Secretariado das Nações Unidas continua "seriamente preocupado" com a situação dentro e ao redor daquelas instalações ucranianas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu esta terça-feira que Rússia e Ucrânia se comprometam em travar atividades militares perto ou a partir da central nuclear de Zaporijia e que garantam um acordo por um perímetro desmilitarizado.
Numa reunião do Conselho de Segurança sobre a situação na central nuclear, convocada pela Rússia, Guterres declarou que o secretariado das Nações Unidas "orgulhosamente apoiou" a "missão crítica" da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) em Zaporijia, mas frisou que continua "seriamente preocupado" com a situação dentro e ao redor daquelas instalações ucranianas, ocupadas pelas tropas russas.
"Qualquer ação que possa colocar em risco a integridade física, a segurança ou a proteção da central nuclear é inaceitável. Todos os esforços para restabelecer a central como infraestrutura puramente civil são vitais", disse Guterres.
Nesse sentido, o secretário-geral da ONU pediu um compromisso por parte das forças russas, para retirar todo o pessoal e equipamentos militares daquele perímetro, e um compromisso das forças ucranianas, de não entrar naquela área.
Guterres aproveitou para lamentar o facto de que, no mês passado, a 10.ª Conferência de Revisão das Partes do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares não ter conseguido chegar a um consenso.
"O documento final procurou abordar a questão da segurança das centrais nucleares em zonas de conflito armado, inclusive na Ucrânia. Mas a Conferência não conseguiu chegar a um consenso para aproveitar a oportunidade para fortalecer o Tratado", disse o ex-primeiro-ministro português.
Horas antes da reunião do Conselho de Segurança, a AIEA divulgou o seu relatório da visita à central de Zaporijia, no qual exigiu o estabelecimento de uma "zona de segurança" em redor daquela central nuclear ucraniana, para que se evite um acidente grave.
Perante as missões diplomáticas presentes no Conselho de Segurança, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, apresentou detalhes do relatório e afirmou que "estão a brincar com o fogo".
Detalhando sete pilares do que considera ser fundamentais para a segurança das instalações, Grossi afirmou que o primeiro - dedicado à integridade física da central - "foi comprometido e continua a ser".
"Vi isso pessoalmente e é inaceitável. Estão a brincar com o fogo e algo catastrófico pode acontecer. É por isso que pedimos a criação de uma zona de segurança na central de Zaporijia", declarou, por videoconferência.
O segundo pilar referido por Grossi é que todos os sistemas e equipamentos da central deveriam estar totalmente funcionais e a operar normalmente.
"Mas vimos que estão a operar em circunstancias desafiadoras, com equipamento militar em várias áreas", observou.
Também o 'staff' da central encontra-se a trabalhar em circunstâncias difíceis, com a AEIA a recomendar que os trabalhadores sejam ser autorizados a regressar "à sua rotina normal de responsabilidade e autoridade", incluindo a receberam suporte familiar.
O quarto pilar referido por Grossi foi a necessidade de uma fonte de energia externa: "é crucial, porque, sem isso, a central pode perder funcionalidades cruciais, incluindo o arrefecimento de reatores. Sem isso, podemos ter um acidente nuclear", alertou.
Grossi chamou ainda a atenção para a necessidade de cadeias logísticas e de transporte ininterruptas, uma vez que está em causa a maior central nuclear da Europa, que, "neste nível industrial", requer um constante fluxo de equipamentos, mas que acabou interrompido pela guerra.
Em sexto lugar, o diplomata argentino destacou que os equipamentos de monitorização de radiação da central, fundamentais para se medir os níveis de radiação da mesma, foram afetados pelo conflito.
Por último, o diretor da AEIA alertou que, para um bom funcionamento, a central precisa de linhas de comunicação continuas e fidedignas com o regulador ucraniano e outras organizações. Contudo, "vimos repetidamente que estas linhas foram interrompidas", disse.
Rafael Grossi, que liderou a visita de inspeção, afirmou que se tratou de "uma missão histórica" e que "permitiu fazer um relatório imparcial e técnico da situação".
"As missões anteriores foram para apanhar os pedaços, mas esta missão foi para impedir que algo terrível aconteça", declarou.
Esta é a terceira reunião do Conselho de Segurança sobre a Central de Zaporijia, após as reuniões sobre o assunto nos dias 11 e 23 de agosto, ambas solicitadas pela Rússia.
Já o embaixador russo junto à ONU lamentou que o relatório da AIEA não aponte para a responsabilidade da Ucrânia, que Moscovo acusa de ter bombardeado a central nuclear.
"Lamentamos que no seu relatório (...) a fonte desses atentados não seja nomeada diretamente", declarou Vasily Nebenzya, considerando que este relatório era uma "confirmação" de que o " única ameaça" ao local veio de "bombardeamentos e sabotagens pelas forças armadas ucranianas".
Nebenzya saudou ainda a decisão da AIEA de estabelecer uma presença permanente na central de Zaporijia.
Por outro lado, e sem surpresas, os diplomatas ocidentais apontaram o dedo para a responsabilidade da Rússia, que ocupa o local.
"Apesar da música e da dança da Rússia aqui hoje para evitar o reconhecimento da responsabilidade pelas suas ações, a Rússia não tem o direito de expor o mundo a riscos desnecessários e à possibilidade de catástrofe nuclear. Pior, esta é uma situação inteiramente criada pela Rússia", disse o embaixador norte-americano para Assuntos Políticos Especiais, Jeffrey DeLaurentis.
"A comunidade internacional pediu que a Rússia evitasse a usina nuclear. Em vez disso, as tropas russas atacaram e tomaram a instalação, colocando em risco os Sete Pilares da AIEA de segurança e proteção nuclear", acrescentou o diplomata norte-americano.
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