Hacker que levou à libertação de Lula da Silva da cadeia é condenado a 20 anos de prisão
Walter Delgatti Neto ficou conhecido como "Hacker da Vaza Jato".
O hacker brasileiro Walter Delgatti Neto, conhecido como "Hacker da Vaza Jato" por anos atrás ter revelado mensagens trocadas entre membros da Operação Lava Jato que acabaram por levar à libertação da cadeia do hoje presidente Lula da Silva, foi condenado a 20 anos e um mês devido a essa ação. Delgatti atualmente está preso preventivamente mas por outra acusação, a de ter invadido o site do CNJ, Conselho Nacional de Justiça, que tutela todos os órgãos da justiça brasileira.
Em 2019, Delgatti invadiu os telemóveis de dezenas de autoridades ligadas à operação anti-corrupção Lava Jato, entre elas procuradores e promotores do Ministério Público Federal, inspetores da Polícia Federal e o do próprio chefe da operação, o antigo juiz Sérgio Moro, que em 2017 tinha condenado Lula à prisão mas nesse ano já tinha abandonado a magistratura e era ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro. O vazamento de conversas e mensagens revelou que Moro e o então procurador-chefe da operação, Deltan Dallagnol, combinavam ações e forjavam provas para incriminar e condenar empresários e políticos suspeitos, entre eles Lula da Silva, o que é considerado crime pela legislação do país.
Com base nessas mensagens vazadas por Delgatti e fartamente reproduzidas na imprensa, o Supremo Tribunal Federal anulou os processos conduzidos por Sérgio Moro no âmbito da Lava Jato, considerando-o parcial e incompetente para julgar os casos. Com as suas sentenças anuladas por essa decisão, Lula, que já estava preso no sul do Brasil há 580 dias, foi libertado, teve os seus direitos políticos restabelecidos e candidatou-se novamente à presidência do Brasil nas eleições de Outubro do ano passado, sendo eleito para o seu terceiro mandato.
Agora, quatro anos após o escândalo da "Vaza Jato", o juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10.ª Vara Federal de Brasília, considerou Delgatti culpado de invasão de equipamentos electrónicos, desvio de correspondência de autoridades federais (por ter revelado as mensagens descobertas nos telemóveis) e participação em organização criminosa, por ter tido a ajuda de outras pessoas, condenadas a penas menores. A condenação de Delgatti está a causar bastante polémica, tanto por a pena ser considerada excessiva para um crime sem uso de violência, quanto porque surgiu numa altura em que o hacker, mais uma vez, estava a ser tratado pela imprensa, pela opinião pública e por parte da classe política como uma espécie de herói por ter revelado ações e conversas bastante comprometedoras para o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Semana passada, depondo a uma comissão de inquérito do Congresso que apura ataques à democracia, Delgatti fez declarações bombásticas contra o antigo presidente. Entre elas que Bolsonaro, no ano passado, ano eleitoral, quis contratá-lo para ele forjar uma fraude nas urnas eleitorais eletrónicas e justificar assim uma intervenção do então chefe de Estado na justiça eleitoral, e, ainda, que Bolsonaro o encaminhou para o Ministério da Defesa, onde o hacker diz ter tido reuniões com altos comandos militares de então para desestabilizar o processo eleitoral.
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