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ONG denuncia detenção arbitrária e desaparecimento de ativista ferido em Luanda

Organização adianta que ativista de 33 anos foi alvejado na perna esquerda enquanto fazia uma transmissão em direto sobre os protestos.

01 de agosto de 2025 às 13:42

A Amnistia Internacional denunciou esta sexta-feira a detenção arbitrária e o desaparecimento forçado do ativista "General Nila", ferido a tiro durante os protestos em Luanda e visto pela última vez sob custódia policial, a 28 de julho.

Segundo a Organização Não-Governamental (ONG), o ativista de 33 anos foi alvejado na perna esquerda enquanto fazia uma transmissão em direto nas redes sociais sobre os protestos contra a subida do preço dos combustíveis. Testemunhas afirmaram que os autores dos disparos seriam agentes do Serviço de Investigação Criminal.

Ainda de acordo com a organização de defesa dos direitos humanos, após um breve atendimento no hospital da aldeia do Gameque, Serrote José de Oliveira "General Nila" foi transferido por agentes da Polícia Nacional para o Comando Municipal de Talatona, onde foi visto pela última vez.

Desde então, os familiares e advogado não tiveram mais contacto com ele, desconhecendo-se o seu estado de saúde e o paradeiro exato.

"A Amnistia Internacional (AI) está preocupada com o facto de Serrote José de Oliveira ter sido arbitrariamente detido, privado de cuidados médicos adequados e mantido incomunicável", lê-se na nota emitida pela ONG.

A AI apela às autoridades angolanas para que revelem o seu paradeiro, garantam o acesso a cuidados médicos, à família e ao advogado, e que seja libertado, caso não existam acusações formais reconhecidas à luz do direito internacional.

Exortou ainda as autoridades angolanas a respeitarem o direito à manifestação pacífica e cessarem o uso excessivo da força contra cidadãos que protestam.

A organização sublinha ainda que este não é um caso isolado. Outro ativista, Osvaldo Kaholo, foi detido a 19 de julho por "incitação à violência" após uma transmissão 'online'. Terá ficado oito dias sem poder mudar de roupa e iniciou uma greve de fome em protesto contra a proibição de receber alimentos da família.

Osvaldo Kaholo foi um dos elementos do processo conhecido como 15+2, um grupo de ativistas angolanos que foram detidos em Luanda em 2015, quando discutiam um livro sobre métodos pacíficos de protesto, e acusados de quererem preparar um golpe de Estado.

Segundo o Serviço de Investigação Criminal (SIC), o ex-oficial das Forças Armadas Angolanas, de 36 anos, foi detido "por indícios fortes da prática dos crimes de rebelião, instigação pública ao crime e apologia pública de crime, consubstanciado na produção de uma' live', em direto, onde fez ameaças graves contra a integridade de oficiais generais, comissários, entre outras entidades".

O Movimento Contra a Subida dos Combustíveis, que integra vários ativistas angolanos, denunciou também um ataque na madrugada de segunda-feira contra o marido de Laurinda Gouveia, ativista que foi também condenada nos 15+2.

Segundo o movimento, agentes da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) "invadiram a residência da ativista Laurinda Gouveia, onde, na ausência desta, agrediram violentamente o seu esposo, Agostinho Alfredo, deixando-o inconsciente".

"Este é mais um episódio da repressão sistemática contra cidadãos que exercem o seu direito à livre expressão e manifestação", criticam, exigindo garantias de segurança para Laurinda Gouveia, sua família e demais ativistas.

A greve nacional dos taxistas convocada pela ANATA (Associação Nacional dos Taxistas de Angola) começou a 28 de julho, em protesto contra o aumento dos preços dos combustíveis e a subida das tarifas dos transportes públicos.

Durante a paralisação de três dias, registaram-se distúrbios e atos de violência, com relatos de pilhagens e vandalismo em várias zonas da capital e noutras províncias, bem como disparos envolvendo a polícia.

Segundo o balanço oficial mais recente, houve 30 mortos, 277 feridos e 1.515 detenções em todo o país, sobretudo nas províncias de Luanda, Benguela, Huíla, Huambo, Malanje, Bengo e Lunda Norte.

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