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Forças militares tomam conta de Myanmar e prendem principais líderes políticos. Conheça as razões

Líder da Liga Nacional para a Democracia, que venceu as eleições de novembro com grande vantagem, já apelou à população para que se oponha ao golpe de Estado.

01 de fevereiro de 2021 às 17:19

Um golpe de estado levado a cabo em Myanmar entregou o controlo do País às forças militares, uma década depois de ter sido instaurado um governo democrático, deitando por terra os cerca de 50 anos de regimes militares opressores. Esta segunda-feira, a líder do partido Liga Nacional para a Democracia (LND), Aung San Suu Kyi, foi detida pelo exército, após este ter declarado estado de emergência e assumido o controlo do país. Recorde-se que Suu Kyi e o LND lideravam o país desde 2015, quando foram eleitos pela primeira vez.

A líder da Liga Nacional para a Democracia, que venceu as eleições de novembro com grande vantagem, já apelou à população para que se oponha ao golpe de Estado e ao regresso de uma "ditadura militar".

Como se sucedeu o golpe de estado e porquê agora?

Esta segunda-feira, as ruas da capital de Myanmar, Nay Pyi Taw, foram ocupadas por militares que tomaram conta do país justificando a intervenção com acusações de fraude nas eleições de novembro. Mas porquê esta segunda-feira? Exatamente porque estava prevista para esta segunda-feira a primeira sessão do parlamento, que teria consagrado o resultado das eleições.

Numa declaração feita pela cadeia televisiva Myawaddy TV, os militares acusaram a comissão eleitoral do país de não ter controlado as "enormes irregularidades" que dizem ter existido durante as eleições legislativas que Aung San Suu Kyi, líder do partido LND, ganhou com grande vantagem. A fraude eleitorial, alegada pela oposição e apoiada pelos militares, foi negada pela Comissão Eleitoral de Myanmar.

Depois do golpe de estado, os militares convocaram ainda os poderes que lhes são atribuídos pela Constituição, redigida pelo Exército, e assumiram o controlo do país devido ao estado de emergência nacional. Com a detenção dos principais líderes políticos, incluindo a líder do partido vencedor e o presidente de Myanmar, o vice-presidente e ex-militar, Myint Swe, do partido da oposição, foi nomeado para liderar o país.

Forças militares protegidas pela constituição

Apesar da derrota nas eleições e graças à controversa constituição de 2008, um quarto dos assentos parlamentares são automaticamente entregues às forças militares, que mantêm ainda o controlo de três importantes ministérios - Defesa, Assuntos Internos e Assuntos de Fronteiras.

Bancos fechados e espaço aéreo encerrado

Após a proclamação dos militares, os bancos fecharam devido ao pouco acesso à internet e ao facto das comunicações estarem condicionadas.

De acordo com a agência de noticias francesa, France-Presse (APF), depois do fecho das instituições bancárias, formaram-se longas filas de pessoas em frente a distribuidores automáticos para tentarem retirar dinheiro.

Além disto, o espaço aéreo foi encerrado. A agência governamental birmanesa responsável pelas viagens aéreas, suspendeu esta segunda-feira todos os voos no país, após o golpe de estado levado a cabo pelo exército.

A embaixada dos Estados Unidos da América em Myanmar anunciou que "todos os aeroportos foram fechados" e emitiu também um "alerta de segurança" depois das detenções feitas.

União Europeia e EUA apelam à libertação imediata dos detidos

A União Europeia já condenou o golpe militar e reclamou a imediata libertação dos detidos. "Condeno firmemente o golpe em Myanmar e apelo aos militares para que libertem todos aqueles que foram ilegalmente detidos em operações por todo o país", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na sua conta oficial na rede social Twitter.

Também António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, apelou à libertação de Aung San Suu Kyi, afirmando que esta intervenção é um ataque à democracia.

Além destes, outros países como os Estados Unidos da América, o Reino Unido e a Austrália, apelaram à libertação dos detidos e ao conserto da situação.

"Os Estados Unidos opõem-se a qualquer tentativa de alterar os resultados das recentes eleições ou de impedir a transição democrática da Birmânia e agirão contra os responsáveis se estas medidas [detenções] não forem abandonadas", comunicou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.

O que pode acontecer agora?

Desde 1962 que não se sucedia um golpe de estado em Myanmar nem aparente violação da Constituição. Apesar do exército ter iniciado este golpe militar que promete prevalecer durante o próximo ano, é prevista uma revolta pública no país, visto que 70% dos eleitores desafiaram a Covid-19 para poderem votar na líder do partido LND.

Por enquanto, a ação militar parece imprudente, mas coloca Myanmar num caminho considerado perigoso. O exército de Myanmar já apelou a uma transferência de poder e promete novas eleições para breve.

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