Algemados e acorrentados pelos pés: brasileiros deportados dos EUA tratados como criminosos perigosos
Vários passageiros sentiram-se mal durante o voo e denunciaram as desagradáveis condições em que fizeram a viagem.
Os 158 cidadãos brasileiros e de outras nacionalidades deportados pelos EUA para o Brasil num avião militar cheio de problemas foram obrigados a fazer a longa viagem de muitos milhares de quilómetros entre os dois países algemados e com correntes nos pés. Só após um forte clima de tensão, a Polícia Federal conseguiu libertá-los, depois de a aeronave aterrar no Aeroporto Internacional de Manaus, capital do estado do Amazonas, no final do dia de sexta-feira. O ministro da Justiça e Segurança Pública brasileiro, Ricardo Lewandowski, ficou indignado com a situação e considerou que os EUA desrespeitaram os direitos humanos e individuais dos deportados, presos e expulsos dos Estados Unidos depois da ordem de Donald Trump, que tomou posse do seu segundo mandato presidencial na passada segunda-feira, para a deportação de mais de 11 milhões de estrangeiros que vivem no país sem autorização formal de residência.
Foi Lewandowski, antigo juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), quem determinou à Polícia Federal brasileira que interviesse e libertasse as pessoas daquela situação, ao ser informado de que todos, homens e mulheres, estavam algemados e acorrentados e alguns até presos a partes do avião, como se fossem criminosos perigosos. A Polícia Federal, que entrou na aeronave dos EUA quando esta aterrou, com problemas técnicos, na capital do Amazonas, ao ver a indigna situação exigiu aos truculentos militares norte-americanos a libertação imediata de todos os deportados, pessoas que foram presas por terem entrado ilegalmente nos EUA para trabalhar mas que não são criminosas.
Os americanos não aceitaram, queriam manter todos algemados e acorrentados dentro da aeronave até ao final da viagem, previsto para Belo Horizonte, capital do estado brasileiro de Minas Gerais, a 3964 km de Manaus, mesmo sem se saber quando isso seria possível, pois o avião não estava em condições de continuar o voo e não se sabia ao certo quando chegaria outro enviado dos EUA. Houve muita tensão, gritos e discussão entre os militares americanos e os agentes federais brasileiros, mas a Polícia Federal fez valer o facto de estar no seu país e determinou a libertação imediata de todos, 88 cidadãos brasileiros e 70 de outras nacionalidades enviados igualmente para o Brasil ainda não se sabe ao certo porque razão.
Contra vontade dos norte-americanos, que insistiam em manter as pessoas deportadas dentro da aeronave até à chegada de outra, demorasse o tempo que demorasse, os agentes federais brasileiros determinaram que todos os passageiros deixassem o avião, o que só foi possível através de uma rampa de remoção de emergência. No aeroporto, todos receberam alimentação, puderam tomar banho e fazer as suas necessidades, duas coisas que os americanos lhes tinham proibido durante a viagem entre Alexandria, no estado da Virgínia, e Manaus, e receberam colchões para passarem a noite.
Os brasileiros deportados descreveram que o voo foi muito difícil, pois viajaram muitos milhares de quilómetros sem se poderem mover do lugar e sem ar condicionado, o que fez vários deles sentirem-se mal e até uma senhora desmaiar. Por ordem de Ricardo Lewandowski, um avião da Força Aérea Brasileira foi enviado a Manaus para resgatar todos os 158 deportados e levá-los para Belo Horizonte, já que a maioria dos brasileiros é de Minas Gerais, o que deve acontecer ainda na noite deste sábado. (FIM).
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