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Índia ataca nove zonas do Paquistão, Jammu e Caxemira

O que está em causa no conflito entre a Índia e Paquistão? Um conjunto de perguntas e respostas

Conflito indo-paquistanês dura há mais de sete décadas. Intensificação das operações militares agrava tensão nuclear.

Conflito indo-paquistanês dura há mais de sete décadas. Intensificação das operações militares agrava tensão nuclear.

08 de maio de 2025 às 15:44

O ataque em Pahalgam de 22 de abril, que causou a morte de 26 turistas, reacendeu o conflito de longa data na região de Caxemira disputada pela Índia e pelo Paquistão. Nova Deli atribuiu o atentado a grupos islamitas apoiados por Islamabade e respondeu com ataques aéreos contra alvos no Paquistão e na Caxemira sob controlo paquistanês. A escalada entre os dois países está a preocupar os líderes mundiais, que temem o agudizar do conflito entre as duas potências com armas nucleares. Para compreender melhor as origens e os atores envolvidos, respondemos a algumas das perguntas mais frequentes.   

infografia

Caxemira e o início da tensão

A Índia e o Paquistão são duas potências nucleares vizinhas que disputam o território de Caxemira há mais de sete décadas. Com o fim do domínio colonial britânico, em 1947, a região ficou dividida em duas partes: o Paquistão, muçulmano, e a Índia, hindu.  

O líder hindu da Caxemira, que no início do processo resistiu à cedência da soberania do território, acabou por aceitar a adesão à Índia em troca de apoio militar. A cedência aconteceu após a incursão de milícias paquistanesas em algumas zonas da região - o que levou ao primeiro conflito entre os dois países. Desde então, a Índia e o Paquistão já entraram em guerra três vezes por causa da região de Caxemira. Enquanto o Paquistão é acuso de apoiar grupos separatistas e militantes islâmicos que operam na parte indiana da Caxemira, a Índia acusa, ainda, o país de fomentar o terrorismo na região. 

A linha divisória de 1949 e 1972 

A linha divisória de 1949 marcou a separação militar entre a Índia e o Paquistão na região de Caxemira, depois da primeira guerra entre os dois países, com o mediar do cessar-fogo a ser garantido pela ONU.  

A partir de 1972 e no seguimento de uma nova guerra, a linha passou a denominar-se de Linha de Controlo . Apesar de não ser uma fronteira reconhecida a nível internacional, mantém-se como a zona que separa as regiões controladas por ambas as potências nucleares: A paquistanesa, a norte e a oeste e a indiana, a sul.  

Em 1999, ambos os países chegaram unir esforços para uma paz na região de Caxemira, com um encontro entre os então primeiros-ministro paquistanês, Nawaz Sharif e o indiano Atal Bihari Vajpayee. No entanto, os conflitos voltaram poucos meses depois.  

Os grupos rebeldes armados na região têm vindo a resistir há décadas às ordens de Nova Deli, tendo como objetivo unir o território através da anexação das áreas sob domínio paquistanês.  Por outro lado, se a Índia defende que Caxemira é uma parte integrante do país, a posição oficial do Paquistão é a de que Caxemira é um território ainda em disputa.  

Em 2019, o governo indiano revogou o Artigo 370 da Constituição e aboliu o estatuto especial da Caxemira, colocando fim a décadas de autonomia parcial. A decisão levou ao corte de comunicações, detenções de líderes locais e ao agravar da instabilidade na região, até agora altamente militarizada.  

O que provocou agora o reavivar do conflito ? 

O conflito reacendeu-se a 22 de abril, depois de um ataque contra turistas do lado de Caxemira controlado pela índia, na região de Pahalgam, ter sido atribuído pelos indianos a grupos islamitas apoiados pelo Paquistão.  Morreram 26 pessoas, na sua maioria hindus. O governo de Nova Deli responsabilizou Islamabade pelo ataque. Seguiram-se  um conjunto de represálias diplomáticas ao Paquistão, apesar do país vizinho ter negado qualquer envolvimento no ataque  

Esta foi a ação terrorista mais mortífera na Índia desde os atentados de 2008, na cidade de Mumbai. 

A Frente de Resistência reivindicou num primeiro instante o ataque de 22 de abril, mas acabou por voltar atrás mais tarde.  

Um dia depois do ataque, Nova Deli ordenou o fecho do único posto fronteiriço que ainda estava aberto entre as duas regiões beligerantes e proibiu a entrada dos paquistaneses, exceto os que detinham um visto extraordinário. Como retaliação às medidas do primeiro-ministro, Narendra Modi, o Paquistão bloqueou vistos para indianos e respondeu da mesma forma no que toca ao pessoal diplomático e militar. O Paquistão suspendeu ainda os acordos bilaterais e as trocas comerciais com a Índia. O espaço aéreo foi fechado às companhias indianas. 

