Espalharam-se por várias universidades dos EUA nas últimas semanas e já começaram a chegar à Europa.
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Os protestos de estudantes pró-palestinianos espalharam-se por várias universidades dos EUA nas últimas semanas e já começaram a chegar à Europa, levantando questões de política externa, mas sobretudo de liberdade de expressão.
Na passada segunda-feira, a polícia de Paris foi chamada a intervir na Universidade de Sorbonne para expulsar ativistas que defendiam a causa palestiniana, repetindo situações que começaram nas universidades norte-americanas a seguir ao ataque do grupo islamita Hamas em Israel e consequente reação armada do Exército israelita em Gaza.
O tema está a dividir a sociedade dos EUA, servindo de arma política da oposição republicana contra a presidência democrata de Joe Biden, em pleno ano eleitoral, e criando clivagens dentro do Partido Democrata sobre a posição norte-americana face ao regime do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Em questão está a situação no Médio Oriente, mas também temas relativos aos limites à liberdade de expressão e de manifestação, repetindo cenas que já tinham sido vividas nas universidades norte-americanas no final dos anos 60 do século passado, quando o pano de fundo era a luta pelos direitos cívicos.
Eis alguns dos pontos essenciais desta polémica que atravessa os Estados Unidos e já passou o Atlântico.
As causas diretas dos protestos universitários
Os protestos têm como pano de fundo a invasão do Exército israelita na Faixa de Gaza, onde nos últimos seis meses mais de 35 mil pessoas morreram, na maioria civis, mergulhando o território numa grave crise humanitária.
A ofensiva israelita é uma retaliação pelo ataque do movimento islamita palestiniano Hamas, que em 07 de outubro matou mais de 1.100 pessoas e fez cerca de 250 reféns.
Logo a seguir ao início desta ofensiva, em algumas das principais universidades dos Estados Unidos começaram a emergir protestos de estudantes que se afirmaram como ativistas pró-palestinianos contra a posição da Casa Branca a favor de Israel.
A política externa da Casa Branca
Desde o primeiro momento, logo a seguir ao ataque do Hamas em 07 de outubro, a Casa Branca colocou-se ao lado de Israel, fazendo deslocar um dos seus principais porta-aviões para a região e prometendo auxílio em caso de nova ameaça externa contra os interesses israelitas.
À medida que Israel endurecia a sua ação militar na Faixa de Gaza, subiram de tom as preocupações com a questão humanitária, com a comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, a clamar pela proteção da vida dos civis, perante a morte de dezenas de milhares de palestinianos.
O tema suscitou divisões dentro do próprio Partido Democrata de Biden, mas está a servir, antes de mais, para os republicanos questionarem a forma como a Casa Branca permite a proliferação de manifestações pró-palestinianas nos Estados Unidos, que os conservadores acusam de estar ao serviço de causas antissemitas.
Os limites da liberdade de expressão
Em várias universidades dos Estados Unidos, logo a seguir à intervenção militar israelita em Gaza, multiplicaram-se manifestações de ativistas pró-palestinianos, algumas delas com cânticos e palavras de ordem que foram interpretadas como antissemitas.
Perante esta situação, em dezembro, os congressistas republicanos pediram aos presidentes de algumas das principais universidades – Harvard, Pensilvânia e Massachusetts Institute of Technology (MIT) – para comparecerem no Capitólio, para uma audiência sobre a sua atuação perante as manifestações.
Durante uma sessão que durou mais de cinco horas, estes responsáveis deram respostas ambíguas sobre se os cânticos antissemitas das manifestações estariam ou não a violar o código de conduta das suas universidades.
Em questão esteve particularmente o facto de alguns dos protestos pedirem uma ‘Intifada’ – uma revolta popular, ligada à causa palestiniana – naquilo que foi considerado por alguns congressistas republicanos como igualmente um apelo ao genocídio do povo judaico.
