Primeiro-ministro francês falha tentativa de procurar acordo sobre orçamento para 2026
Instabilidade entre os grupos políticos fragiliza a permanência do executivo de Sébastien Lecornu.
O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, não conseguiu esta segunda-feira reunir todos os grupos políticos para procurar um consenso sobre o orçamento para 2026, complicando o cenário de permanência em funções do seu executivo.
Uma semana depois de os deputados do partido do Presidente francês, Emmanuel Macron, os conservadores e da extrema-direita terem rejeitado a medida exigida pelo Partido Socialista que criaria um imposto sobre os mais ricos, a Assembleia Nacional ficou travada por outros pontos de menor importância com múltiplas emendas que ameaçam atrasar a votação final.
Esta acaba por ser uma trajetória abrupta que se agravou quando o bloco de esquerda boicotou a reunião convocada por Lecornu com os porta-vozes parlamentares dos vários partidos para debater as diferenças e procurar um acordo sobre o Orçamento do Estado do próximo ano.
Os socialistas, até agora os mais dispostos a negociar, argumentaram que não queriam participar numa reunião em que estivesse presente o partido de extrema-direita União Nacional (RN, na sigla em francês).
Os ecologistas, os comunistas e o partido de esquerda radical França Insubmissa (LFI) também rejeitaram debater na presença do RN, pelo que o Governo reuniu-se apenas com os conservadores, 'macronistas' e extrema-direita.
A LFI acusou também os socialistas de serem "idiotas úteis" do Governo e instou-os a abandonarem a sua posição de diálogo, que consideram estar a dar oxigénio ao Presidente Emmanuel Macron, a quem exigem que se demita.
Outro fator de instabilidade deve-se à criação do imposto, exigido pelo Partido Socialista para aprovar o executivo de Lecornu face às moções de censura a que foi sujeito.
Este imposto suscitou o descontentamento dos deputados conservadores e pró-Macron.
O próprio ministro das Finanças, Roland Lescure, criticou a "bruxaria fiscal" que está a ser debatida nestes dias no Parlamento francês e alertou para o perigo de incoerência no orçamento que for adotado.
Entretanto, ambas as partes manifestam as suas dúvidas quanto ao resultado final, às quais se juntam as incertezas quanto ao calendário, que se revela curto uma vez que as contas devem ser votadas antes de 31 de dezembro.
O próprio relator do orçamento, o conservador Philippe Juvin, considerou "altamente provável" que este calendário possa não vir a ser respeitado, o que obrigaria à adoção de uma série de leis e decretos para prolongar o atual orçamento por alguns meses.
A LFI considera que este é o objetivo do executivo: prolongar os prazos para poder governar por decreto sem o apoio do Parlamento.
Apesar do cenário negocial complexo, o líder do Partido Socialista, Oliver Faure, considerou em declarações à rádio France Inter que o "caminho é estreito", mas que "ele existe".
O seu objetivo é encontrar 15 mil milhões de euros de receitas para evitar cortes que possam afetar as classes trabalhadoras e, para isso, está a negociar, apesar das críticas dos seus antigos parceiros de esquerda.
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