aos passageiros.

"Vejo água. Vejo prédios. Estamos a voar baixo, a voar muito baixo. Oh meu Deus", disse Sweeney depois de respirar fundo". A chamada caiu e poucos minutos depois o primeiro avião destruiu a torre norte.

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Hospedeiras 11 setembro
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Hospedeiras 11 setembro

"Vou tirar o meu pessoal daqui"

Rick Rescorla estava a trabalhar no 44º andar na torre dois do World Trade Center, enquanto vice-presidente de segurança da Morgan Stanley Dean Witter & Co. Quando o fumo começou a espalhar-se no céu, vindo da primeira torre, atingida pelo voo 11, Rescorla recebe a ordem para manter a sua equipa nas mesas de trabalho. A resposta não tardou: "Vai-te lixar. Tudo acima do lugar atingido pelo avião vai desabar e levar todo o edifício atrás. Vou tirar o meu pessoal daqui!".

A evacuação da segunda torre começou antes do segundo avião, o voo 175, atingir às 9h03 a Torre Sul do World Trade Center, entre o 77.º e o 85.º andares. Rescorla foi responsável por salvar mais de 2700 pessoas. De megafone na mão, pelo caminho seguia a cantar "God Bless America". No último telefone para a mulher, o segurança pediu-lhe para parar de chorar. "Preciso de tirar estas pessoas daqui em segurança. Se algo me aconter quero que saibas que nunca fui tão feliz. Tu és a minha vida".Rescorla foi visto uma última vez a regressar às torres para resgatar mais pessoas. O seu corpo nunca foi encontrado. 

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A dupla que carregou uma mulher em cadeira de rodas 68 andares

Michael Benfante e John Cerqueira trabalhavam diariamente no 81º andar da Torre Sul do World Trade Center. O dia da tragédia começou com uma reunião para tomar decisões sobre o departamento de vendas da empresa, mas ao fim de poucos minutos o primeiro avião colidiu com a estrutura, apenas quatro andares acima do deles.

As chamas e o fumo invadiram o edifício de imediato. Perante o cenário de fumo intenso que impedia a visão o instinto de sobrevivência dos dois homens fê-los correr escadas abaixo. Ao chegar ao 68º  andar viram uma mulher de cadeira de rodas.

Benfante e Cerqueira sabiam que aquele percurso não seria possível para aquela mulher. Michael e John pegaram na cadeira de Tina Hansen, de 40 anos, e colocaram-na numa cadeira de segurança disponível no edifício. O percurso até ao piso de saída demorou uma hora no meio de fumo e um prédio a pegar fogo. Durante o caminho vários pensamentos passavam pelas cabeças dos três.

Os dois homens contaram à imprensa internacional que pensaram em desistir e em ligar aos familiares, mas o instinto de sobrevivência mandava-os correr e encontrar a saída do prédio.Os três conseguiram sair do edifício e salvaram-se. Michael Benfante conta que quando chegaram ao exterior não acreditaram no que viram: as torres mais altas do mundo estavam a desabar. 

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A icónica fotografia de James Nachtwey

Quando o primeiro avião embateu no World Trade Center (WTC), James Nachtwey estava em Nova Iorque, cidade onde reside. Ao ver o fumo a partir da janela de casa pensou tratar-se de um acidente. Experiente fotógrafo de guerra, com anos a fio a cobrir os principais conflitos do Mundo, nomeadamente no Afeganistão, rapidamente percebeu que se tratava de um ataque da al-Qaeda.

Com o instinto de quem já fotografou o que de mais infame há na condição humana – e que lhe valeram inúmeros prémios, incluindo um World Press Photo para uma imagem no Ruanda -, Nachtwey foi para a rua e desceu até à zona de Wall Street. Na máquina tinha um rolo de 36 fotos: "A torre desabou enquanto eu fotografava. Era difícil acreditar que estava a ver com meus próprios olhos todas aquelas vigas de aço, de centenas ou milhares de toneladas cada, a voar pelo ar como fósforos", contou à emissora de rádio NPR.

