Secretário de Estado dos EUA liga para o MNE do Brasil para falar sobre a Ucrânia
Especula-se que Blinken ligou para pressionar o governo de Bolsonaro a condenar a invasão russa à Ucrânia.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, ligou esta sexta-feira para o ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Carlos França, para discutirem a crise militar e política provocada pela invasão da Rússia à Ucrânia, que começou esta quinta-feira. O telefonema não estava previsto e apanhou a diplomacia brasileira, que tem sido muito criticada pelos EUA, de surpresa.
Não foram divulgados pormenores do que foi tratado entre os responsáveis pela política externa dos EUA e do Brasil, mas nos meios diplomáticos especula-se que Blinken ligou para pressionar o governo do presidente Jair Bolsonaro a condenar a invasão russa à Ucrânia, o que o governante brasileiro até agora se recusou a fazer. Na semana passada, Bolsonaro encontrou-se com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscovo, no qual disse que ele era um grande amigo e classificou-o como um "expoente da paz".
Os EUA deixaram de lado, nessa altura, a habitual moderação diplomática e disseram em comunicado do próprio Departamento de Estado, comandado por Blinken, que Bolsonaro com essa visita e essas declarações colocou-se claramente "no lado contrário" ao resto do mundo. Horas depois, a própria assessoria do presidente norte-americano, Joe Biden, criticou Bolsonaro, declarando que as atitudes dele não contribuíam em nada para a manutenção da paz no mundo nem para o bom andamento das relações entre o Brasil e os EUA.
Após o telefonema desta sexta-feira, o MNE brasileiro limitou-se a avançar nas redes sociais que a conversa baseou-se na crise no leste da Europa e a moção de censura que os EUA pretendem apresentar ainda esta sexta-feira ao Conselho de Segurança da ONU a condenar a invasão à Ucrânia. Essa moção deve ser rejeitada, pois a Rússia, que neste momento preside ao Conselho de Segurança e tem poder de veto, deve votar contra.
Por outro lado, os EUA, de acordo com informações de fontes diplomáticas brasileiras divulgadas após o telefonema, querem que o Brasil os apoie publicamente, votando pela condenação da ação bélica russa.
Nas últimas horas, a diplomacia dos EUA aumentou a pressão para que o Brasil condene a ação militar da Rússia contra a Ucrânia.
Os EUA pedem que o Brasil tome uma posição, seja qual for, pois, alegaram esses diplomatas, um país da importância do Brasil na América Latina não pode simplesmente omitir-se num momento como este.
Esta quinta-feira, Jair Bolsonaro, que é contra a condenação da Rússia, chegou a desautorizar publicamente o vice-presidente do Brasil, general Hamiltom Mourão, que horas antes tinha dito que o Brasil não concordava com a invasão à Ucrânia. Bolsonaro veio a público dizer que quem manda é ele, que quem fala em nome do Brasil é ele e que o vice-presidente disse o que não devia.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt