Trânsito mantém-se tímido nas principais vias da capital angolana, onde é visível a presença de viaturas blindadas das autoridades.
1 / 3
No terceiro dia de greve dos taxistas, marcada por tumultos e pilhagens, o medo sente-se ainda em Luanda, que ensaia um regresso à normalidade apesar de muitas lojas permanecerem fechadas ou vandalizadas, sinal claro da violência dos últimos dias.
O trânsito mantém-se tímido nas principais vias da capital angolana, onde é visível a presença de viaturas blindadas da Polícia de Intervenção Rápida e de militares das Forças Armadas Angolanas, destacados para evitar novos distúrbios.
As poucas bombas de combustível em funcionamento estão fortemente protegidas por agentes policiais, e já se formam filas, sinal de um regresso cauteloso à rotina.
A Cidade da China, um dos maiores centros comerciais de Luanda, barricou-se com contentores e arame farpado e reforçou a segurança, incluindo patrulhas policiais, para dissuadir tentativas de invasão --- algumas das quais foram convocadas através das redes sociais.
Em declarações à Lusa, Helena Xiang, diretora da Cidade da China, explicou que, por causa do vandalismo, foi necessário agir para proteger os lojistas e os seus bens.
"Por isso tivemos de fechar. Com suporte da Polícia Nacional, agora temos confiança que a situação vai ser controlada", disse, referindo-se à gigantesca área comercial com 400 lojas e que gera cerca de 10 mil empregos diretos e indiretos.
O principal impacto da greve é "não conseguir fazer negócio e os lojistas estarem a sofrer prejuízos", acrescentou, garantindo que os funcionários não serão prejudicados nos seus salários porque "é um caso especial".
Marcelina Joaquim Germano, funcionária da PEP --- cadeia popular de vestuário e artigos para o lar ---, viveu momentos de terror na segunda-feira, quando a loja no Calemba 2 foi invadida: "ficámos como se fôssemos reféns, trancados na casa de banho durante uma hora".
"Era por volta das 9 da manhã quando começámos a sentir a movimentação e vimos a multidão a agigantar-se. Uma senhora disse que convinha fechar e ir para casa, porque tinha um grupo que estava a vandalizar e a fazer estragos. Seguimos o conselho e fechámos a porta", contou à Lusa.
Mas já não foram a tempo. A multidão partiu os vidros e os funcionários despiram as fardas e tentaram fugir, acabando por se trancar na casa de banho.
Os saqueadores que traziam facas, garrafas e paus deixaram os trabalhadores sair, mas Marcelina continua assustada.
"Só agora consegui sair de casa para ir à praça", disse.
Quanto à loja "já não tem nada. Tudo foi roubado, é uma perda total".
E Marcelina pergunta-se: "Como é que vamos ficar? Temos criança, temos marido, como é que vamos ficar?", dizendo que não esperava que fossem estas as consequências da greve, apesar de se mostrar solidária com as causas, pois lamenta o impacto dos novos preços das corridas de táxi nos já baixos rendimentos dos cidadãos.
O Arreiou, cadeia de baixo custo com forte presença nos bairros periféricos, foi também dos mais afetados. Segundo fonte oficial da empresa, das 200 lojas que o grupo --- pertencente à Refriango --- tem na província de Luanda, mais de 70 foram alvo de arrombamentos, saques ou vandalismo desde segunda-feira.
"Com maior incidência em Cazenga, Viana, Kilamba, Camama e Talatona, onde o Arreiou tem uma presença próxima e constante junto das comunidades", acrescentou.
Com reabertura da maioria das loja prevista para amanhã, o Arreiou irá reabrir faseadamente as que sofreram danos, "à medida que as condições de segurança e funcionamento forem restabelecidas".
A cadeia, que representa mais de mil postos de trabalho diretos num universo de cerca de 4.000 colaboradores, reforçou também as medidas de segurança, sublinhando que a "Polícia Nacional tem sido um parceiro presente e fundamental para a estabilização da situação, que se encontra atualmente sob controlo".
Já o presidente da Associação de Comerciantes Oeste Africanos, Mohamede Saidou Toucara, disse que não há ainda um número exato de cantinas pilhadas em Luanda, frisando que o próprio teve um armazém vandalizado, na zona do Calemba II.
Questionado sobre os prejuízos que teve, Mohamede Toucara responde: "é muito, mesmo, muito material", e acrescenta que alguns empresários da Mauritânia foram igualmente afetados.
Em Angola, estes comerciantes lideram pequenos negócios, incluindo as populares lojas de conveniência, conhecidas localmente como "cantinas dos Mamadus", numa alusão à sua crença muçulmana.
Também a cadeia de hipermercados Deskontão mantém três dos seus estabelecimentos encerrados "por questões de segurança, por se encontrarem em zonas periféricas".
Nas redes sociais circularam igualmente imagens de ataques a outras cadeias, como a Angomart, pertencente ao grupo indiano Noble Group.
Até ao momento, as autoridades deram conta de 66 lojas vandalizadas e apelaram a todos os cidadãos que viram os seus bens danificados que se dirijam às esquadras da polícia para participarem os incidentes.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.