O resultado foi uma notável reportagem fotográfica que quase lhe custou a vida, como em tantas outras que já tinha realizado. Especialmente a iconográfica foto em que capta a queda da torre sul do WTC perigosamente perto da nuvem de destroços, como uma cruz em primeiro plano.

"Eu tirei aquela foto no último fotograma [do rolo de 36 fotos] e tive que parar para mudar de filme", revelou Nachtwey. "Tinha apenas alguns segundos para me proteger de alguns prédios, do outro lado da rua, antes que todos aqueles destroços caíssem sobre mim", descreveu. "Na verdade, nunca superei isso", confessou.

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FOTO: James Nachtwey
Foto James Nachtwey 11 setembro

Dois heróis, 50 salvamentos

O pânico e o desespero apoderaram-se de praticamente todos os que se encontravam na Torre Norte do World Trade Center no momento do embate. No entanto, Frank de Martini e Pablo Ortiz tiveram a frieza para ajudar a salvar dezenas de vidas no meio de toda a destruição.

Estima-se que Frank, gerente de construção que trabalhava para a Autoridade Portuária, e Pablo Ortiz, instrutor de construção da Aurotidade Portuária, tenham conseguido resgatar pelo menos 50 pessoas dos andares cimeiros da torre.

Em vez de procurar sair em segurança, a dupla juntou-se a outros colegas que foram abrindo portas de elevadores, onde se encontravam várias pessoas presas, e direcionando os presentes para as escadas de emergência.

Tanto Frank como Ortiz morreram quando a Torre Norte desabou. O relógio marcava 10h28.

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heróis que salvaram 50
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"Temos de fazer algo": os últimos momentos do voo 93

Eram 8h42, terça-feira, o tráfego tipicamente intenso na manhã de setembro no aeroporto de Newark. Os passageiros embarcaram no voo 93 após um atraso de quarenta minutos. O avião descolava rumo a São Francisco, a bordo 33 passageiros, sete elementos da tripulação e quatro terroristas. Passavam quatro minutos da partida quando, em Washington DC, o voo 11 embateu contra as Torres Gémeas do Trade World Center, o primeiro dos quatro aviões sequestrados a atingir o seu alvo. 

A viagem do voo 93 seguia tranquila, mas, em poucos minutos os terroristas tomavam controlo e da cabine Ziad Samir Jarrah anunciava que havia uma bomba a bordo. Curso revertido a caminho de Washington, como alvos possivelmente a Casa Branca ou o Capitólio.

Munidos como podiam, de talheres e extintores de incêndio nas mãos, os passageiros decidiram lutar. "Temos de fazer algo. Nós podemos esperar pelas autoridades. Temos de ser nós", disse Tom Burnett numa chamada com a mulher. 

O avião despenhou-se às 10h03 num campo em Shanksville, na Pennsylvania. Com receio que os passageiros recuperassem o controlo do avião, os terroristas deram a viagem por terminada, sem conseguir chegar ao destino pretendido. Não houve sobreviventes. 

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Cinco minutos de desespero e um resgate quase impossível

Brian Clark é um dos poucos sobreviventes que trabalhava nos andares cimeiros das Torres Gémeas. Para além de ter conseguido escapar ao desastre, foi o protagonista de um dos resgates mais ‘impossíveis’ daquele dia.

Stanley Praimnath estava no 81º andar quando, através da janela, conseguiu avistar o segundo avião a aproximar-se da mesma. O embate destruidor deixou o homem completamente sem saída e preso nos escombros.

Brian Clark descia a torre entre fumo e destroços quando, ao passar pelo 81º andar, ouviu os pedidos de socorro de Praimnath. Foi conduzido pela sua voz e conseguiu ajudá-lo a sair do meio dos escombros. Os dois homens começaram, assim, a corrida até à saída do prédio.

