"O típico homem comum": há algum padrão entre os mais de 50 acusados de violar Gisèle Pelicot?
Em conjunto, enfrentam mais de 600 anos de prisão pelos crimes.
Representam um microcosmo da sociedade francesa e estão a ser julgados no âmbito de um dos maiores escândalos sexuais do País. Os mais de 50 homens acusados de violar Gisèle Pelicot, mulher drogada pelo marido e submetida a agressões sexuais durante uma década, são à primeira vista pessoas comuns. Neste caso, não existe um padrão do violador.
Segundo a BBC, entre os suspeitos há jovens, idosos, magros, gordos, caucasianos e negros. A lista de profissões é também variada: bombeiros, camionistas, soldados, seguranças, entre outros ofícios. Foram apelidados de 'Monsier-Tout-Le-Monde' (o típico homem comum) e em conjunto enfrentam mais de 600 anos de prisão pelos crimes.
Durante o julgamento, que teve início em setembro, a maioria olha para baixo enquanto responde às perguntas do juiz.
O número de vezes que os agressores se deslocaram a casa dos Pelicot, tocaram de forma inadequada em Gísèle e se chegou a haver penetração são alguns dos fatores agravantes para a aplicação da pena.
Um dos acusados, Joseph C, de 69 anos, pode ser condenado a quatro anos de prisão por agressão sexual, se for considerado culpado. É a pena mais branda pedida pelo Ministério Público. Joseph C. é um treinador desportivo reformado.
Já no outro extremo está Romain V, de 63 anos, que enfrenta 18 anos de prisão. O homem é seropositivo e é acusado de violar Gisèle Pelicot em seis ocasiões diferentes sem usar proteção. A defesa disse ao tribunal que Romain fez tratamento durante vários anos e não poderia ter transmitido o vírus.
O Ministério Público conseguiu fazer acusações com um nível invulgar de detalhe para um julgamento de violação devido a número de provas dos crimes, uma vez que as alegadas agressões foram filmadas durante quase uma década por Dominique Pelicot.
Dominique admitiu todas as acusações e disse ao tribunal que todos os seus 50 co-acusados também são culpados. Todas as provas em vídeo significam que nenhum dos homens pôde negar que alguma vez foi a casa dos Pelicot. Mas a maioria contesta veementemente as acusações de violação agravada, que implicariam penas pesadas.
A lei francesa define a violação como qualquer ato sexual cometido por “violência, coação, ameaça ou surpresa”.
Alguns dos arguidos dizem que não podem ser culpados de violação porque não sabiam que Gisèle Pelicot não estava em condições de dar o seu consentimento. “Não pode haver crime sem a intenção de o cometer”, disse um advogado de defesa.
“O meu corpo violou-a, mas o meu cérebro não”, insistiu o bombeiro voluntário Christian L, um dos acusados.
A defesa de alguns dos acusados referiu que os clientes foram "manipulados e enganados por Pelicot". No entanto, o marido de Gisèle sempre disse que deixou bem claro para os homens que a sua esposa não estava ciente do "jogo sexual".
Gisèle Pelicot não acredita na versão de que os homens que foram a sua casa não estivessem cientes da situação de abuso que estava a ser cometida.
“Eles não me violaram com uma arma apontada à cabeça. Violaram-me em plena consciência. Porque é que eles não foram à polícia? Até um telefonema anónimo podia ter-me salvo a vida. Mas nenhum deles o fez", afirmou a vítima.
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