Filho de Escobar diz que Pablo da TV é menos cruel que o real

Na série 'Narcos', Pablo Escobar é um homem sem escrúpulos. Mas vive rodeado de luxo, sempre com mulheres à sua volta, e a saltar entre mansões e propriedades que mais parecem hotéis de cinco estrelas. 

O filho de Escobar, que na série americana da Netflix aparece representado como uma criança, conta ao El País que a realidade é bem mais dura que a ficção e aponta dezenas de erros factuais à série, cuja segunda temporada estreou há duas semanas.

Sebastián Marroquín vive hoje na Argentina, depois de ter mudado o nome de batismo, Juan Pablo. O filho mais velho do traficante sublinha as diferenças entre a ficção e a realidade. "A série está cheia de erros. Para começar, eu não era uma criança. Na série pareço o Benjamin Button, cada vez sou mais novo, parece que tinha oito anos. Mas tinha 16 quando o meu pai morreu. Já percebi tudo o que se passava. Ele sempre me contou que era um bandido, um 'narco'. Víamos televisão e não lhe tremia a voz ao dizer-me: essa bomba fui eu que a pus. Discutíamos muito".

O descendente do mais famoso narcotraficante colombiano avisa para o perigo da mensagem que diz ser veiculada pela série. Acusa o pai - interpretado na televisão pelo ator brasileiro Wagner Moura (o protagonista de 'Tropa de Elite')  - de ser responsável pela morte de mais de três mil pessoas. 

"O meu pai era muito mais cruel do que a série mostra. Submeteu um país com o terror. Há que tratar esta história com responsabilidade. Há milhares de vítimas e um país que merece respeito. Estão a inculcar uma cultura em que parece que ser traficante é 'cool'. Escrevem-me jovens de todo o mundo que me dizem que querem ser 'narcos' e pedem-me ajuda. Escrevem-me como se eu vendesse bilhetes de entrada nesse mundo", conta Sebastián ao El País.

Aos 39 anos, Sebastián é autor de vários livros sobre o seu pai. Não aceita que a série retrate um homem sempre rodeado de mulheres e luxo, quando andou a fugir de esconderijos banais com o pai. "Chegávamos a comprar uma casa num dia e a fugir no dia seguinte. Viajávamos de olhos vendados, porque o meu pai temia que nos torturassem para revela ronde ele estava se fôssemos capturados.

Traça o retrato de um homem só, que morreu sozinho, traído por todos, até pela própria mãe - que no filme é retratada como um apoio incondicional de Pablo. Sebastián diz que ele próprio, a mãe e os irmãos só escaparam a ser executados pelo cartel de Cali ao entregarem toda a fortuna e bens que o pai lhes deixou ao grupo rival. 

Partiram para a Argentina e tiveram de começar tudo de novo.