A ambiguidade das suas respostas levou, dias depois, a presidente da Universidade de Pensilvânia, Liz Magill, a apresentar a demissão, deixando igualmente a presidente da Universidade de Harvard, Claudine Gay, em situação frágil antes de também sucumbir perante uma administração composta por representantes de organizações com profundos laços à comunidade judaica.
A ambiguidade das posições dos presidentes das universidades prendeu-se com a questão dos limites da liberdade de expressão, um tema sensível entre a comunidade académica desde os confrontos entre estudantes e forças policiais, no final dos anos 60 do século passado, quando se levantava a luta a favor dos direitos cívicos e contra a discriminação racial.
Os confrontos entre estudantes e forças policiais
A audiência de dezembro no Congresso em Washington apenas inflamou ainda mais o clima de contestação contra a guerra na Faixa de Gaza, agora também contra a forma como estava a ser exercido o limite à liberdade de expressão e de manifestação nas universidades.
Rapidamente, o clima de contestação multiplicou as ações de protesto, que se espalharam desde a Califórnia, na costa oeste, até à Nova Inglaterra, na costa leste, afetando mais de três dezenas de universidades, incluindo Loyola, em New Orleans, Novo México, ou a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Em muitas destas universidades, as administrações escolares procuraram o equilíbrio entre a manutenção da ordem e a permissão à liberdade de expressão, procurando evitar a autorização de entrada de forças policiais nos ‘campus’, para travar a escalada de conflito.
Em algumas universidades, as manifestações extravasaram os ativistas pró-palestinianos, com protestos multiétnicos de outras minorias que se solidarizaram contra as limitações da liberdade de expressão no ‘campus’ da sua universidade.
O caso da Universidade de Columbia
Uma segunda vaga de protestos universitários eclodiu nas últimas semanas, após a ida, em abril, da presidente da Universidade de Columbia, Minouche Shafik, ao Congresso, para testemunhar sobre os mesmos temas das suas homólogas de Harvard, Pensilvânia e MIT.
Em dezembro, Shafik tinha alegado uma viagem em serviço para não estar presente no Capitólio e apareceu perante os congressistas com respostas devidamente preparadas, prometendo uma ação severa contra todos os estudantes que se manifestassem com palavras ou atitudes antissemitas, não hesitando em dizer que qualquer apelo a um genocídio constitui uma clara violação do código de conduta da sua universidade.
Em reação a estas declarações, grupos de ativistas pró-palestinianos acamparam no ‘campus’ da Universidade de Columbia, no centro de Nova Iorque, desafiando Shafik e colocando-a perante o dilema de cumprir a promessa feita no Congresso ou respeitar o direito ao exercício da liberdade de expressão dos seus estudantes.
Apesar de os ativistas não lhe terem facilitado a vida – procurando evitar palavras de ordem antissemitas ou de convocação de um genocídio, tendo até alguns professores e estudantes judeus a participar nas iniciativas – a presidente de Columbia não hesitou e, pela primeira vez em várias décadas, pediu à polícia para entrar no ‘campus’ da universidade para desmobilizar o protesto.
Na semana passada, mais de cem alunos foram detidos por resistirem ao apelo ao cancelamento do acampamento e, na passada segunda-feira, Shafik deu apenas um prazo de algumas horas para que os estudantes pró-palestinianos abandonassem o protesto, sob pena de serem suspensos ou não poderem mesmo terminar o seu curso académico.
A iniciativa da presidente destinava-se a evitar uma nova incursão policial, sabendo do efeito nefasto das imagens de uma carga das forças de segurança no espaço privado da universidade, com todas as repercussões políticas que provocam.
Shafik alega que os estudantes têm o direito a manifestar as suas posições políticas, mas acrescentou que tal deve "suceder sob parâmetros específicos", referindo-se à necessidade de evitar ameaças contra pessoas ou grupos devidamente identificados.
"Apelar ao genocídio de um povo – seja ele israelita ou palestiniano, judeu ou muçulmano ou outro qualquer – não terá lugar nesta comunidade", avisou a presidente da Universidade de Colúmbia, num comunicado enviado aos estudantes.
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