Mineração de ouro ilegal em terras indígenas na Amazónia cresceu 787% nos governos Temer e Bolsonaro

Em Roraima, os garimpeiros invadiram a reserva dos Yanomami, a maior do Brasil, com uma área igual à de Portugal Continental.

12 de fevereiro de 2023 às 16:12
Amazónia Foto: Reuters
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O garimpo ilegal de ouro em reservas indígenas de estados da Amazónia disparou 787% nos últimos seis anos, que compreendem os dois anos de governo do ex-presidente Michel Temer e os quatro do ex-presidente Jair Bolsonaro. O alarmante dado foi divulgado agora pelo INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que monitoriza a região Amazónica em tempo real.

Entre os anos de 2016 (quando o presidente era Michel Temer) e 2022 (último ano de presidência de Jair Bolsonaro), mostra o relatório do INPE, houve uma verdadeira invasão de garimpeiros a territórios indígenas riquíssimos em ouro nos estados de Roraima e do Pará, os dois mais afectados, primeiro sob a passividade de Temer e, depois, com o incentivo de Bolsonaro. Em Roraima, os garimpeiros invadiram a reserva dos Yanomami, a maior do Brasil, com uma área igual à de Portugal Continental, e no Pará invadiram os territórios dos povos Sai-Cinza, Munduruku, Baú, Kayapó, Apyterewa e Trincheira-Bacajá.

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Ainda de acordo com o INPE, que através do programa Deter deteta em tempo real o desflorestamento de áreas iguais ou superiores a três hectares, em 2016, quando Temer assumiu o resto do mandato da presidente destituída Dilma Rousseff, a área de garimpo ilegal em terras indígenas nesses dois estados era de 12,87 KM2. No final do governo de Jair Bolsonaro, que chegou a visitar garimpos ilegais nas terras dos Yanomami mas se recusou a falar com as lideranças indígenas, a área de prospeção ilegal de ouro nesses dois estados tinha pulado para 114,26 KM2.

Somente na reserva Yanomami, que desde a semana passada está a ser alvo de uma grande operação da polícia e das Forças Armadas para expulsar garimpeiros, até há dias estes eram estimados em mais de 20 mil, quase tantos invasores quanto o total da população indígena, estimada em 30 mil. Isso sem contar os outros não índios que permaneciam até dias atrás na reserva, como centenas de prostitutas, cozinheiras, lavadeiras, seguranças fortemente armados e outras pessoas que foram para os garimpos dar sustentação aos homens que procuram ouro.

A consequência dessa invasão foi uma enorme devastação ambiental, com a derrubada de vastas áreas de floresta, a poluição dos rios com mercúrio e outras substâncias altamente tóxicas usadas no garimpo, e o aprisionamento dos indígenas, reféns nas suas próprias aldeias, cercadas por invasores, sucedendo-se relatos de assassínios dos que resistiram, violações sexuais de crianças e adolescentes e escravização de indígenas para trabalharem de forma forçada no garimpo. O impacto negativo no povo Yanomami foi tão forte que dos 30 mil indígenas estimados, pelo menos 14 mil estão doentes, mais de mil tiveram de ser resgatados por helicópteros no meio da mata para hospitais em Boa Vista, a capital de Roraima, e o estado de debilidade devido à fome e doenças impede muitos indígenas até de ficarem em pé para serem pesados pelas equipas de ajuda humanitária enviadas pelo governo central.

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