Evento junta músicos dos três continentes atlânticos.
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A cidade da Praia voltou a juntar o Atlantic Music Expo (AME) e o Kriol Jazz Festival, depois da edição do AME de 2022 ter decorrido sem o evento tradicionalmente contiguo, o Kriol Jazz Festival. Assim, no início da semana começou a 9ª edição do AME. Um evento onde se encontram profissionais da área musical, sejam produtores, diretores de festivais ou jornalistas internacionais, para assistir a conferências, workshops e showcases onde artistas de vários continentes atuam nos palcos da capital cabo-verdiana, mostrando o seu trabalho, o que poderá determinar o seu percurso na chamada "worldmusic".
O arranque do certame dirigido por Augusto Veiga aconteceu no dia 10 de abril, no Auditório Nacional, com a presença do primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, e do ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente. Ficou assente a vontade de fortalecer o evento já para o próximo ano, uma vez que ainda se fazem sentir os efeitos da pandemia covid-19.
A música tradicional de Cabo Verde foi a anfitriã do AME no Auditório Nacional. Mas os showcases tiveram início no dia 11, com a artista da casa Sara Alhinho, no Palácio da Cultura Ildo Lobo. A cantora, que conta com dois discos gravados – o primeiro de 2014, "Mosaico", e o segundo de 2018, "Ton di Petu" – interpretou temas como "Grito Mudjer", "Santo Nobu" e para terminar a sua atuação a música de Paulino Vieira "M'Cria Ser Poeta".
O mundo em Cabo Verde
O mesmo palco recebeu também o grupo italiano Suonno D'Ajere. Os participantes do AME chegam a Cabo Verde dos mais diversos pontos do globo: Canadá, Brasil, Espanha, Estados Unidos da América, França, Nigéria, Itália, Eslováquia, Marrocos e Portugal, com a cantora Cristina Clara
Se as atuações que se realizam pela hora do almoço são no Palácio da Cultura, ao fim do dia são abertas ao público e começam na rua Pedonal do Plateau da cidade, e intervalam com o palco da praça Luís de Camões.
Beny Esguerra, músico e poeta colombiano e canadiano estreou a Rua Pedonal, e o pianista cabo-verdiano Carlos Matos o palco da praça Luís de Camões, enfrentando o público apenas com o seu instrumento. Um formato, segundo Carlos Matos, não muito usual em Cabo Verde. Mas tocando um funaná, conseguiu ser acompanhado pelo público presente. Um "calor" que deu um grande ânimo ao artista, que atravessa uma nova fase na sua carreira com este projeto a solo.
A noite continuou com o brasileiro, atualmente a residir em Lisboa, Leo Middea. Com a sua guitarra levou a música popular brasileira ao evento da ilha de Santiago. Da ilha mais próxima da capital, a ilha do Maio, veio o rapper CSI Ma'at Ra, e para encerrar as atuações na Rua Pedonal, entrou em palco um dos mais importantes representante do hip-hop crioulo, Hélio Batalha, que abriu o concerto com uma homenagem aos militares mortos durante o recente incêndio na Serra Malagueta, no interior da Ilha de Santiago.
O momento mais marcante da sua atuação foi quando chamou as crianças que estavam a assistir ao concerto bem perto do palco para subirem e cantarem com ele. "Quando estou no palco sinto que show é nosso. Não é meu. As pessoas têm que participar. Sinto que é uma missão trazer as pessoas para o show. Têm que sentir que sou um irmão", explica Hélio Batalha sobre a sua ação durante o tema "Dexam Bua".
O muito esperado concerto de Thairo Kosta
Era muito esperado o concerto do cantor, também da ilha de Santiago, Thairo Kosta. A viver nos Estado Unidos da América, era grande a expectativa do artista para mostrar o seu recente álbum ao seu público, mas o concerto acabou por ser adiado para o dia seguinte devido a um problema de saúde que o deixou afónico. Recuperou e acabou por fechar a noite de dia 12 no palco da Praça Luís de Camões, substituindo a cantora de Burkina Faso Kandy Guira, que devido a um cancelamento do seu voo em Lisboa não conseguiu viajar para Cabo Verde a tempo do seu compromisso.
