Polícia moçambicana afirma que disparos contra caravana de Venâncio Mondlane visam "apenas dispersar multidão"
Disparopretendiam evitar que o ex-candidato presidencial moçambicano se dirigisse ao local onde decorria a cerimónia de assinatura do acordo político em Maputo.
A Polícia moçambicana disse esta quinta-feira que os disparos contra a caravana de Venâncio Mondlane na quarta-feira visavam dispersar a multidão para evitar que se dirigisse ao local onde decorria a cerimónia de assinatura do acordo político em Maputo.
"Não houve nenhum atentado [contra Venâncio Mondlane]. Decorria, na mesma altura, no Centro de Conferência Joaquim Chissano, um evento de Estado (...) Percebemos que a intenção era justamente arrastar esta multidão para centro conferências (...) Houve necessidade de dispersão de massas, pelos meios convencionais, que é o gás lacrimogéneo", disse à Lusa Leonel Muchina, porta-voz Polícia da República de Moçambique (PRM) em Maputo.
O incidente aconteceu por volta das 13h00 (menos duas horas em Lisboa) no bairro de Hulene, ao longo da avenida Julius Nyerere, quando a caravana que acompanhava Venâncio Mondlane seguia em direção à Praça dos Combatentes, partindo da Praça da Juventude, no bairro Magoanine, nos subúrbios de Maputo.
"Surpreendemo-nos quando um grupo da polícia fortemente armado começou a disparar diretamente contra a viatura onde estava Venâncio Mondlane, foram gás lacrimogéneo, alguns explosivos, balas verdadeiras direcionadas e tivemos que sair em fuga, porque o cenário não estava agradável", relatou, na quarta-feira, à Lusa Abdul Nariz, da equipa de comunicação do ex-candidato presidencial.
Um membro da comitiva de Mondlane esteve entre os feridos durante o incidente, que, segundo as autoridades, deixou pelo menos outras oito pessoas também feridas.
"As pessoas não foram feridas a bala. As pessoas a acabaram feridas por causa do pânico e do local. Muitas pessoas tropeçaram e se feriram com obstáculos. Não temos dados de pessoas que foram feridas pelas balas, mas havendo vai ser objeto de estudo", avançou Leonel Muchina, considerando que, além de tentar forçar passagem, o grupo liderado por Mondlane estava "impedir a circulação" numa via importante de Maputo.
A organização não-governamental (ONG) que acompanha os processos eleitorais Plataforma Decide avançou que pelo menos 16 pessoas, incluindo duas crianças, foram baleadas que pelo menos entre os apoiantes que acompanhavam Mondlane na passeata.
Em protesto contra os disparos à caravana, populares bloquearam a Julius Nyerere, uma das principais avenidas de acesso a diversos bairros dos subúrbios de Maputo, num dia em que se assinou o "compromisso político" para travar a crise pós-eleitoral pelo chefe de Estado, Daniel Chapo, e os principais partidos de oposição.
A polícia moçambicana posicionou-se em todas as principais vias e avenidas que dão acesso ao Centro de Conferências Joaquim Chissano, local onde foi assinado o acordo político entre o Presidente de Moçambique e formações partidárias no âmbito do diálogo em curso.
Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.
Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.
Desde outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, de acordo com a Plataforma Decide.
O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.
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