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2025 foi o ano da fome e do genocídio de palestinianos em Gaza, segundo ONU

Painel de peritos referiu que meio milhão de pessoas enfrentavam um quadro de fome no norte do território e pela primeira vez no Médio Oriente, com risco de alta propagação.

06 de dezembro de 2025 às 09:46

A população da Faixa de Gaza experimentou em 2025 até ao cessar-fogo, em vigor no enclave palestiniano desde outubro, um quadro de fome e genocídio, segundo duas declarações inéditas da ONU, a par da explosão da violência na Cisjordânia.

O povo palestiniano foi escolhido pela redação da Lusa como a personalidade internacional do ano, marcado pelo reforço da ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, antes de aceitar uma trégua com os islamitas do Hamas.

Como antecedente da pausa dos combates, uma comissão independente de investigação da ONU acusou em setembro Israel de cometer um genocídio ao longo de dois anos de conflito, com a "intenção de destruir" a população palestiniana.

O relatório da comissão foi recebido com indignação em Telavive e classificado como "tendencioso e mentiroso", apesar de o painel de peritos apontar declarações das autoridades israelitas e o padrão das suas tropas como demonstrações de comportamento genocida.

A divulgação do documento coincidiu com uma vasta operação de ocupação da Cidade de Gaza e amplos protestos em várias cidades mundiais a exigir o fim da ofensiva e ação da comunidade global.

A pressão contribuiu para que uma dezena de países ocidentais, entre os quais Portugal, aumentassem para mais de 150 o número de membros da ONU que reconhecem o Estado da Palestina e que vários governos europeus impusessem embargos de armas a Israel.

Outro painel de peritos da ONU tinha descrito no mês anterior que meio milhão de pessoas enfrentavam um quadro de fome no norte do território e pela primeira vez no Médio Oriente, com risco de alta propagação.

Mais uma vez Israel se referiu como "falsidades baseadas no Hamas" às conclusões do relatório da Classificação Integrada de Segurança Alimentar, cujos peritos se referiram a condições catastróficas "inteiramente provocadas pelo Homem", em alusão às operações israelitas.

Este quadro de desastre humanitário era também consistente com os alertas repetidos das agências da ONU e de outras organizações internacionais, sobretudo desde que Israel impôs um bloqueio total ao enclave, logo após ter quebrado em março o primeiro cessar-fogo do ano com Hamas, deixando os habitantes palestinianos mais sós.

Durante os meses de bloqueio, a única ajuda autorizada foi concentrada na controversa Fundação Humanitária de Gaza, apoiada por Washington e Telavive, cujos centros de distribuição ficaram ligados a vários episódios de caos e violência, que resultaram em mais de 1.100 mortos registados pelas autoridades locais.

Estes números engrossam a estatística de acima de 70 mil mortos em dois anos, segundo dados do Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas, mas considerados fiáveis pela ONU, que por sua vez indicou, a partir de óbitos verificados, que 70% das vítimas são mulheres e crianças.

A vulnerabilidade dos civis tem sido evidenciada na cobertura dos jornalistas palestinianos, que prosseguem o seu trabalho num território vedado à imprensa internacional, apesar dos riscos atestados por mais de 250 profissionais mortos em dois anos.

Até ao último cessar-fogo, 90% dos 2,1 milhões de habitantes do território devastado pelos bombardeamentos estavam deslocados e o seu destino era ainda mais incerto perante a ameaça, por parte de membros do Governo israelita, de concentração numa "cidade humanitária" ou até deportação, que chegou ainda a ser sugerida pelo líder norte-americano, Donald Trump, quando se referiu à ideia de uma "Riviera do Médio Oriente".

Os dois anos da guerra, iniciada em 07 de outubro de 2023 com os ataques do Hamas no sul de Israel, que resultaram em cerca de 1.200 mortos e 251 reféns, coincidiram também com o aumento da violência na Cisjordânia e desalojamentos em Jerusalém Oriental.

A violência é atribuída por ONU e Autoridade Palestiniana ao exército israelita e colonos judeus a coberto da impunidade, a par de anúncios de mais assentamentos ilegais, acompanhados de demolições e expulsões dos habitantes, estradas, campos agrícolas e linhas de água vedados e estrangulamento financeiro.

Segundo o Gabinete da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), mais de mil palestinianos morreram na Cisjordânia na vaga de violência nos últimos dois anos.

Só em outubro, foram registados 264 ataques de colonos que resultaram em vítimas, danos materiais ou ambos na Cisjordânia, representando o máximo mensal em quase duas décadas de recolha de dados

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