Noiva turca do jornalista Khashoggi conta que este era "um patriota"
Repórter assassinado tinha ido ao consulado da Arábia Saudita em Istambul pedir certificado para casar com a namorada.
A noiva do jornalista Jamal Khashoggi, de 60 anos, a estudante de doutoramento turca Hatice Cengiz, de 36 anos, ficou viúva antes mesmo de casar-se. O noivo, um conhecido opositor do regime saudita, foi assassinado no consulado da Arábia Saudita, onde compareceu a 2 de outubro para pedir um certificado de divórcio para se poder casar com Hatice. Nunca mais apareceu e cresce a certeza de que terá sido assassinado de forma bárbara na representação diplomática do seu país.
"Podem ter tirado sua presença de corpo do meu mundo, mas sua linda gargalhada permanece na minha alma para sempre, meu querido", publicou no Twitter no último sábado. Os internautas responderam com muitas mensagens de apoio e solidariedade
O casal conheceu-se há pouco menos de um ano, numa conferência sobre a política do Oriente Médio e do Golfo Persa na Turquia, em que Khashoggi era um dos oradores. O homem falou sobre as grandes transformações que a Arábia Saudita passava e como isso o deixava ansioso. Hatice foi fazer-lhe uma pergunta ao final do painel e acabaram por conversar por cerca de meia hora sobre política, escreveu a mulher no New York Times
Cengiz enviou uma mensagem ao jornalista a agradecer a conversa e começaram a corresponder-se. "Eu admirava a sua personalidade, a sua sabedoria e coragem. Nós aproximámo-nos por partilharmos a paixão pela democracia, pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão", avança na mesma publicação.
Apesar de ser opositor ao regime, Jamal era patriota e amava a Arábia Saudita mais do que qualquer outro lugar do mundo. Hatice lembra que o noivo falava contantemente do desejo andar novamente pelas ruas da Medina e passar horas a conversar com os amigos. No entanto, lá já não tinha lugar para si.
O amor entre o jornalista e a estudante fê-lo viajar de Washington, onde vivia, para Istambul, para solicitar os documentos de divórcio e poderem casar-se. A mulher relata que o jornalista estava tranquilo quando chegou ao consulado da Arábia Saudita, uma vez que foi bem recebido no local dias antes, sendo inclusive congratulado pelo novo casamento.
Hatice e Jamal chegaram juntos às imediações do consulado da Arábia Saudita em Istambul na tarde daquela terça-feira e despediram-se. Apesar de não fazer ideia do que o esperava, Jamal deu instruções a Hatice para o que fazer caso acontecesse alguma coisa de anormal. Indicou-lhe o número de telefone de um amigo que trabalhava no governo turco, para que esta ligasse caso não aparecesse dentro de pouco tempo.
O homem, de fato, nunca mais saiu do edifício. Supõe-se que o assassinato de Khashoggi aconteceu apenas alguns minutos depois.
Na sala do consulado, o saudita foi manietado, golpeado e drogado. Depois cortaram-lhe as mãos com uma serra. Em seguida, foi decapitado e assim morreu, avançam várias fontes polícias à imprensa turca.
A noiva esperou, mas Jamal nunca deixou o consulado. Primeiro, pensou que estava preso para ser interrogado. Quatro dias depois, as investigações davam por certo que o homem tinha sido assassinado, ainda que não tivesse provas concretas.
A Arábia Saudita confirmou a morte do jornalista oficialmente na tarde deste sábado, 20 de outubro, depois de duas semanas a manter a tese de que Khashoggi estaria vivo e que o pessoal da embaixada não teve nada a ver com o assunto. A versão oficial afirma que a morte aconteceu por acidente durante uma discussão
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