Antigos guerrilheiros criam comissão de gestão para conduzir moçambicana Renamo
Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 9 de outubro de 2024.
Um grupo de antigos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) criou uma comissão de gestão do partido, rejeitando a liderança de Ossufo Momade, e prometeu a realização de um congresso eleitoral, decisões que a direção não reconhece.
"A comissão vai durar o tempo que durar, não tem fim. Tem apenas o princípio, que é este. Só terá o fim quando criarmos condições para a realização do congresso", anunciou Edgar Silva, porta-voz deste grupo de dezenas de desmobilizados, que esteve reunido desde sábado no Chimoio, centro do país.
Explicou que a comissão de gestão, que o próprio integra, é constituída por três elementos, em representação das zonas norte, centro e sul do país.
"Vamos criar as condições para que um Conselho Nacional seja realizado e indique uma data para um congresso extraordinário, onde pretendemos legitimar um presidente por meio de votação, um presidente que irá dirigir os destinos deste partido", acrescentou Edgar Silva.
"Muito compadrio, muito nepotismo, muita arrogância nas atitudes do presidente do Renamo", acusou ainda o antigo guerrilheiro, sobre a liderança de Ossufo Momade.
Contactado pela Lusa, o porta-voz da Renamo, Marcial Macome, afirmou que o partido "desconhece" qualquer decisão sobre esta autodenominada comissão de gestão, "distanciando-se de qualquer pronunciamento" deste grupo de antigos guerrilheiros, que nos últimos meses contestam a liderança de Ossufo Momade, inclusive com o encerramento à força de várias sedes e delegações.
"Não sabemos quem é essa comissão de gestão, que legitimidade tem ou sequer o que pretendem gerir", acrescentou o porta-voz, garantindo que os desmobilizados da Renamo têm uma estrutura própria - Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (Acolde) -, que nada tem a ver com este grupo, afirmando que o partido mantém as suas "estruturas conhecidas".
Macome avançou à Lusa que a comissão política da Renamo vai reunir em 2 de outubro e que só depois o partido vai pronunciar-se sobre a realização do próximo Conselho Nacional, que estes antigos guerrilheiros também exigem.
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 9 de outubro de 2024, passando de 60 deputados, nas legislativas de 2019, para 28. Desde então, a contestação ao atual líder do partido intensificou-se, com ex-guerrilheiros a encerrarem delegações do partido, com exigências de realização de um Conselho Nacional do partido, obrigando à intervenção da polícia, nomeadamente na sede nacional, em Maputo, com mais de meia centena de detidos.
O partido chegou a anunciar a realização do primeiro Conselho Nacional de 2025 - estatutariamente tem de organizar dois por ano - em 7 e 8 de março, que foi depois adiado, sem nova data. A direção da Renamo já reconheceu a obrigatoriedade de realizar dois conselhos nacionais por ano, mas afirma que não é obrigatório que aconteçam em semestres diferentes.
Momade, cuja demissão tem sido pedida, é também acusado de alegada "má gestão", falta de pagamento de pensões e subsídios e de "incompetência total" face à crise na Renamo.
Ossufo Momade assumiu a presidência da Renamo em janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama (1953 --2018), e foi reeleito para o cargo em maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente.
Momade foi candidato presidencial nas eleições de outubro de 2024, obtendo 6% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido, principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições em 1994.
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente, Joaquim Chissano, e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.
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