Líder catalão pede diálogo com Madrid
Puigdemont quer negociações sob mediação internacional para evitar “separação traumática”.
O líder do governo autonómico da Catalunha, Carles Puigdemont, pediu ontem a abertura de um processo de diálogo "sob mediação internacional" com o governo de Madrid, um dia após anunciar que os catalães "conquistaram o direito à independência" no referendo ilegal de domingo, que ficou marcado pela violenta repressão policial.
"Não pretendemos uma separação traumática. Queremos um novo entendimento com o Estado espanhol", afirmou Puigdemont, que se mostrou determinado em aplicar o resultado do referendo e proclamar a independência unilateral. "O referendo é vinculativo e temos de tomar decisões políticos", frisou, deixando, no entanto, entender que poderá adiar a proclamação se Madrid aceitar dialogar, na condição de as negociações decorrerem sob mediação internacional. "Este não é um problema interno de Espanha, é um problema europeu. A UE deve deixar de olhar para o outro lado", afirmou.
O primeiro-ministro Mariano Rajoy, que convocou o Parlamento para discutir a resposta do Estado ao desafio soberanista da Catalunha, reuniu-se ontem com os líderes dos dois maiores partidos da oposição, PSOE e Cidadãos, que se mostraram unânimes no apoio à defesa da legalidade constitucional. Diferiram, no entanto, na resposta, com o socialista Pedro Sánchez a defender a abertura imediata de um processo de diálogo com Puigdemont e Albert Rivera a defender a ativação do Artigo 155 da Constituição para suspender a autonomia da Catalunha, dissolver o Parlamento Regional e convocar novas eleições. Esta é encarada por Rajoy como uma solução de último recurso, mas ontem o ministro do Interior admitiu que o governo poderá não ter outra hipótese se Puigdemont declarar a independência. "Atuaremos com toda a força da lei. A nossa obrigação é resolver o problema", disse Rafael Catalá.
‘Sim’ esmagador em referendo sem garantias
Números provisórios avançados pelo governo catalão indicam que o ‘Sim’ à independência venceu com 90% dos votos o referendo ilegal de domingo, que foi realizado sem qualquer tipo de garantias ou supervisão imparcial. A afluência às urnas foi de 42%. Puigdemont não revelou quando serão publicados os resultados finais, após os quais o Parlamento tem 48 horas para declarar a independência.
"Violência não pode ser um instrumento político", diz a UE
A Comissão Europeia reiterou ontem que o referendo de domingo foi ilegal e a questão da Catalunha "é um problema interno de Espanha", mas ressalvou que "a violência nunca pode ser um instrumento político", numa referência à atuação da polícia para tentar travar a votação. O executivo de Bruxelas pediu ainda ao governo espanhol e aos independentistas catalães para que "passem rapidamente da confrontação ao diálogo".
Greve geral
Apoiantes da independência da Catalunha marcaram para hoje uma greve geral de protesto contra a violência da polícia.
Colau pede contenção
A presidente da câmara de Barcelona, Ada Colau, advertiu o governo catalão de que uma declaração unilateral de independência "não é a melhor via" para resolver a grave situação na Catalunha.
431 polícias feridos
O Ministério do Interior disse ontem que 431 agentes da Guardia Civil e da Polícia Nacional sofreram ferimentos nos confrontos de domingo. Polícias foram agredidos com "pontapés, socos, arranhões e mordidelas" por eleitores que se opuseram ao encerramento das assembleias de voto. Três pessoas foram detidas por desobediência.
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