ONU alerta para ciclo da água "cada vez mais irregular e extremo"
Apenas um terço das bacias hidrográficas do mundo apresentaram valores normais.
O ciclo da água está "cada vez mais irregular e extremo", oscilando entre secas e inundações, alertou esta quinta-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM), que observou condições anómalas em dois terços das bacias hidrográficas do mundo em 2024.
Um relatório da agência meteorológica da Organização das Nações Unidas (ONU) indicou que, no último ano, foram registados caudais abaixo da média das três décadas anteriores em 32% das bacias, especialmente nas Américas e na África do Sul, enquanto foram superiores em outros 26%, com exemplos na Europa, subcontinente indiano e em grande parte da China.
Apenas um terço das bacias hidrográficas do mundo apresentaram valores normais, enquanto todas as regiões glaciares registaram perdas devido ao degelo, segundo o relatório da OMM.
"Os recursos hídricos do mundo estão sob crescente pressão e, ao mesmo tempo, a intensificação dos eventos extremos relacionados com a água está a ter um impacto crescente nas vidas e nos meios de subsistência", disse secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, citada em comunicado.
Este é o terceiro ano consecutivo em que os cientistas registam uma perda generalizada de gelo em todas as regiões glaciares.
"No total, perderam-se 450 gigatoneladas, o equivalente a um gigante bloco de gelo com 7 km [quilómetros] de altura, 7 km de largura e 7 km de comprimento, ou água suficiente para encher 180 milhões de piscinas olímpicas", afirmou a OMM.
Esta quantidade de água de degelo acrescenta cerca de 1,2 milímetros (mm) ao nível global do mar num único ano, aumentando o risco de inundações em zonas costeiras.
A África Tropical sofreu com chuvas excecionalmente fortes em 2024, provocando aproximadamente 2.500 mortos e desalojando quatro milhões de pessoas.
A OMM recordou também que a Europa teve as inundações mais significativas desde 2013, enquanto as regiões da Ásia e do Pacífico sofreram chuvas recorde e ciclones tropicais, que mataram mais de 1.000 pessoas.
Nos últimos seis anos, apenas cerca de um terço das bacias hidrográficas apresentaram condições normais de caudal em comparação com a média de 1991-2020. Os outros dois terços tiveram excesso ou escassez de água, evidenciando "um ciclo hidrológico cada vez mais irregular".
De acordo com a ONU, cerca de 3,6 mil milhões de pessoas não têm acesso adequado à água durante pelo menos um mês por ano. Prevê-se que este número ultrapasse os cinco mil milhões até 2050.
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