Bolsonaro quer reunir uma multidão hoje na Avenida Paulista para tentar evitar prisão
Manifestação vem no seguimento das operações da Polícia Federal à casa do ex-presidente do Brasil.
Numa jogada que analistas avaliam ser um ato de desespero e ter muito mais probalidades de dar errado do que de dar certo, o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro vai tentar reunir na tarde deste domingo (a partir das 15h00 locais, 18h00 em Lisboa) na Avenida Paulista, coração financeiro da cidade de São Paulo, uma multidão que deixe claro o enorme apoio popular que ele acredita ainda ter. O ato deste domingo foi convocado há dias por Bolsonaro, incentivado por pastores evangélicos ligados à extrema-direita, para dar um recado ao Supremo Tribunal Federal, STF, de que possui um grande apoio popular e que uma eventual decretação da sua prisão provocará uma comoção social de consequências imprevisíveis.
Bolsonaro tomou a decisão de pedir o apoio público dos seus seguidores após ele e um dos filhos, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, seu principal estrategista e mentor político, serem alvos de duas operações da Polícia Federal e terem as casas reviradas por agentes federais, que lhes apreenderam documentos, telemóveis e equipamentos informáticos. As duas operações, desencadeadas com poucos dias de diferença uma da outra no início deste mês de Fevereiro, investigam a participação do antigo presidente, de Carlos, vários generais, ex-ministros e ex-assessores num suposto plano para levar a cabo um golpe de Estado em 2022, depois de Bolsonaro ter sido derrotado nas presidenciais desse ano por Lula da Silva.
Há uma euforia generalizada entre apoiantes de Jair Bolsonaro, que acreditam que a manifestação deste domingo na capital paulista pode ser tão grandiosa que faça os juizes do STF pensarem muito bem antes de decretarem uma prisão, mas assessores e conselheiros mais sensatos do antigo governante estão bastante preocupados com o acto.
Bolsonaro, no vídeo de convocação da manifestação deste domingo, pediu aos seguidores para não levarem faixas com ataques ao STF, muito menos ao juiz Alexandre de Moraes, que comanda os processos contra ele naquele tribunal e foi o responsável, em Junho de 2023, pela condenação que o tornou inelegível até 2030, mas há um fundamentado temor de que esse apelo não seja respeitado.
Incentivados ao longo de anos pelo próprio Bolsonaro, os seus seguidores têm no STF o seu pior inimigo e acreditam que os juízes daquele órgão máximo da justiça fazem parte de uma conspiração para impedir o ex-presidente de voltar a ser eleito seja para que cargo for. Além disso, e essa é a maior preocupação do grupo político que cerca Bolsonaro, é que, não obstante ele ter pedido moderação aos seguidores, o político tem um comportamento imprevisível e bastante explosivo, e há o risco de se entusiasmar antes uma grande manifestação de apoio, de se sentir forte e ele mesmo desferir ataques contra as instituições e precipitar acções punitivas.
A Avenida Paulista é um símbolo inesquecível para os bolsonaristas, pois foi numa outra manifestação nessa avenida, em 7 de Setembro de 2021, que Jair Bolsonaro desferiu os ataques mais violentos contra o Supremo Tribunal. Nesse dia, completamente descontrolado e mesmo sendo ainda o chefe de Estado do Brasil, Bolsonaro instigou a população à desobediência civil, exortando aos gritos os seus seguidores a não respeitarem nem cumprirem a partir dali qualquer determinação do STF, e Bolsonaro chegou a chamar Alexandre de Moraes de "vagabundo" e de "canalha".
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt