Philippe e Anne Vedovini e dois dos filhos terão matado a criança e ocultado o cadáver. Motivos do crime não são conhecidos.
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Os avós maternos e dois dos tios de Émile Soleil, o menino de dois anos desaparecido em julho de 2023 na pequena localidade de Haut-Vernet, nos Alpes franceses, foram esta terça-feira detidos por suspeita de homicídio e ocultação de cadáver, numa reviravolta chocante num caso trágico que emocionou a França.
Philippe e Anne Vedovini, ambos de 59 anos, foram detidos às primeiras horas da manhã na sua residência em La Bouilladisse, nos arredores de Marselha, localidade onde também vivem os pais da criança. Os dois filhos, que não foram identificados, foram detidos separadamente. O casal Vedovini tem 10 filhos, alguns dos quais ainda menores. A polícia adiantou que os dois detidos são maiores de idade.
Durante todo o dia desta terça-feira, a polícia realizou buscas na casa dos suspeitos, tendo apreendido um automóvel e um atrelado usado para transportar cavalos, entre outras possíveis provas.
O pequeno Émile desapareceu da casa de férias dos avós a 8 de julho de 2023. O avô, que estava a tomar conta dele, admitiu que se distraiu “por 15 minutos”. A criança foi vista pela última vez por um vizinho, a caminhar numa rua da aldeia e cerca de 50 metros da casa dos avós. Durante semanas, centenas de voluntários e polícias bateram a região montanhosa em busca da criança, sem sucesso. A 1 de abril do ano passado, um caminhante encontrou parte de um crânio e outros restos humanos a cerca de um quilómetro da aldeia, que as análises de ADN confirmaram pertencer à criança. A autópsia não permitiu esclarecer a causa da morte e o funeral do pequeno Émile realizou-se no passado dia 8 de fevereiro em La Bouilladisse, com a presença de centenas de pessoas.
A polícia prosseguiu discretamente as investigações e, após uma fase inicial em que se concentrou na tese de desaparecimento acidental, acabou por se recentrar no entorno familiar do menino. As escutas telefónicas a vários familiares terão sido fundamentais para a investigação. Durante as buscas, a família sempre procurou mostrar-se unida, mas as escutas indicaram a existência de graves desavenças entre os pais da criança, Marie e Colomban Soleil, e os avós maternos, um casal ultrarreligioso e conservador.
No passado dia 13, os investigadores tinham voltado de surpresa a Haut-Vernet, onde realizaram buscas intensivas na pequena igreja local, tendo levado consigo um grande vaso de madeira que costumava estar no adro e no qual, segundo a imprensa francesa, foram encontrados vestígios de sangue humano. Dois dias depois das buscas, o antigo pároco local, Claude Gilliot, que tinha batizado Émile e chegou a ser muito próximo da família, suicidou-se.
Padre suicidou-se após buscas em igreja
O sacerdote Claude Gilliot, que foi durante anos o pároco de Haut-Vernet e batizou o pequeno Émile, suicidou-se no passado dia 15 de março, dois dias após as buscas da polícia à pequena igreja da localidade. Gilliot, de 85 anos, deixou uma carta de despedida, mas não faz qualquer referência à morte do menino. “Avisem a minha irmã. Digam-lhe que a amo muito e ao meu cunhado. Só o amor importa. Anunciai o Evangelho”, escreveu, segundo o ‘Paris-Match’. O padre Gilliot foi durante anos muito próximo da família Vedovini, mas desentenderam-se após o desaparecimento do menino, que foi visto pela última vez a 30 metros da igreja e a 50 metros da casa dos avós. Segundo a imprensa local, a família acusou-o de entregar uma fotografia de Émile aos jornalistas durante as buscas. Os vizinhos falam numa “grande discussão” entre o avô da criança e o sacerdote, em que os dois “trocaram insultos”.
Gilliot acabou por ser afastado da paróquia, alegadamente, após forte pressão da família Vedovini, que boicotou a igreja e apresentou várias queixas junto da diocese local. A irmã do sacerdote, Claudine Vandenbroucke, disse que Gilliot culpava a família pelo seu afastamento. “Estou muito chateada com a família do pequeno Émile, porque acho que tudo isto [o afastamento de Gilliot] partiu deles”, disse a irmã numa entrevista recente.
“ADN forasteiro” nos restos mortais
Os restos mortais do pequeno Émile foram analisados por Christian Droutremepuich, do Instituto Médico-Legal de Bordéus, considerado como ‘O Papa do ADN’, em França, o qual conseguiu isolar vestígios de “ADN forasteiro” - ou seja, não pertencente à família - entre os ossos e fragmentos de roupa da criança.
PORMENORES
Dominador
Philippe Vedovini é descrito como um homem profundamente religioso e rígido com a família. “Dizem que sou dominador e aterrorizo toda a gente. Não me importo”, disse numa entrevista.
Tudo investigado
A polícia investigou e descartou várias hipóteses, incluindo uma possível vingança com motivações políticas contra o pai de Émile, Colomban Soleil, ligado à extrema-direita francesa.
Local improvável
O corpo de Émile foi descoberto em abril passado numa ravina que tinha sido várias vezes batida pelos voluntários durante as buscas. Polícia admite que o corpo pode ter sido levado para ali.
Família na mira
Fonte policial disse que as detenções não foram “fruto do acaso nem de uma descoberta súbita”, dando a entender que a família estava sob suspeita há já algum tempo.
E TAMBÉM
Abusos em instituição
Philippe Vedovini foi ouvido em 2018 como testemunha num caso de abusos físicos e sexuais numa instituição de menores, no início dos anos 90, quando era aspirante a monge. Chegou a ser detido, mas nunca foi acusado. No seu depoimento, admitiu impor “castigos físicos duros”, mas disse que nunca violou a lei.
“Tempo da verdade”
Durante o funeral do pequeno Émile, no mês passado, a família do menino mostrou-se bastante unida. Horas após a cerimónia, os avós publicaram uma mensagem afirmando que “o tempo do silêncio deve dar lugar ao tempo da verdade”. “Temos de entender o que aconteceu, temos de saber”, escreveram no comunicado.
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