Três inocentes mortos em ação da polícia em favela no Rio de Janeiro
Grupo de traficantes que domina a região obrigou os agentes a fugir.
Três pessoas inocentes morreram esta quinta-feira vítimas de balas perdidas durante uma operação levada a cabo pela Polícia Militar no chamado Complexo de Israel, conjunto de cinco perigosas favelas na zona norte da cidade brasileira do Rio de Janeiro. A operação policial não correu como esperado e os traficantes que dominam a região obrigaram os agentes a fugir, depois de três inocentes terem sido mortos e outros feridos.
A ação policial foi iniciada pouco depois das cinco horas da madrugada desta quinta-feira, nove horas em Lisboa, quando agentes fortemente armados invadiram as favelas do Pica Pau, da Cidade Alta e das Cinco Bocas, todas dentro do Complexo de Israel, supostamente tentando capturar criminosos ligados ao roubo de carros e de cargas. Foram surpreendidos por uma resistência fortíssima dos criminosos, que usaram armas militares e pareciam ser muito mais numerosos do que os agentes, e a partir daí sucederam-se intensos tiroteios em vários pontos das três favelas, que duraram mais de três horas e acabaram por obrigar a polícia a recuar e deixar o local derrotada.
Devido a essa operação, pelo menos 21 escolas, três hospitais e todo o comércio da região foram obrigados a fechar, e milhares de moradores, apanhados no fogo cruzado, ficaram sem ter como sair de casa. Pelo menos 35 linhas de autocarros que passam pela região foram desviadas e, muitas delas, suspensas, e a circulação dos comboios suburbanos também foi interrompida por horas.
Mas a situação mais grave aconteceu na Avenida Brasil, a principal via expressa do Rio de Janeiro, que cruza todas as favelas do Complexo de Israel e liga a cidade a localidades vizinhas e a outros estados, e contra a qual os criminosos começaram a disparar sem cessar, numa retaliação contra pessoas indefesas à ação da polícia. Milhares de pessoas que iam em autocarros, nos seus carros e em outros veículos ficaram presas num imenso engarrafamento, toda a gente tentou proteger-se em desespero, muitos motoristas simplesmente abandonaram os veículos e deitaram-se no chão ou saíram a correr para longe dali, e passageiros de autocarros amontoaram-se nos corredores dos coletivos uns por cima dos outros para não ficarem perto das janelas.
Uma das vítimas fatais, Paulo Roberto de Souza, de 60 anos, motorista de uma plataforma por aplicação, que levava um passageiro no seu carro, foi atingido na cabeça quando passava perto da favela Cidade Alta, no Complexo de Israel. O passageiro, ao ver o motorista gravemente ferido, assumiu o volante do carro e foi em alta velocidade para o hospital mais próximo, mas Paulo Roberto já chegou sem vida.
Renato Oliveira, de 48 anos, outra vítima fatal da operação, nem chegou a perceber o que estava a acontecer. Cansado, ele dormitava dentro de um autocarro que costumava apanhar para ir e voltar do trabalho quando foi atingido por uma bala de grosso calibre, também na cabeça, e morreu pouco depois de dar entrada no hospital.
A terceira vítima, Geneílsom Eustáquio Ribeiro, de 49 anos, estava ao volante do seu camião, parado no gigantesco congestionamento que se formou na Avenida Brasil, quando foi atingido, mais uma vez na cabeça, por balas de fuzil militar disparadas de longe pelos traficantes em direção à via. Chegou a ficar entubado no hospital por algumas horas, mas também não resistiu aos ferimentos.
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