Thairo, já recuperado, apresentou então o seu novo disco "Nha Casa", título que em crioulo tem um duplo sentido: a minha casa ou a minha caça. "Tens de ir à caça para conseguir alguma coisa. Fiz a caça dos artistas que gosto para estar na minha casa e celebrar a música cabo-verdiana e a identidade africana. Um álbum que na sua totalidade representa a originalidade e a essência de ser um africano. Com as dificuldades da escravatura, alimentação ou vestuário", explicou Thairo Kosta.
O segundo dia de showcases começou no Palácio da Cultura com Natalia Machin, das ilhas Canárias, mas a abrir o dia na Rua Pedonal atuou a portuguesa Cristina Clara. A cantora deixou os praienses contentes quando fundiu o estilo vira do Minho com o ritmo do batuque, tradicional de Cabo Verde.
"Pisar Cabo Verde pela primeira vez e ter a oportunidade de ter um grupo de batucadeiras como convidadas, foi uma junção maravilhosa", afirmou a cantora, que assenta a sua música em ritmos portugueses, cabo-verdianos e brasileiros.
A música continuava a mexer com a cidade. Ary Morais, Carlos G Lopes, Kavita Shah também atuaram, numa noite em que Josslyn brilhou com todo o seu glamour em palco, mas fundamentalmente com a firmeza da sua voz. Sempre num ritmo muito enérgico colocou a rua Pedonal a dançar e cantar do princípio ao fim do concerto.
No último dia do AME, uma voz que tem captado a atenção de muitos profissionais da música em Cabo Verde, Bertânia Almeida, e com a prestação neste evento pode chegar a novos horizontes. A artista já tinha participado num concurso de pequenos cantores em 1996. Mais tarde, em Coimbra, enquanto tirou o curso de arquitetura, cantava com um grupo de amigos, também cabo-verdianos.
Depois, acabou por deixar a música um pouco de lado, mas desde 2019 que tem levado mais a sério a sua vocação. Recentemente editou "Descobri", o seu primeiro disco que tem esse título por estar numa "fase de reencontro com a música, de redescoberta da música cabo-verdiana", revela a cantora sobre um trabalho que gravou em colaboração o guitarrista Bau, uma grande referência da música cabo-verdiana.
Cesária Évora recordada em documentário
Durante a tarde foi exibido no Palácio da Cultura o filme "Cesária Évora", realizado por Ana Sofia Fonseca. O documentário sobre a vida da "diva dos pés descalços" já foi exibido em muitos festivais de cinema. Foi agora visto em Cabo Verde por muitos profissionais da worldmusic que conviveram por esse mundo fora com a "sua" Ciz, como era conhecida pelos mais próximos.
A música continua. A semente que Cesária Évora deixou continua a germinar, Zul Alves é mais um exemplo das novas gerações de artistas. Apresentou no AME "Busca", o seu recente trabalho com base na música tradicional cabo-verdiana. Atuaram também de Marrocos a cantora Sonia Noor e os eslovacos Varkocs. Para fechar o evento, uma banda mítica de Cabo Verde, Bulimundo. Responsáveis pela divulgação do estilo tradicional de Santiago, funaná, pelas outras ilhas de Cabo Verde, que apenas aconteceu depois da indepêndencia. Zeca di Nha Reinalda cantou e encantou, como não podia deixar de ser com este "Homem Grande" que não deixa ninguém indiferente ao sentimento inato à sua voz.
Concluída a 9ª edição do Atlantic Music Expo, chegou a vez do Kriol Jazz Festival. No mesmo palco na praça Luís de Camões . O festival é dirigido por José da Silva, responsável pela carreira de Cesária Évora. Nesta edição, a 12ª, o homenageado foi Nhonho Hopffer de Almeida, músico e arquiteto muito acarinhado na cidade da Praia.
A Orchestra Baobab, do Senegal, abriu o festival. Seguiu-se Pamela Badjogo do Gabão
Esta sexta-feira estará em palco o músico cabo-verdiano Tcheka, Rossevelt Collier dos Estados Unidos, Luedji Luna do Brasil e Bamba Wassoulou Grouve do Mali. Sábado, dia 15, a noite arranca com Dee Dee Bridgewater, depois Lucibela, Asa da Nigéria, e termina com os espanhóis Doctor Prats
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