Bolsonaro chama vagabundo a senador que investiga erros do governo no combate à Covid-19
"Há sempre algum picareta, algum vagabundo, a querer atrapalhar o trabalho daqueles que produzem", refere o presidente do Brasil.
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, insultou esta quinta-feira o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga erros e omissões do governo no combate à pandemia da Covid-19, senador Renan Calheiros. O presidente chamou Renan de "vagabundo" e de "picareta" num discurso em Maceió, capital do estado de Alagoas, cujo governador, que se recusou a comparecer à cerimónia, é Renan Filho, filho do senador.
"Se esse indivíduo quer fazer um show para me derrubar, não o conseguirá. Apenas Deus me tira da cadeira presidencial. Há sempre algum picareta, algum vagabundo, a querer atrapalhar o trabalho daqueles que produzem. Se Jesus teve um traidor, nós temos um vagabundo inquirindo pessoas de bem. É um crime o que tem vindo a acontecer nessa CPI", disparou Bolsonaro, sem citar nominalmente Renan Calheiros mas incentivando e comandando a multidão a gritar em coro "Renan, vagabundo".
Em Maceió, onde foi inaugurar um viaduto que, na verdade, foi inaugurado no ano passado pelo governador Renan Filho, Jair Bolsonaro repetiu e endossou o mesmo insulto feito um dia antes pelo seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro. Durante uma tensa sessão da comissão de inquérito em que estava a ser interrogado o ex-secretário de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten, Flávio, percebendo que o aliado do pai estava em apuros e prestes a receber ordem de prisão por mentir repetidamente para blindar Bolsonaro, interrompeu a audiência mesmo sem fazer parte da CPI.
De forma rude, Flávio Bolsonaro inflamou os ânimos ainda mais ao afirmar não ser aceitável que "uma pessoa de bem", referindo-se a Wajngarten, fosse ameaçada de prisão por "um vagabundo como o Renan Calheiros". No meio da enorme confusão que se gerou, Calheiros ripostou, gritando que vagabundo era Flávio, que "rouba os próprios funcionários, referindo-se a acusações do Ministério Público de que o filho mais velho de Jair Bolsonaro obrigava os funcionários do seu gabinete a devolverem a maior parte dos ordenados para um "saco azul" de Flávio, com que este, segundo os procuradores, comprou imóveis de alto padrão.
Estando apenas na segunda semana de trabalhos, a chamada CPI da Covid já chegou muito perto de Jair Bolsonaro. Vários depoimentos feitos até agora deixaram claro que as omissões e erros do governo na gestão da pandemia não foram apenas fruto de incompetência e sim uma postura intencional de Bolsonaro, um negacionista convicto, e que contribuiram claramente para o Brasil atingir num ano mais de 15 milhões de brasileiros infetados, 428 mil dos quais morreram.
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