Notícia de gravação de presidente a aprovar suborno provocou terramoto político em Brasília.
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O Congresso brasileiro, que reúne a Câmara dos Deputados e o Senado, foi forçado a fechar às pressas ao início da noite desta quarta-feira, após a denúncia explosiva feita contra o presidente Michel Temer na edição digital do jornal O Globo. Assim que a denúncia começou a circular, Brasília entrou em verdadeira convulsão política, ante a gravidade e credibilidade das acusações contra o chefe de Estado, acusado de comandar um esquema de suborno a aliados presos por corrupção para que não o envolvessem.
No momento da divulgação das denúncias, cerca das 19h30 de quarta-feira pelo horário brasileiro, 23h30 em Lisboa, as duas câmaras do Congresso estavam lotadas, em sessões de análise e votação de medidas importantes. Avisados em plena sessão da gravidade das denúncias, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, ambos aliados de Temer, encerraram abruptamente as sessões e deixaram rapidamente o congresso sem falar com a imprensa.
Maia e os líderes do governo na Câmara dos Deputados e no Senado correram para o Palácio do Planalto, sede da presidência brasileira, para participarem numa reunião de emergência com Temer. Em poucos minutos, o chefe de Estado cancelou todos os seus compromissos, entre eles uma reunião alargada com governadores de todo o Brasil que estavam à espera, e concentrou-se na análise da inesperada e grave crise aberta com as denúncias.
Em pouco tempo, vários ministros foram chamados às pressas ao palácio, bem como os principais conselheiros de Temer, e a reunião de crise durou até à madrugada desta quinta-feira sem que alguém aceitasse falar com os jornalistas, que também convergiram em peso para o local. Temer emitiu apenas um comunicado formal, negando alguma vez ter participado em algum ato ilícito.
Enquanto isso, no Congresso, sumariamente fechado, líderes de partidos da oposição e da base de apoio a Temer reuniram-se em separado, atónitos com a inesperada denúncia e articulando os próximos passos ante a grave crise aberta com as acusações e que nesta quinta-feira deve ter novas repercussões. Numa reação ainda no calor do momento, tanto parlamentares da oposição quanto aliados de Temer exigiram a renúncia imediata do presidente, e ao menos dois pedidos de destituição do chefe de Estado foram protocolados ainda na noite de quarta-feira na Câmara dos Deputados.
Nas ruas de Brasília, onde a polícia usou gás pimenta para afastar manifestantes do palácio presidencial, São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades, manifestações aparentemente espontâneas surgiram um pouco por todo o país, exigindo a saída de Temer do cargo e a realização de eleições presidenciais antecipadas. Eleito vice-presidente de Dilma Rousseff em 2014, Temer assumiu a presidência em Abril de 2016, após a destituição da chefe de Estado pelo Congresso por alegadas irregularidades, e, segundo levantamento divulgado semana passada pelo Instituto Datafolha, tem apenas 9% de aprovação popular.
Denúncia explosiva
A denúncia que atingiu Temer de forma tão incisiva foi feita pelo dono do mais poderoso grupo de produção e comercialização de proteína animal do Brasil, o Grupo JBS, Joesley Batista. De acordo com O Globo, Joesley entregou à Procuradoria-Geral da República vídeos que ele próprio gravou de reuniões que teve com Temer e que mostram o chefe de Estado no comando de uma ação de obstrução à justiça e às investigações da operação anti-corrupção Lava Jato.
Num dos vídeos, ainda segundo O Globo, Temer autoriza Joesley a dar milhões de reais, a moeda brasileira, ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, preso no ano passado por corrupção, para que o ex-parlamentar não revelasse informações que atingissem o chefe de Estado. Cunha, do PMDB, Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o mesmo de Temer, era muito próximo do presidente até ser preso, mas considera-se traído pelo governante, que acusa de não o ter protegido e impedido a sua prisão, e estaria a ameaçar revelar o envolvimento do chefe de Estado em corrupção.
Nas várias gravações, Joesley também envolve o principal aliado de Michel Temer, o ex-presidenciável Aécio Neves, presidente do segundo maior partido do governo, o PSDB, Partido da Social Democracia Brasileira, e o ex-ministro de Lula da Silva e Dilma Rousseff, Guido Mantega, do PT, Partido dos Trabalhadores. Joesley Batista, cujo grupo é um conglomerado de dimensões mundiais, decidiu passar a colaborar com a polícia após a deflagração em Fevereiro passado da Operação Carne Fraca, que acusou vários produtores de carne de grande porte de usarem carne estragada e produtos proibidos nas principais marcas que vendem no Brasil e exportam para dezenas de países.
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