Conflito indo-paquistanês dura há mais de sete décadas. Intensificação das operações militares agrava tensão nuclear.
Conflito indo-paquistanês dura há mais de sete décadas. Intensificação das operações militares agrava tensão nuclear.
O ataque em Pahalgam de 22 de abril, que causou a morte de 26 turistas, reacendeu o conflito de longa data na região de Caxemira disputada pela Índia e pelo Paquistão. Nova Deli atribuiu o atentado a grupos islamitas apoiados por Islamabade e respondeu com ataques aéreos contra alvos no Paquistão e na Caxemira sob controlo paquistanês. A escalada entre os dois países está a preocupar os líderes mundiais, que temem o agudizar do conflito entre as duas potências com armas nucleares. Para compreender melhor as origens e os atores envolvidos, respondemos a algumas das perguntas mais frequentes.
Caxemira e o início da tensão
A Índia e o Paquistão são duas potências nucleares vizinhas que disputam o território de Caxemira há mais de sete décadas. Com o fim do domínio colonial britânico, em 1947, a região ficou dividida em duas partes: o Paquistão, muçulmano, e a Índia, hindu.
O líder hindu da Caxemira, que no início do processo resistiu à cedência da soberania do território, acabou por aceitar a adesão à Índia em troca de apoio militar. A cedência aconteceu após a incursão de milícias paquistanesas em algumas zonas da região - o que levou ao primeiro conflito entre os dois países. Desde então, a Índia e o Paquistão já entraram em guerra três vezes por causa da região de Caxemira. Enquanto o Paquistão é acuso de apoiar grupos separatistas e militantes islâmicos que operam na parte indiana da Caxemira, a Índia acusa, ainda, o país de fomentar o terrorismo na região.
A linha divisória de 1949 e 1972
A linha divisória de 1949 marcou a separação militar entre a Índia e o Paquistão na região de Caxemira, depois da primeira guerra entre os dois países, com o mediar do cessar-fogo a ser garantido pela ONU.
A partir de 1972 e no seguimento de uma nova guerra, a linha passou a denominar-se de Linha de Controlo . Apesar de não ser uma fronteira reconhecida a nível internacional, mantém-se como a zona que separa as regiões controladas por ambas as potências nucleares: A paquistanesa, a norte e a oeste e a indiana, a sul.
Em 1999, ambos os países chegaram unir esforços para uma paz na região de Caxemira, com um encontro entre os então primeiros-ministro paquistanês, Nawaz Sharif e o indiano Atal Bihari Vajpayee. No entanto, os conflitos voltaram poucos meses depois.
Os grupos rebeldes armados na região têm vindo a resistir há décadas às ordens de Nova Deli, tendo como objetivo unir o território através da anexação das áreas sob domínio paquistanês. Por outro lado, se a Índia defende que Caxemira é uma parte integrante do país, a posição oficial do Paquistão é a de que Caxemira é um território ainda em disputa.
Em 2019, o governo indiano revogou o Artigo 370 da Constituição e aboliu o estatuto especial da Caxemira, colocando fim a décadas de autonomia parcial. A decisão levou ao corte de comunicações, detenções de líderes locais e ao agravar da instabilidade na região, até agora altamente militarizada.
O que provocou agora o reavivar do conflito ?
O conflito reacendeu-se a 22 de abril, depois de um ataque contra turistas do lado de Caxemira controlado pela índia, na região de Pahalgam, ter sido atribuído pelos indianos a grupos islamitas apoiados pelo Paquistão. Morreram 26 pessoas, na sua maioria hindus. O governo de Nova Deli responsabilizou Islamabade pelo ataque. Seguiram-se um conjunto de represálias diplomáticas ao Paquistão, apesar do país vizinho ter negado qualquer envolvimento no ataque
Esta foi a ação terrorista mais mortífera na Índia desde os atentados de 2008, na cidade de Mumbai.
A Frente de Resistência reivindicou num primeiro instante o ataque de 22 de abril, mas acabou por voltar atrás mais tarde.
Um dia depois do ataque, Nova Deli ordenou o fecho do único posto fronteiriço que ainda estava aberto entre as duas regiões beligerantes e proibiu a entrada dos paquistaneses, exceto os que detinham um visto extraordinário. Como retaliação às medidas do primeiro-ministro, Narendra Modi, o Paquistão bloqueou vistos para indianos e respondeu da mesma forma no que toca ao pessoal diplomático e militar. O Paquistão suspendeu ainda os acordos bilaterais e as trocas comerciais com a Índia. O espaço aéreo foi fechado às companhias indianas.
