Acidente, brincadeira infeliz ou fatalidade, a morte do infante Alfonso de Borbón faz hoje 50 anos no primeiro piso de Vila Geralda, no Estoril, foi uma tragédia para seu pai, D. Juan, e a oportunidade que Francisco Franco, ditador de Espanha, aproveitou para ficar com todo o poder sobre o futuro da monarquia.
E o generalíssimo disse-o no cara do herdeiro do trono explicando-lhe: “Olhe para si mesmo alteza... Dois irmãos hemofílicos, uma filha cega e um filho morto a tiro. Uma tal acumulação de desgraças numa só família não pode agradar ao povo espanhol.”
Após a morte do infante Alfonso, de 14 anos, em dia de Quinta-feira Santa, Franco passou a gerir ainda mais à vontade a sua sucessão. Manteve em lume brando a polémica entre falangistas e monárquicos que só se resolveu com a sua própria morte em 1975. Pelo contrário, D. Juan, filho do rei Alfonso XIII e conde de Barcelona, perdeu o ente mais querido e a única hipótese de embaraçar Franco, através da mudança dos direitos de sucessão de Juan Carlos para Alfonso. O desgosto foi enorme. Viveu sempre triste e por alguma razão sentimental morreu dois dias e 37 anos depois, em 1 de Abril de 1993. O final de Março era o período do ano que mais lhe custava viver.
O mesmo se pode dizer de sua mulher , D. Maria de las Mercedes, que sempre encarara como provação de Deus o facto de dar à luz uma filha cega de nascença, D. Margarita. Com a morte do infante Alfonso caiu numa irrecuperável depressão. Nunca se desculpou a si o facto de ter entregue a Juan Carlos, o actual rei, então com 18 anos, a pistola Long Star de calibre 22 que o pai lhe tirara e guardara fechada, depois de na noite anterior os rapazes andarem a atirar aos lampiões dos candeeiros de rua, deixando quase meio Estoril às escuras.
Do tiro mortífero pouco se sabe. Franco, que controlou o comunicado oficial e única notícia publicada na Imprensa do dia seguinte, proibiu qualquer investigação (ver caixa). Não lhe interessavam pormenores. Apenas o facto: morrera Alfonso que durante 36 anos esperou no cemitério da Guia, em Cascais, a transladação para o Panteão dos Infantes, no Escorial, a nordeste de Madrid.
ACIDENTE, TROPELIA OU AZAR
São divergentes os testemunhos do que aconteceu pelas 20h30 de 29-3-1956 no piso superior de Vila Geralda, no Estoril. Pode ter sido o próprio Alfonso a brincar com a pistola diante do irmão mais velho ou Juan Carlos a apontar-lhe numa brincadeira perigosa sem intenção de premir o gatilho ou ainda um azar, com Alfonso que descera à procura de comida a bater com a porta no braço de Juan Carlos, provocando-lhe o disparo. O certo é que uma única e pequena bala entrou pelo nariz e alojou-se de forma mortal no cérebro de Alfonso. Na altura, D. Juan cobriu o filho com a bandeira de Espanha e obrigou Juan Carlos a jurar que nada fizera de propósito. E acabou. Franco, com a conivência de Salazar, proibiu investigações e D. Juan fez desaparecer a arma atirando-a ao mar. Talvez esteja debaixo da areia na praia do Tamariz.
DUAS MISSAS E UMA VITÓRIA NO GOLFE
Os dois irmãos, Juan Carlos e Alfonso, estudavam ambos em Espanha – o primeiro na Academia Militar de Saragoça e o mais novo num colégio de Madrid – e estavam no Estoril, em férias de Páscoa. No dia 29 de Março de 1956, assistiram com os pais e as irmãs à missa da manhã na igreja de Santo António do Estoril para comungar – a comunhão exigia então jejum absoluto desde a meia-noite do dia anterior – e voltaram lá ao fim da tarde para as cerimónias do Lava-Pés e Última Ceia. Durante a tarde, Alfonso apurou-se no Club de Golf do Estoril para a final da Taça juvenil Visconde Pereira Machado. Não chegou a disputá-la, mas o troféu continua e dota hoje o Campeonato Nacional de Clubes.
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