Enquanto o presidente brasileiro falava na TV, milhares batiam panelas em protestos que se repetiram por todo o país.
Num novo discurso à Nação feito em rede nacional de rádio e de televisão na noite desta quarta-feira, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, distorceu mais uma vez números e dados para poder enaltecer supostos êxitos do seu governo em diversas áreas e fez uma promessa de difícil cumprimento, vacinar todos os brasileiros contra a Covid-19. Bolsonaro, que até semanas atrás negava a pandemia e combatia qualquer ideia de vacinação mas foi aconselhado por assessores a mudar de postura após quedas sucessivas na sua popularidade, prometeu no seu discurso que todos os brasileiros "que quiserem" serão vacinados até dezembro próximo.
O detalhe do "que quiserem", foi muito mal recebido por médicos e cientistas, para os quais o chefe de Estado deveria ter exortado todos os cidadãos a vacinarem-se, protegendo-se a eles e aos outros. Também houve repercussão imediata à afirmação do presidente de que o Brasil é um grande sucesso mundial de vacinação graças ao empenho do seu governo, e que ocupa a honrosa quarta colocação entre os países que mais vacinam no mundo.
Essa afirmação não é verdadeira, pelo menos não em termos do que as instituições internacionais e os outros países levam em conta. Bolsonaro usou um número absoluto, 68 milhões de brasileiros já vacinados contra a Covid-19, mas esse número inclui os vacinados com a primeira dose, que ainda não os protege, cerca de 46 milhões, e com a segunda, outros 22 milhões, e esconde que milhões de brasileiros não conseguiram tomar a segunda dose da vacina na data certa nem sabem quando a tomarão porque o país enfrenta uma grave crise no fornecimento de imunizantes pela China e pela Índia.
O que as instituições internacionais e a maioria dos outros países levam em conta não é o número total de vacinas aplicadas mas sim a proporção de pessoas imunizadas com as duas tomas em relação à população total do país, caso em que o Brasil, de acordo com o ranking da respeitada Universidade de Oxford, na Inglaterra, surge num modesto 85 lugar.
Outro ponto do discurso do presidente brasileiro que suscitou desmentidos e revolta foi a afirmação dele de que, mais uma vez graças ao seu desempenho, o Brasil tinha terminado 2020 com uma nítida queda no número de desempregados em relação a 2019. Na verdade, a comparação não pode ser feita, porque o próprio governo alterou a forma de cálculo de empregados e desempregados, fazendo simplesmente desaparecer das estatísticas milhões de pessoas sem emprego. Dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgados no final de Maio e relativos a Março mostram que o número de desempregados no Brasil nesse mês era o maior da história do país, beirando pela primeira vez os 15 milhões, isto sem contar os que não surgem nas estatísticas por terem desistido de procurar emprego.
Em relação à promessa de vacinar todos os brasileiros, e são 212 milhões, até Dezembro, pode até ser que aconteça, esperemos que sim, mas é muito difícil. Bolsonaro repetiu no seu discurso que o governo já comprou ou está em fase de negociação para adquirir mais de 600 milhões de vacinas, mas incluiu aí vacinas que nem ao menos têm aprovação do regulador do país, a Anvisa, acordos que, por enquanto, não valem nada pois são meras propostas de intenção, nem leva em conta os imensos atrasos da produção da Coronavac chinesa e da Oxford-Astrazeneca inglesa produzidas no Brasil e provocados pela falta de insumos produzidos na China, país repetidamente atacado pelo presidente brasileiro.
Enquanto Bolsonaro lia, com evidente dificuldade, o seu discurso, milhares de brasileiros protestavam. Em cidades por todo o país, pessoas foram para as janelas bater panelas e tocar apitos, repetindo uma prática de protesto que já se tornou comum sempre que o presidente discursa.
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