O “ato flagrante de guerra” e a “operação Sindoor”
A 7 de maio, a Índia retaliou e levou a cabo ataques contra a região da Caxemira paquistanesa e outras três posições em território soberano de Islamabade. O executivo paquistanês condenou os atos, apelidados de “ato flagrante de guerra” e que provocaram, pelo menos, 26 mortos e 46 feridos.
A Índia nomeou a “operação Sindoor”, onde foram atingidos vários locais paquistaneses que forneciam a “infraestrutura terrorista” de onde os ataques tiveram origem, segundo um comunicado do governo indiano. Por outro lado, o governo paquistanês afirma que os ataques da Índia atingiram locais civis, incluindo mesquitas, e rejeita a versão indiana de que os alvos eram campos de milícias, acusando o país vizinho de deturpar os factos.
Segundo avançou a Reuters, as entidades paquistanesas afirmaram que foram ainda atingidas barragens e outros locais hidroelétricos, prometendo responder aos bombardeamentos.
As forças armadas dos dois países têm-se envolvido numa intensa troca de tiros e bombardeamentos em vários pontos ao longo da linha de controlo que separa as duas zonas de Caxemira. O Paquistão reclama ter abatido cinco aviões militares indianos.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano comunicou, entretanto, que os serviços secretos do país preveem novos ataques de células terroristas sediadas no Paquistão, o que segundo as autoridades “criou uma obrigação de dissuadir e prevenir”.
O que se sabe sobre o grupo Frente de Resistência?
Tendo surgido em 2019, a Frente de Resistência, também conhecido como 'Resistência da Caxemira', é considerado um grupo que mantém atividade na região de Jammu e Caxemira, administrada pela Índia. Considerado como um grupo terrorista pelo governo indiano, é referido como uma ramificação do também considerado grupo terrorista pela ONU, Lashkar-e-Taiba, sediado no Paquistão.
A Frente de Resistência tem sido apontada como responsável por múltiplos ataques que vitimaram tanto civis quanto forças de segurança, incluindo a execução de hindus da região da Caxemira, funcionários públicos e outros trabalhadores. Os serviços de informação indianos revelaram, ainda, que o grupo tem feito ameaças online contra grupos pró-índia nos últimos anos.
A questão da disputa pela água
Depois do ataque de 22 de abril e no seguimento do corte das relações diplomáticas com o Paquistão, a Índia anunciou a suspensão imediata do Tratado das Águas do Indo entre os dois países, reduzindo o fluxo de água para o território paquistanês.
Assinado em 1960, o Tratado tem regulado a partilha dos principais rios da bacia do Indo entre a Índia e o Paquistão, mesmo durante períodos de forte tensão. O acordo atribui à Índia o controlo dos rios orientais e ao Paquistão os rios ocidentais, permitindo mesmo assim à Índia usos limitados nestes últimos.
A Caxemira é uma região montanhosa dos dois países onde a água abundante tem sido usada como instrumento de guerra.
Estes acontecimentos podem transformar-se num conflito generalizado entre os dois Estados com armas nucleares?
A posse de armas nucleares por ambos os países acende alertas a nível global sempre que surgem novos episódios de tensão entre as duas potências. Nenhum dos dois países aderiu ao Tratado da ONU para a Não-Proliferação de Armas Nucleares, permanecendo fora do principal acordo internacional que tem como objetivo limitar a disseminação de armamento nuclear.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou publicamente a preocupação com o possível agravar do conflito, dizendo-se "muito preocupado com as operações militares" da Índia para lá das suas fronteiras. O secretário-geral das Nações Unidas apelou à "máxima contenção militar" dos dois países. "O mundo não pode permitir um conflito militar entre a Índia e o Paquistão”, afirmou.
Habitantes da zona de Caxemira sob administração paquistanesa relataram a várias agências internacionais que tiveram de abandonar as suas casas e procurar refúgio devido à escalada da violência.
A escalada atual do conflito tem vindo a merecer reações das entidades governativas a nível internacional. A China - que também controla uma pequena parte da Caxemira - lamentou a ação militar indiana contra o Paquistão, chamando à atenção para o facto de ambos os países serem potências nucleares. Por outro lado, o Secretário de Estado norte-americano Marco Rubio garantiu estar a acompanhar a situação. “Os terroristas devem saber que não há lugar onde se possam esconder dos seus crimes hediondos contra inocentes”, publicou o embaixador de Israel na Índia, na rede social X.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.