"Não tenho bola de cristal": Bolsonaro diz não ter errado em nada no combate à Covid-19
Comissão Parlamentar de Inquérito considerou que a gestão do Governo no combate à pandemia foi uma "agenda da morte".
Horas depois de o Senado brasileiro ter criado uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar erros e omissões do governo federal no combate à pandemia do coronavírus e ter considerado a gestão do executivo nessa área como uma "agenda da morte", o presidente Jair Bolsonaro veio a público negar ter errado nessa questão. Em conversa com seguidores fanáticos que, como todos os dias, o esperavam à porta do Palácio da Alvorada, a residência oficial em Brasília, Bolsonaro afirmou não ter bola de cristal para adivinhar o que fazer.
"Eu não errei em nada. Eu não tenho bola de cristal nem chuto. Eu converso com as pessoas. Quem frequenta a praia, por exemplo, tem menos chance de apanhar a doença", declarou Jair Bolsonaro, voltando a defender o uso da vitamina D contra a Covid-19, um dos chamados tratamentos precoces que ele mesmo prescreve desde o início da pandemia e que não possuem qualquer comprovação científica, como a Cloroquina e a Ivermectina.
Na conversa com os seguidores, Bolsonaro afirmou que, se fosse esperar a ciência, muito mais pessoas teriam morrido devido à Covid-19, pois a ciência, na opinião dele, demora muito. E, depois de voltar a atacar a imprensa, um dos seus alvos preferidos, o presidente brasileiro desenvolveu a teoria de que as notícias dramáticas da pandemia disseminadas pela imprensa também matam, pois, filosofou, o pavor reduz a imunidade das pessoas e deixa-as mais vulneráveis ao coronavírus.
A CPI da Covid começou a funcionar na tarde desta terça-feira, depois de senadores da oposição, cansados de esperar a criação do órgão pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, terem ido ao Supremo Tribunal, que dias atrás determinou a criação imediata da comissão. Jair Bolsonaro, ministros e parlamentares aliados fizeram de tudo para inviabilizar a CPI, recorrendo eles também à justiça, fazendo uma violenta campanha de desacreditação nas redes sociais e tentando, por último, que senadores bolsonaristas ocupassem os principais cargos da comissão, mas tudo foi em vão.
A CPI foi instalada e dos seus 11 membros a maioria, sete deles, ou são independentes do governo ou são da oposição. No cenário mais temido por Bolsonaro, principal foco da CPI devido à sua omissão e ao seu negacionismo, o senador Renan Calheiros, feroz adversário do governo, foi eleito relator da comissão e vai conduzir as investigações.
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