Quais as consequências da rutura entre Musk e Trump para o setor espacial?

Futuro da parceria entre Musk e Washington é atualmente incerto após a sua rutura explosiva com o presidente norte-americano.

07 de junho de 2025 às 14:03
Elon Musk e Donald Trump Foto: FRANCIS CHUNG/Lusa_EPA
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Muito mais do que um empresário de sucesso, Elon Musk impôs-se nos últimos anos como um interveniente incontornável no setor espacial, com Washington a confiar-lhe várias missões cruciais neste domínio.

No entanto, o futuro dessa parceria é atualmente incerto após a sua rutura explosiva com o presidente norte-americano, Donald Trump.

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Os seus foguetes levam astronautas da NASA ao espaço, são utilizados em missões altamente sensíveis do Pentágono e deveriam em breve desempenhar um papel central no tão esperado regresso dos norte-americanos à Lua.

O confronto verbal entre Trump e Musk

Na quinta-feira, após a rutura sem precedentes entre o presidente norte-americano e o multimilionário, antigos aliados, paira a incerteza quanto ao futuro das parcerias entre o Governo e a empresa espacial de Musk.

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Com mensagens furiosas publicadas nas suas respetivas redes sociais, o republicano ameaçou "cancelar os subsídios e contratos governamentais" do chefe da Tesla e da SpaceX, que respondeu dizendo que iria "desativar a sua nave espacial Dragon", usada pela NASA, antes de se retratar algumas horas depois.

Um confronto inédito que destaca a interdependência entre o governo americano e esta empresa privada e levanta várias questões sobre as suas possíveis repercussões, embora, nesta fase, os especialistas considerem improvável uma ruptura definitiva, demasiado prejudicial para ambas as partes.

Tiros no pé

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Fundada em 2002, a SpaceX impôs-se em tempo recorde como um interveniente sem igual no setor espacial, tanto em atividades comerciais como governamentais.

Com o seu ritmo de lançamentos sem igual e os seus baixos custos, assinou ao longo dos anos contratos de vários milhares de milhões de dólares com agências federais norte-americanas, para missões científicas e de segurança nacional, nomeadamente para a deteção de mísseis hipersónicos.

"Se retirarmos a SpaceX da equação, haverá uma enorme interrupção nas missões" da NASA e do Pentágono, explicou Clayton Swope, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), à agência noticiosa France-Presse (AFP).

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Entre as primeiras consequências figuram o facto de os Estados Unidos e os seus parceiros, incluindo a Agência Espacial Europeia AEE), Japão e Canadá, dependerem da Rússia para o transporte de pessoas de e para a Estação Espacial Internacional (ISS), observa o especialista em questões espaciais e de defesa.

No entanto, "no atual clima geopolítico, isso não seria ideal", salienta Laura Forczyk, analista do setor espacial numa entrevista à AFP.

A cápsula 'Dragon', da SpaceX, é atualmente o único aparelho norte-americano certificado para transportar astronautas, uma vez que a nave rival, a 'Starliner', da Boeing, sofreu atrasos significativos e falhas durante o voo de teste no ano passado.

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Uma rutura definitiva com a SpaceX constituiria um "cenário catastrófico" tanto para a Aministração Trump como para Musk, devido às somas astronómicas em jogo, insiste Swope, para quem "todos estão a dar um tiro no próprio pé".

Prejuízo geral

Devido a esses riscos e dependências partilhadas, esses dois especialistas esperam que Trump e Musk "superem as divergências e retomem os negócios".

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No entanto, Trump, que elevou a lealdade a um valor absoluto, mostrou nos últimos meses que não hesita em usar todos os meios do governo para atacar instituições e empresas, como fez contra a Universidade de Harvard ou a Apple.

Sinal de um possível início de distanciamento da SpaceX, a NASA anunciou na sexta-feira que pretende avaliar "a possibilidade de um voo da 'Starliner' para a Estação Espacial Internacional no início de 2026".

A espetacular discussão com Trump poderá assim beneficiar os rivais da SpaceX, incluindo a empresa espacial Blue Origin, de outro multimilionário, o fundador da Amazon, Jeff Bezos. Mas também deve, acima de tudo, reacender o debate sobre a dependência de Washington em relação ao setor espacial privado.

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"Isso pode levar as pessoas a pensar que talvez não seja sensato depositar tanta confiança" nas empresas, especialmente para essas atividades sensíveis, analisa Clayton Swope.

"Isso prejudica toda a indústria espacial", estima Laura Forczyk, que alerta para um possível recuo nas ambições espaciais do presidente republicano, o que afetaria os planos de longo prazo da NASA, já em crise.

Ameaçada por cortes drásticos no seu orçamento, a agência ainda não tem um administrador, uma vez que o candidato nomeado por Trump, um empresário próximo de Musk, foi afastado no último minuto na semana passada.

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