Os dois referem que a única coisa que viram durante o percurso foi fumo. O desespero para conseguirem abandonar o edifício a tempo levou-os a sair do prédio em pouco mais de cinco minuto.

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Brian Clark

Enfermeira monta triagem e cuida 75 feridos

Patricia Horoho, tenente-coronel e enfermeira do exército, ouviu nos corredores do Pentágono que o World Trade Center tinha sido atingido por dois aviões e percebeu que o próximo alvo podia ser o edifício: "Somos os próximos.

9h37 do dia 11 de setembro: outro avião atinge o quartel-general das forças armadas dos Estados Unidos e mata os 58 passageiros a bordo, seis membros da tripulação e 125 civis e militares que se encontravam em terra.

Patricia Horoho criou uma área de triagem com a ajuda de sobreviventes e socorristas que, corajosamente, iam entrando e saindo do local do acidente para retirar feridos. A enfermeira ficou conhecida por cuidar de 75 pessoas feridas no ataque.

A tenente-coronel destaca que só foi possível com a dedicação de todos os médicos, enfermeiros e até estudantes de medicina que se disponibilizaram a ajudar. "Eles conduziram o mais longe que conseguiram, estacionaram e correram para chegar até lá. Um médico pediatra soube do ataque, fechou o consultório e foi até junto de nós", conta.

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A capela milagre

Não terá sido por milagre mas é ainda hoje inexplicável como é que a Capela de São Paulo, localizada numa esquina da Broadway, a escassos metros do World Trade Center, não sofreu sequer um arranhão com a queda das Torres Gémeas. No meio do caos, a capela foi um oásis que deu abrigo a bombeiros, polícias e outros profissionais que participaram nas operações de socorro no ‘ground zero’. Foi ali que muitos dormiram e se alimentaram. Hoje é justamente museu e memorial.

A capela, que integra a paróquia da Igreja da Trindade, partilha uma particularidade com as torres alvo do atentado de 11 de setembro de 2001: ambos os imóveis já foram, num momento, os mais altos de Nova Iorque. Quando foi construída, em 1766, ainda a cidade norte-americana estava sob domínio britânico, a torre de São Paulo destacava-se. Não havia na cidade edifício tão alto.

Na época, a zona sul de Manhattan estava a crescer e a área portuária a desenvolver-se. A Capela de São Paulo assistiu à expansão da cidade e viu crescer o World Trade Center que também foi o mais alto complexo imobiliário da cidade que nunca dorme.

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A capela milagre

Os heróis de quatro patas que ajudaram no resgate

Estima-se que mais de 300 cães participaram nas missões de busca e resgate do 11 de Setembro. Especializados em missões de salvamento, foram usados para encontrar humanos debaixo dos destroços provocados pela queda das torres.

O cansaço físico e mental não afetava apenas trabalhadores. Também estes "heróis" de quatro patas precisavam de ser estimulados. Para isso, os seus treinadores encenavam descobertas, elevando a moral dos cães, que contaram com acompanhamento de equipas de veterinários. Estes profissionais dedicavam-se a cuidar as patas e limpar os olhos e nariz, devido ao pó acumulado após horas de buscas no meio de pilhas de destroços.

Os cães de busca trabalharam no Ground Zero mais de duas semanas. Na comemoração dos 20 anos do atentado às Torres Gémeas, são homenageados com uma exposição no American Kennel Club’s Museum of the Dog.

Segundo o The New York Times, Bretagne foi o último cão que participou nestas buscas a morrer, em junho de 2016, após mais de uma década a servir o país em operações de resgate, entre as quais no furacão Katrina.

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Bombeiro encontrou corpo do irmão nos escombros

Daniel Foley, bombeiro na Corporação de Nova Iorque encontrou o irmão nos escombros das Torres Gémeas já sem vida.

