Escritor foi convocado pela associação l'Ange Bleu a comparecer num tribunal especializado em questões relacionadas com a imprensa e liberdade de expressão.
O escritor francês Gabriel Matzneff, que está a ser investigado por violação de menores, será também julgado, a 28 de setembro de 2021, em Paris, por promover a pedofilia nos seus livros, noticia esta quarta-feira a AFP.
O escritor foi convocado pela associação de prevenção da pedofilia l'Ange Bleu a comparecer num tribunal especializado em questões relacionadas com a imprensa e com a liberdade de expressão.
Este procedimento permite que a vítima convoque o alegado autor do crime diretamente ao tribunal, sem que uma investigação prévia seja realizada. Neste caso, cabe à vítima recolher as provas de culpa do acusado.
Na convocatória, consultada pela AFP, a associação faz referência a três artigos publicados entre o final de dezembro e o início de janeiro nos jornais semanais l'Obs e L'Express, assim como no diário Le Parisien, e acusa o escritor de ter feito a apologia de atos pedófilos "e especificamente do crime de violação agravada", evocando o relacionamento que este teve com a editora e escritora Vanessa Springora.
Vanessa Springora publicou, no início de janeiro, um livro, "O Consentimento", no qual implica o escritor, hoje com 83 anos, em relações com menores de idade.
Esta publicação sobre o relacionamento que manteve com Gabriel Matzneff, na década de 1980, quando ela tinha 13 anos, levou o Ministério Público de Paris a abrir uma investigação preliminar por "violações cometidas contra menores" de 15 anos.
A alegada atração de Gabriel Matzneff por "menores de 16 anos" e pelo turismo sexual com meninos na Ásia, que o escritor relatou em livros, há muito que era tolerada no meio literário parisiense.
A polícia francesa lançou na terça-feira um apelo para encontrar testemunhas ou outras vítimas do escritor. Hoje está a ser levada a cabo uma rusga nas instalações das edições Gallimard, em Paris, no âmbito desta investigação, confirmou a AFP junto de uma fonte ligada ao processo.
Os investigadores procuravam passagens escritas por Gabriel Matzneff que não apareciam nos trabalhos que publicou.
Numa entrevista ao 'site' da ex-Biffures, em 2008, Matzneff revelou que "autocensurou passagens" dos seus escritos que corriam o risco de serem "consideradas especialmente escandalosas" e que as colocou "em segurança dentro de um cofre do banco".
Segundo o jornal francês de investigação Mediapart, esse cofre foi "localizado" pelos investigadores.
Uma fonte próxima do processo, que confirmou por seu lado as informações da Mediapart, indicou à AFP que a investigação visa também Christian Giudicelli, editor de Gabriel Matzneff na Gallimard, e seu companheiro de viagem às Filipinas.
No início de janeiro, a justiça francesa abriu um inquérito ao escritor Gabriel Matzneff por suspeita de violação de menores, e propôs-se a encontrar todas as vítimas deste escritor, tanto em França como no resto do mundo.
A decisão do Ministério Público, francês, surgiu na sequência da publicação de "O Consentimento", obra autobiográfica de Vanessa Springora, na qual esta relata a relação que manteve nos anos 1980 com Gabriel Matzneff, ele com 50 anos e ela com menos de 14.
A autora, agora com 47 anos, descreve essa relação como pura manipulação, tanto mais que era conhecida a atração de Gabriel Matzneff por jovens com menos de 16 anos, de ambos os sexos.
No seu livro, Vanessa Springora denuncia sobretudo a negligência dos adultos, revelando que Gabriel Matzneff começou a seduzi-la em cerimónias públicas a que ia com a mãe.
A autora admite o seu consentimento no relacionamento que manteve com o escritor, mas questiona-se sobre o significado de "consentimento" naquela idade.
Enquanto o livro de Vanessa Springora sobe nas vendas, as editoras, que durante anos apoiaram Gabriel Matzneff, correm na direção contrária, retirando os seus escritos do mercado, incluindo "Os menores de 16 anos", um ensaio publicado pela primeira vez em 1974, no qual publicitou a sua preferência por jovens e crianças.
Esse ensaio surgiu na sequência do movimento intelectual e da convulsão social em França, desencadeados pelos tumultos e greves de Maio de 1968, quando os manifestantes tentaram libertar-se da antiga ordem política e social do país e construir uma nova, sob o 'slogan' "é proibido proibir".
Para alguns, essas mudanças incluíam atitudes permissivas em relação ao sexo, mesmo com menores.
Os ativistas de movimentos de proteção da criança querem acreditar que a repulsa provocada pelo livro de Vanessa Springora revela uma mudança de atitudes em França, e mostram satisfação com o facto de a atenção estar agora concentrada em Gabriel Matzneff, um escritor que foi autorizado a deslizar lentamente na relativa obscuridade, tornando-se desconhecido para muitos leitores mais jovens e aparentemente livre do risco de problemas legais e financeiros que agora enfrenta.
"O Maio de 68 não deveria ter sido uma licença para violar crianças, e no entanto foi nisso que se tornou", consieram os ativistas, apontando que "este livro ajuda, porque é a primeira vez que uma vítima de Gabriel Matzneff se manifesta. O grande interesse deste livro é que está a identificar o problema de França com o consentimento".
Em sua defesa, após o impacto causado pela publicação do livro de Vanessa Springora, Gabriel Matzneff denunciou os "injustos e excessivos" ataques que tem recebido, reivindicando a "beleza do amor" que viveu com Vanessa Springora de quem leu, recentemente num vídeo, cartas que ela lhe escrevia e nas quais lhe declarava a sua paixão.
Vanessa Springora é a primeira a testemunhar entre as adolescentes seduzidas por Gabriel Matzneff, autor há muito celebrado pela comunidade literária francesa e laureado com o prémio Renaudot, em 2013.
Aliás, a autora de "O consentimento" confessou que, para ela, esse prémio foi "insuportável" e foi um dos fatores que a levou a escrever sobre as suas experiências e sobre os adultos que culpa por não a terem protegido, enquanto adolescente vulnerável". Os adultos visados incluem a mãe, que conhecia o relacionamento, o pai ausente e a polícia francesa, entre outros.
Agora editora literária, aos 47 anos, Vanessa Springora luta também para entender por que é que os editores de Gabriel Matzneff comercializaram "os seus escritos mais nauseabundos".
Acusando o impacto causado pelo livro de Vanessa Springora, a editora francesa Gallimard, que publicava Gabriel Matzneff desde 1990, interrompeu em janeiro a comercialização dos livros do escritor.
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