"Talibãs mostram lado mais suave, mas são cruéis como antes": Cineastas afegãs pedem ajuda no Festival de Veneza
Sahraa Karimi e Sahra Mani aproveitaram presença no evento para dar o testemunho sobre a atualidade do país.
A 78.ª edição do Festival de Cinema de Veneza ficou este sábado marcado pelos testemunhos de Sahraa Karimi e Sahra Mani, duas cineastas afegãs que relataram as dificuldades que os artistas vivem no Afeganistão.
"A 15 de agosto [dia em que os talibãs tomaram o poder do país] comecei o meu dia normalmente. Levantei-me, maquilhei-me, vesti-me e saí. Poucas horas depois, tive de tomar a decisão mais difícil da minha vida: ir embora ou ficar. Vi como o meu país e os meus sonhos se desmoronavam. Não se trata de mim, ou sobre alguns diretores, mas sim de toda uma geração jovem do Afeganistão. Em duas semanas, as mentes mais talentosas e promissoras partiram", disse Karimi, diretora do filme Parlika, citada pelo El País
"Agora os talibãs mostram um lado mais suave, mas não são assim.
São cruéis como antes e mais espertos", acrescentou.
Sahra Mani confessou que "trabalhar num filme no Afeganistão nunca foi fácil" devido ao "governo mais corrupto do mundo" e às frequentes falhas de eletricidade e Internet. Através dos seus filmes, procura retratar a situação do país.
Sahraa Karimi lembrou as restrições impostas pelo movimento talibã à liberdade dos artistas, que travam os progressos feitos pela indústria cinematográfica afegã nos últimos anos junto do Governo.
"Os diretores, e sobretudo as diretoras, fizeram um grande trabalho a representar o Afeganistão. Queríamos mudar a narrativa sobre o país, estávamos fartas dos 'clichés'. E não imaginam quão difícil é fazer entender a importância do cinema a alguém do nosso Governo", sublinhou.
A cineasta terminou a intervenção com um pedido de ajuda à comunidade internacional: "Não temos um país de onde contar as histórias, ao qual dedicar o nosso trabalho criativo. Somos sem-abrigo. Pedimos que não se esqueçam do Afeganistão".
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