Violência e vandalismo no centro de Paris
Capital francesa transformada num cenário de guerra nos protestos dos 'coletes amarelos'. CMTV mostra destruição.
Milhares de manifestantes transformaram este sábado Paris num campo de batalha. Pelo terceiro sábado consecutivo, os protestos dos chamados ‘coletes amarelos’ desencadeados pela subida dos impostos nos combustíveis tornaram-se violentos na capital francesa. Dezenas de carros e estabelecimentos foram incendiados, vandalizados ou pilhados. Segundo informação avançada pela polícia francesa durante a manhã deste domingo, a manifestação de sábado provocou 133 feridos (23 dos quais são policias) e 412 detenções (das quais 378 ficaram sob custódia policial).
Um dos focos da violência foi o Arco do Triunfo, onde a polícia recorreu a canhões de água e granadas de gás lacrimogéneo para dispersar grupos violentos de manifestantes que tentaram vandalizar o monumento.
Segundo organizadores dos protestos, extremistas de direita e de esquerda infiltraram-se em manifestações originadas num movimento cívico espontâneo que se pretendia pacífico.
A praça da Ópera de Paris e o Palácio da Bastilha foram outros focos de uma violência que se alargou de tal forma pela cidade que forçou o encerramento de uma dezena de estações de metro. Lojas da Chanel, Dior, Apple e outras marcas foram atacadas. Os manifestantes ergueram barricadas nos Campos Elísios e incendiaram vários carros, entre eles um da polícia.
"Estou chocado pelos ataques a símbolos da França. Estamos empenhados no diálogo mas também no respeito pela lei", afirmou o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe.
Já o PM português, António Costa, garantiu que "a comunidade portuguesa está bem", não tendo sido afetada pela violência de ontem e concluiu: "Não se deve dramatizar o que são manifestações normais nos países democráticos".
REIVINDICAÇÕES
Preços da gasolina
Os manifestantes exigem o controlo da carga fiscal que este ano já agravou em 23% os preços dos combustíveis. Pedem igualmente cortes em impostos sobre bens alimentares.
Aumento do salário mínimo
Os preços da gasolina foram apenas a gota de água. O movimento dos ‘coletes amarelos’ pede igualmente aumentos do salário mínimo e das reformas.
Reconversão energética
Alguns grupos defendem a necessidade de energias limpas mas sem uma reconversão forçada do parque automóvel com aposta nos veículos elétricos.
Saúde e Educação
A dispersão dos motivos dos manifestantes levou muitos a exigir maior aposta na Educação e nos hospitais públicos.
Deficientes e igualdade
Entre os motivos invocados por alguns porta-vozes do movimento há reivindicações para a igualdade salarial entre homens e mulheres e maior integração laboral de deficientes.
"Não há causa que justifique a violência e as pilhagens"
O presidente francês Emmanuel Macron, que ontem assistiu ao dia final da cimeira do G20, na Argentina, condenou a violência em Paris. "Nenhuma causa justifica ataques a forças de segurança, pilhagens de lojas, ameaças a jornalistas e cidadãos e a vandalização do Arco do Triunfo", afirmou. Macron anunciou que manterá uma reunião com o seu governo logo que volte a França.
Governo recua mas ‘coletes amarelos’ não desarmam
O movimento já chamado dos ‘coletes amarelos’ foi desencadeado há cerca de três semanas pelo anúncio do governo do presidente Emmanuel Macron de novos aumentos nos combustíveis depois de um ano em que sofreram um aumento global de cerca de 23%.
O governo anunciou que, em janeiro de 2019, o preço do gasolina aumentaria em 2,9 cêntimos e o do gasóleo teria um agravamento de 6,5 cêntimos. Atualmente o preço médio do gasóleo, o mais usado nos carros em França, é de 1,51 euros.
Ante a dimensão dos protestos, o Executivo recuou e anunciou a intenção de suspender o aumento em janeiro, prometendo ainda reduzir, até 2022, a gasolina em 10 cêntimos e o gasóleo em 19 cêntimos.
Este recuo, contudo, chegou tarde e foi considerado escassa compensação após um ano em que aumentaram ainda o gás (7%), a eletricidade (17%), as portagens (1,3%), os transportes públicos (3%), o tabaco (10%) e ainda, entre outras coisas, os seguros (3%), e as taxas bancárias (13%).n
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