Thomas Foley, o irmão de Daniel e também bombeiro, foi uma das primeiras pessoas a responder à tragédia que abalou Nova Iorque, nos EUA, a 11 de Setembro de 2001. No entanto, Thomas nunca mais regressou.

Daniel Foley previu o pior quando ao final da noite percebeu que o irmão não regressou a casa. Nessa noite Daniel decidiu juntar-se aos colegas nos trabalhos nos escombros do World Trade Center e prometeu aos pais que iria trazer o irmão até eles.

O Tenente da Corporação de Bombeiros revelou que Daniel encontrou o corpo do irmão nos escombros 11 dias após a tragédia, "por verdadeiro milagre". Após encontrar o corpo, Daniel prometeu que se iria dedicar a recuperar todos os corpos perdidos nos escombros. O homem participou nas buscas até que as mesmas terminaram oficialmente em maio de 2002. O papel de Foley foi considerado fundamental tendo recebido três medalhas pelo trabalho que fez nos destroços das Torres Gémeas.

Daniel Foley morreu em fevereiro de 2021 vítima de um cancro no pâncreas. O antigo bombeiro faz parte de um conjunto de pessoas que sofreram doenças relacionadas com o ar tóxico do 11 de Setembro.

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Ator Steve Buscemi ajudou nas buscas por sobreviventes

No meio do caos que se instalou em Nova Iorque, foram muitos os que se disponibilizaram para ajudar nas buscas por sobreviventes. Entre eles esteve o ator Steve Buscemi, conhecido do público por interpretar personagens singulares e dar vida a vários gangsters.

O ator, que antes de ascender ao estrelato de Hollywood tinha sido bombeiro na companhia n.º 55 do Departamento de Bombeiros de Nova Iorque (FDNY), entre 1980 e 1984, regressou ao batalhão e, durante vários dias, fez turnos de 12 horas para encontrar sobreviventes nos escombros do World Trade Center.

A corporação, que atuava na zona de Little Italy, em Manhattan, perdeu quatro operacionais na tragédia. Em 2013, a colaboração de Buscemi foi recordada na página de Facebook "Brotherhood of Fire", que sublinhou a discrição com que o ator participou nas operações, recusando entrevistas e sendo raras as fotografias em que aparece. "Ele não estava lá pela publicidade", destaca o comandante Jonathan Lusk no texto partilhado na rede social.  Buscemi só falou abertamente sobre esta experiência em 2014, no documentário "A Good Job: Stories of the FDNY", que protagoniza e coproduz.

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O misterioso ‘homem de bandana vermelha’

No dia 11 de setembro muitos demonstraram ter uma coragem extraordinária e arriscaram as próprias vidas para salvar outras pessoas que se encontravam dentro das torres gémeas.

Quando o sequestrado voo 175 atingiu a torre Sul do World Trade Center, em Nova Iorque, as pessoas do 78.º andar amontavam-se, assustadas e confusas acreditando que não havia como escapar àquele inferno. 

Foi então que um misterioso homem, sem camisa e com uma bandana vermelha, que lhe cobria o nariz e a boca, apareceu. Por entre os destroços, guiou as pessoas até à única escada que estava aberta e por onde era possível fugir. Com uma voz sempre calma e com extintores de incêndio para dissipar o fumo que se acumulava conseguiu levá-los para um lugar seguro. Até o prédio desabar em chamas, o homem salvou dezenas de pessoas. 

Meses depois do 11 de setembro começaram a surgir histórias sobre o misterioso homem de bandana vermelha. Com apenas 24 anos, Welles Crowther, que na altura era bombeiro, foi um dos grandes heróis daquele terrível dia no World Trade Center. 

Quando Alison Crowther leu um artigo no New York Times sobre um homem de lenço vermelho soube imediatamente de que se tratava do seu filho, que desde pequeno andava com uma bandana daquela cor. Enviou fotografias aos sobreviventes que lhe confirmaram aquilo que já sabia. A bandana vermelha de Welles está em exibição no Memorial & Museu Nacional do 11 de setembro e Honor Crowther Fagan, escreveu um livro inspirado na história corajosa do irmão "The Man in the Red Bandanna".

