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Líder da oposição moçambicana diz que duplo homícidio em 2024 "foi político"

Há precisamente um ano, o crime deu origem, dois dias depois, à contestação popular ao processo eleitoral, que se prolongou, num cenário de violência e cerca de 400 mortos, por mais de cinco meses.

20 de outubro de 2025 às 15:24

O presidente do Podemos, maior partido da oposição moçambicana, afirma que o homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe, há um ano, apoiantes do então candidato presidencial Venâncio Mondlane, foi um "assassinato político", pedindo um país "justo" durante eleições.

"Continuamos convencidos de que este foi um assassinato político, de motivações políticas. É por isso que, se calhar, está a ser difícil trazer ao lume quem, de facto, terá feito isso e por que razões", disse em Inhambane, região sul, o presidente do Podemos, Albino Forquilha, citado esta segunda-feira pela comunicação social.

O político, que após as eleições gerais de 09 de outubro de 2024 ascendeu a líder da oposição em Moçambique, falava aos jornalistas à margem de cerimónia de homenagem a Elvino Dias e Paulo Guambe - natural da província de Inhambane -, um ano após o homicídio, na noite de 18 para 19 de outubro, numa emboscada na avenida Joaquim Chissano, centro de Maputo, poucos dias após as eleições gerais, crime que continua por esclarecer.

O presidente do partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) manifestou o objetivo de "um país justo, onde as eleições são feitas e ganha, efetivamente, a escolha do povo moçambicano".

"Esta é a melhor forma de continuarmos a homenagear os dois filhos do povo moçambicano e outros tantos filhos que morreram durante as manifestações [pós-eleitorais]. Foi-nos prometido que efetivamente teríamos o esclarecimento deste assassinato e até agora não temos informação nenhuma", lamentou Forquilha.

Há precisamente um ano, o crime deu origem, dois dias depois, à contestação popular ao processo eleitoral, que se prolongou, num cenário de violência e cerca de 400 mortos, por mais de cinco meses.

Elvino Dias, conhecido em Moçambique como "advogado do povo", pelas causas sociais e apoio que prestava sobretudo aos mais desfavorecidos, morreu numa emboscada, crime sem explicação e associado desde então a motivações políticas.

Na altura era assessor jurídico de Venâncio Mondlane e o carro que conduzia, no centro de Maputo, foi intercetado por duas viaturas, de onde saíram homens armados que fizeram dezenas de disparos, atingindo mortalmente, além de Elvino Dias, de 45 anos, também Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que apoiou aquele candidato presidencial nas eleições de há um ano.

A polícia moçambicana disse na sexta-feira à Lusa ainda estar a investigar o duplo homicídio de Elvino Dias e Paulo Guambe, sem avançar mais informações por questões de segurança.

João Adriano, porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic) em Maputo, garantiu que "a investigação não está no mesmo estágio", contudo, pela natureza do crime e da sua investigação, disse não ser seguro avançar qualquer dado a respeito: "É um processo extremamente sensível e complexo mas está a ser feito um trabalho com vista ao esclarecimento do que aconteceu".

O Conselho Constitucional proclamou em 23 de dezembro de 2024, dois meses e meio após a votação, Daniel Chapo como vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos nas eleições gerais de 09 de outubro, seguindo-se Venâncio Mondlane, com 24%, mas que nunca reconheceu os resultados.

A plataforma eleitoral Decide, organização da sociedade civil que monitoriza os processos eleitorais avançou em abril que pelo menos 388 pessoas foram mortas e mais de 800 baleadas em cerca de cinco meses de protestos pós-eleitorais, 90% dos quais "foram causados por disparos com recurso a balas reais".

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