Luaty: Portugal acusado de "ingerência"

O Jornal de Angola lançou no domingo um violento ataque a Portugal por causa da visita do embaixador João da Câmara ao ativista luso-angolano Luaty Beirão, em greve de fome há 36 dias. Sem meias-palavras, o governo português é acusado de "ingerência desabrida" nos assuntos internos angolanos e de levar a cabo uma "cruzada anti-Angola que já não pode ser ignorada".

Em editorial intitulado ‘De Portugal nada se espera’, o diretor do Jornal de Angola, José Ribeiro, acusa o governo luso de "voltar a cair na asneira de se pôr do lado errado" e "abrir um precedente grave" com a visita a Luaty Beirão, cidadão "sobre quem pendem acusações gravíssimas".

"A cruzada anti-angolana já não pode ser ignorada. O nível de ingerência portuguesa nos assuntos estritamente angolanos só encontra paralelo em duas ocasiões: quando Angola proclamou a independência e quando se aproximava a derrota da UNITA", escreve José Ribeiro, para quem os últimos acontecimentos provam "que foi correta" a decisão de José Eduardo dos Santos de suspender em 2013 a parceria estratégica com Portugal. "Por ignorância e despeito das elites portuguesas, concorrência entre elas próprias e inveja de poderes externos, a parceria estratégica que se começou a traçar e que era uma boa solução para o futuro de Portugal foi por água abaixo", afirma.

Entrevistado pelo mesmo jornal, o embaixador angolano em Lisboa, Marcos Barrica, vai mais longe e acusa Portugal de usar o caso dos ativistas detidos e "de um indivíduo que em Portugal é mais falado que o papa" como "pretexto" para voltar a "diabolizar Angola".