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Um email viral que conta um milagre

Adam Mayblum era um dos muitos trabalhadores naquela manhã na Torre Norte do Word Trade Center. Enquanto trabalhava, no 87.º andar do edifício, o voo 11 da American Airlines colidiu pouco acima do local onde estava.

Entre o pânico de saber saber se conseguiria sair dali vivo e o desespero enquanto descia cada lance de escadas, Adam Mayblum tomou a decisão que eternizou a sua história. Ao mesmo tempo que via dezenas de bombeiros na direção oposta - que tentavam resgatar outros trabalhadores -, decidiu escrever um email para familiares e amigos onde descreveu toda a experiência que estava a viver.

As palavras de Mayblum rapidamente se tornaram virais e chegaram aos quatro cantos do Mundo.

"Não sabíamos que era um avião. O prédio balançou violentamente como se fosse um terramoto. As pessoas gritavam. Quando olhei pela janela parecia que o edifício se movia entre três a seis metros em cada direção", podia ler-se.

Mas o momento mais dramático viveu-o já fora do edifício: "Uma rapariga numa bicicleta ofereceu-nos um pouco de água. Assim que ela tirou a tampa da garrafa, ouvimos um estrondo. Olhámos para cima e o nosso prédio, a Torre 1, tinha desabado".

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Imprevistos que salvaram vidas

Greer Epstein raramente fazia pausas no trabalho. Como diretora executiva da empresa de serviços financeiros Morgan Stanley, a mulher nunca tinha tempo para sair do escritório no 67.º andar. Ainda assim, no dia 11 de setembro foi desafiada por um colega para ir fumar e decidiu aceitar, ao contrário do que costumava fazer. Quando estava elevador a descer sentiu um solavanco, mas não ligou. Ao sair do edifício reparou que as pessoas estavam petrificadas e com os olhos no céu. Foi nesse exato momento que viu um avião passar diretamente pelo seu escritório na Torre Sul. Um cigarro salvou-lhe a vida e Greer confessou à CNN que a partir desse dia a sua mãe nunca mais reclamou com ela por fumar.

O tio de Daniel Belardinelli, William Cashman, tinha uma viagem planeada para visitar o Parque Nacional Yosemite, que impressiona com as quedas de água, e convidou-o. Uma semana antes, Daniel desistiu da viagem e disse ao tio que tinha demasiadas obrigações no trabalho e por isso não conseguiria ir. No dia 11 de setembro, William nunca chegou a Yosemite, tendo morrido com os passageiros e toda a equipa do voo 93 que se despenhou. Daniel acredita que o fatídico dia e a perda do tio ainda hoje mudam a forma como se comporta.

A hospedeira de bordo Elise O’Kane queria trabalhar na sua rota habitual entre Boston e Los Angeles durante aquele mês de setembro. A mulher conseguiu mudar todas as viagens do mês, como pretendia, menos uma: a de dia 11. Na véspera, conseguiu entrar no sistema, mas o prazo para alteração de voos tinha expirado há apenas um minuto. Numa viagem para o aeroporto percebeu que o seu colega Robert Fangamn iria viajar no voo 175, aquele que queria. Nessa deslocação, este e outros amigos da mulher morreram. "Naquele dia, para mim, o mundo mudou", disse Elise à CNN.

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Christine a vítima mais nova da tragédia

Tinha apenas dois anos e meio de idade. Christine Lee Hanson foi a mais nova das vítimas da tragédia que assolou os EUA naquele fatídico dia. No total, oito crianças perderam a vida. Christine e os pais seguiam no voo 175 da United, que tinha saído do Aeroporto Internacional Logan em Boston, Massachusett, e tinha como destino Los Angeles.

