Crítica política, religião e homenagens marcam desfiles das escolas de samba de São Paulo

Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro em 2018, foi um dos destaques críticos da 2.ª escola de samba a entrar na avenida.

22 de fevereiro de 2020 às 18:53
São Paulo já desfila e samba para receber o Carnaval Foto: Reuters
São Paulo já desfila e samba para receber o Carnaval Foto: Reuters
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São Paulo já desfila e samba para receber o Carnaval Foto: Reuters
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Uma forte crítica social e política, expressões de religiosidade dos brasileiros, a exaltação das origens africanas de muitos e homenagens marcaram a primeira noite de desfiles das escolas de samba de São Paulo, que começou no final da noite desta sexta-feira e só terminou na manhã deste sábado. Apesar do cansaço e da chuva que caiu ao amanhecer, as 30 mil pessoas que lotavam as bancadas do Sanbódromo do Anhembi, na zona norte da capital paulista, manteve-se firme e forte e participou na festa.

A noite começou com a apresentação da Escola de Samba Barroca da Zona Sul, que regressou à primeira divisão dos desfiles de São Paulo depois de 15 anos na divisão secundária, e que levou para a avenida a história de Teresa de Benguela, uma africana levada à força para o Brasil e escravizada no século XVIII e que depois de fugir do seu senhor montou um Quilombo, um grande núcleo de escravos que fugiram e se juntaram na luta contra a escravidão.

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O desfile exaltou a luta das mulheres e as origens e influência da raça negra na formação do Brasil, e teve como um dos destaques e curiosidade o facto de a rainha dos ritmistas ser a empresária branca Renata Spalicci, que, numa situação de preconceito inverso ao habitual, enfrentou a desconfiança pela sua cor e condição social e consolidou-se como um destaque numa área formada maioritariamente por pessoas negras oriundas de comunidades pobres.

Marielle Franco, a vereadora assassinada no Rio de Janeiro em 2018, foi um dos destaques críticos da segunda escola de samba a entrar na avenida, a Tom Maior, que também exaltou a luta das mulheres e dos negros. Com um enredo político, a Tom Maior reproduziu no sambódromo episódios de brutalidade levados a cabo pela polícia, realçando o sofrimento das mães que perderam filhos nesses excessos policiais.

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Apesar de ter também levado para o Anhembi a crítica social, a terceira escola a desfilar, a Dragões da Real, vice-campeã do ano passado, amenizou um pouco o clima e fez um desfile mais alegre falando sobre a felicidade e as coisas que deixam as pessoas felizes e homenageou os "Doutores da Alegria", voluntários que visitam hospitais e confortam pessoas internadas, principalmente crianças. A escola levou para a pista acrobatas, dançarinas de dança do varão, carros ultracoloridos com lâmpadas e inúmeras brincadeiras, como escorregas.

A fé deu o tom à quarta escola a desfilar, a Mancha Verde, campeã do ano passado (cuja raínha dos ritmistas, Viviane Araújo, voltou a provocar euforia nas arquibancadas), que falou sobre a vida e o legado de Jesus Cristo, apresentando na avenida em pleno Carnaval até um presépio, enormes representações do filho de Deus e uma faixa onde se lia o lema da escola, "Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem". Numa crítica ao fanatismo religioso, a Mancha levou para o sambódromo uma ala intitulada "Meninos vestem azul, meninas vestem rosa", uma frase proferida há alguns meses pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, a pastora evangélica radical Damares Alves, com a qual ela pretendeu rejeitar qualquer tipo de diversidade.

Mais três escolas de samba desfilaram nesta primeira noite, a Académicos do Tatuapé, que exaltou a região saloia de Atibaia, a 90 km de São Paulo, famosa pela produção de frutas, principalmente morango, a Império da Casa Verde, que homenageou o Líbano e a forte comunidade libanesa radicada em São Paulo, e, finalmente, a X-9 Paulistana, que desenvolveu um animado enredo sobre batuques e sons do Brasil, com os seus componentes desfilando fantasiados de instrumentos. As outras sete escolas de samba do grupo principal de São Paulo desfilam na madrugada deste domingo e as do Rio de Janeiro desfilam de domingo para segunda e de segunda para terça.

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