O “ato flagrante de guerra” e a “operação Sindoor” 

7 de maio, a Índia retaliou e levou a cabo ataques contra a região da Caxemira paquistanesa e outras três posições em território soberano de Islamabade. O executivo paquistanês condenou os atos, apelidados de “ato flagrante de guerra” e que provocaram, pelo menos, 26 mortos e 46 feridos.  

A Índia nomeou a “operação Sindoor”, onde foram atingidos vários locais paquistaneses que forneciam a “infraestrutura terrorista” de onde os ataques tiveram origem, segundo um comunicado do governo indiano. Por outro lado, o governo paquistanês afirma que os ataques da Índia atingiram locais civis, incluindo mesquitas, e rejeita a versão indiana de que os alvos eram campos de milícias, acusando o país vizinho de deturpar os factos. 

Segundo avançou a Reuters, as entidades paquistanesas afirmaram que foram ainda atingidas barragens e outros locais hidroelétricos, prometendo responder aos bombardeamentos.  

As forças armadas dos dois países têm-se envolvido numa intensa troca de tiros e bombardeamentos em vários pontos ao longo da linha de controlo que separa as duas zonas de Caxemira. O Paquistão reclama ter abatido cinco aviões militares indianos.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano comunicou, entretanto, que os serviços secretos do país preveem novos ataques de células terroristas sediadas no Paquistão, o que segundo as autoridades “criou uma obrigação de dissuadir e prevenir”.  

O que se sabe sobre o grupo Frente de Resistência? 

Tendo surgido em 2019, a Frente de Resistência, também conhecido como 'Resistência da Caxemira', é considerado um grupo que mantém atividade na região de Jammu e Caxemira, administrada pela Índia. Considerado como um grupo terrorista pelo governo indiano, é referido como uma ramificação do também considerado grupo terrorista pela ONU, Lashkar-e-Taiba, sediado no Paquistão.  

A Frente de Resistência tem sido apontada como responsável por múltiplos ataques que vitimaram tanto civis quanto forças de segurança, incluindo a execução de hindus da região da Caxemira, funcionários públicos e outros trabalhadores. Os serviços de informação indianos revelaram, ainda, que o grupo tem feito ameaças online contra grupos pró-índia nos últimos anos. 

A questão da disputa pela água 

Depois do ataque de 22 de abril e no seguimento do corte das relações diplomáticas com o Paquistão, a Índia anunciou a suspensão imediata do Tratado das Águas do Indo entre os dois países, reduzindo o fluxo de água para o território paquistanês.  

Assinado em 1960, o Tratado tem regulado a partilha dos principais rios da bacia do Indo entre a Índia e o Paquistão, mesmo durante períodos de forte tensão. O acordo atribui à Índia o controlo dos rios orientais e ao Paquistão os rios ocidentais, permitindo mesmo assim à Índia usos limitados nestes últimos.  

A Caxemira é uma região montanhosa dos dois países onde a água abundante tem sido usada como instrumento de guerra.

Estes acontecimentos podem transformar-se num conflito generalizado entre os dois Estados com armas nucleares? 

A posse de armas nucleares por ambos os países acende alertas a nível global sempre que surgem novos episódios de tensão entre as duas potências. Nenhum dos dois países aderiu ao Tratado da ONU para a Não-Proliferação de Armas Nucleares, permanecendo fora do principal acordo internacional que tem como objetivo limitar a disseminação de armamento nuclear. 

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou publicamente a preocupação com o possível agravar do conflito, dizendo-se "muito preocupado com as operações militares" da Índia para lá das suas fronteiras. O secretário-geral das Nações Unidas apelou à "máxima contenção militar" dos dois países. "O mundo não pode permitir um conflito militar entre a Índia e o Paquistão”, afirmou.  

Habitantes da zona de Caxemira sob administração paquistanesa relataram a várias agências internacionais que tiveram de abandonar as suas casas e procurar refúgio devido à escalada da violência.  

A escalada atual do conflito tem vindo a merecer reações das entidades governativas a nível internacional. A China - que também controla uma pequena parte da Caxemira - lamentou a ação militar indiana contra o Paquistão, chamando à atenção para o facto de ambos os países serem potências nucleares. Por outro lado, o Secretário de Estado norte-americano Marco Rubio garantiu estar a acompanhar a situação. “Os terroristas devem saber que não há lugar onde se possam esconder dos seus crimes hediondos contra inocentes”, publicou o embaixador de Israel na Índia, na rede social X.  

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