A menina e os pais preparavam-se para visitar a família e depois seguir até à Disneyland. Mas o pior aconteceu. Aquele seria um dos aviões sequestrados pelos terroristas e que nunca chegou ao seu destino.

Duas outras crianças acabaram por morrer no mesmo voo. O 175 da United embateu contra a Torre Sul do World Trade Center.

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40% das vítimas nunca apareceram

1113 vítimas dos ataques do 11 de setembro às Torres Gémeas nunca apareceram. O valor corresponde a 40% das pessoas que perderam a vida na manhã e dias seguintes aos atentados – foram 2753 no total.

Algumas famílias compararam a perda de ente queridos nos ataques à de grandes desastres, como foi o caso do tsunami que varreu o sudeste asiático em 2004.

As famílias cujos corpos foram encontrados conseguiram encerrar o processo de luto. No entanto, muitos foram aqueles que arranjaram maneiras de superar a perda sem que de facto tivessem um corpo para realizar as cerimónias fúnebres.

É o caso da família de Lawrence Stack, chefe dos Bombeiros de Nova Iorque que perdeu a vida nas Torres Gémeas. Graças a uma doação de sangue para uma campanha de medula óssea que pretendia ajudar uma criança com cancro, a família conseguiu recuperar o frasco de forma a realizar um funeral, mesmo sem que o corpo tivesse sido entregue.

Outra história dada a conhecer pela NBC News dá conta de familiares que encontraram paz no depósito colocado no World Trade Center, ao lado do Memorial ao 11 de setembro. Neste espaço encontram-se restos mortais não reivindicados, numa espécie de "sala de reflexão", um espaço reservado a famílias que podem encontrar ali uma forma de aliviar a dor da perda e de nunca terem tido a possibilidade de ter um corpo.Em alguns casos, os familiares mostraram-se revoltados com um espaço que, dizem, trazer pouca espiritualidade.

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Memorial é espaço de união

Serve de homenagem às vítimas do atentado e carrega um peso simbólico através do design e tipo de construção.

O Memorial do 11 de Setembro foi inaugurado em 2011. Onde se encontravam as duas torres, estão agora duas piscinas gigantes, com água a correr ao longo de nove metros. O som da água e as árvores em redor – símbolo de vida e renascimento -, atenuam o barulho das ruas.

Os nomes das 2 983 pessoas que perderam a vida no atentado estão inscritos no parapeito, bem como seis vítimas de um ataque à Torre Norte, em 1993. Não foram inscritos de forma aleatória e estão rodeados pelos nomes dos colegas de trabalho mais próximos.

No site do memorial, pode ler-se que foi concebido para ser um espaço de reflexão e traduzir a união que a tragédia trouxe ao país. De facto, a água que cai nas piscinas junta-se no centro das mesmas, como sinónimo de espaço comum. Existe outra queda de água, cujo fundo não se consegue deslumbrar. É a exemplificação do vazio que a perda de milhares de vidas causou.

No Museu podem-se encontrar alguns objetos com elevado simbolismo que foram encontrados nos destroços.

Os sapatos de Linda Raisch-Lopez, uma sobrevivente do ataque, são apenas um exemplo do que se podem encontrar numa visita ao local. A mulher começou a fugir do 97.º andar da Torre Sul depois de ver a Torre Norte em chamas. Tirou os sapatos e levou-os na mão para ser mais fácil descer as escadas. Ficou com os pés ensanguentados, mas conseguiu sobreviver.

A família de uma das vítimas do atentado doou também o cartão de identificação, danificado com arranhões profundos e uma grande camada de poeira.

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Textos | Adriana Alves, Alfredo Leite, André Cruz, Catarina Cruz, Cátia Pereira de Sá, Daniela Vilar Santos, Inês Capucho, Iúri Martins e Marta Quaresma Ferreira
Fotografias | Reuters e Direitos Reservados

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