Brasil envia carta "indignada" aos EUA a cobrar negociação de tarifas

As autoridades brasileiras dizem estar prontas para uma negociação, aceitável para ambos os lados, sobre o comércio bi-lateral.

16 de julho de 2025 às 17:31
Donald Trump Foto: AP
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O governo do Brasil enviou ao governo dos EUA uma carta a cobrar o início de negociações sobre as tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros imposto a semana passada por Donald Trump e expressando viva indignação por essa medida. A carta foi assinada pelo vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, encarregado por Lula da Silva de coordenar a resposta à medida dos EUA, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Mauro Vieira.

“O governo brasileiro manifesta a sua indignação pelo anúncio, feito em 9 de Julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos a partir de 1 de Agosto. A imposição das tarifas terá um impacto muito negativo em importantes sectores de ambas as economias, colocando em risco uma parceria económica historicamente forte e profunda entre os nossos países”, pode ler-se num trecho da missiva.

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A carta do governo brasileiro, divulgada esta quarta-feira, foi enviada um dia antes, terça, e é endereçada ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante comercial norte-americano, Jamieson Greer. Além da indignação pela medida adoptada por Trump, as autoridades brasileiras dizem estar prontas para uma negociação, aceitável para ambos os lados, sobre o comércio bi-lateral.

“Estamos abertos a dialogar, com o objectivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os efeitos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bi-lateral”, disponibiliza-se o governo brasileiro. 

Foi também por carta que Donald Trump anunciou uma semana atrás o pesado aumento de tarifas, alegando um forte défice dos EUA nas relações comerciais com o Brasil, o que não é verdade. Dados dos governos dos dois países mostram que os EUA têm um saldo extremamente favorável nas trocas comerciais com o Brasil, que só nos últimos anos ronda os 90 mil milhões de dólares.

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Em Brasília, há preocupação com o silêncio de Trump e de outras autoridades dos EUA que, ao contrário do que fizeram com outros países, não procuraram o governo de Lula da Silva para negociar após anunciarem o aumento das tarifas. Dias atrás, mostrando que trata o caso brasileiro de forma diferente do de outros países, Trump afirmou que, em algum momento, terá de falar com Lula, mas não agora.

Ao anunciar as pesadas tarifas, o presidente dos EUA deu ao anúncio um cunho também político e ideológico. Como um dos pretextos para as tarifas, Trump citou na carta da semana passada a suposta censura imposta pelo judiciário brasileiro a plataformas digitais norte-americanas, e, acima de tudo, o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro do ex-presidente Jair Bolsonaro, que o norte-americano considera uma acção de caça às bruxas. 

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