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ONU questiona proveniência de armas que mataram centenas de trabalhadores humanitários

"No ano passado, foram mortos mais de 380 trabalhadores humanitários, o maior número de sempre, e já são 270 este ano", avançou Tom Fletcher.

15 de setembro de 2025 às 21:20

O subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU, Tom Fletcher, questionou esta segunda-feira a proveniência das armas usadas nas mortes de centenas de trabalhadores humanitários ao redor do mundo, mas com especial incidência em Gaza.

"Estamos sob ataque. No ano passado, foram mortos mais de 380 trabalhadores humanitários, o maior número de sempre, e já são 270 este ano. É um recorde que temo que seja novamente batido. E esta violência contra nós - em locais como Iémen, por exemplo, e, claro, os Territórios Palestinianos Ocupados, Gaza, - está de alguma forma a ser normalizada", disse Fletcher, numa conferência de imprensa em Nova Iorque.

"É uma era de impunidade. E há uma pergunta que gostaria que fosse feita com mais frequência: de onde vêm estas armas que nos estão a matar e a matar aqueles a quem servimos?", questionou, observando: "Elas não surgem do nada".

A Faixa de Gaza é de longe o local onde mais trabalhadores humanitários têm sido mortos nos últimos dois anos.

Fletcher defendeu esta segunda-feira a necessidade de uma "conversa mais aprofundada" não só sobre os obstáculos legais que devem ser colocados perante os ataques contra trabalhadores humanitários, mas também sobre a "impunidade" que reina e os danos físicos que estão a ser causados às equipas e civis no terreno.

"Gaza, claro, é onde a maioria [dos trabalhadores humanitários mortos] estava. Mas também vimos isso a acontecer nas últimas semanas na Ucrânia, (...) Iémen e Haiti. Em todas estas crises, estamos a enfrentar riscos crescentes. E estas armas não vêm do nada", insistiu Fletcher, frisando que o armamento está a ser direcionado a pessoas que tentam salvar vidas.

Questionado se defende uma maior pressão para um embargo de armas a Israel, o líder humanitário da ONU remeteu essa resposta para os especialistas políticos, mas ressaltou que os trabalhadores humanitários e civis "estão a ser mortos de formas cada vez mais sofisticadas".

"Esta é uma das coisas realmente alarmantes (...): o uso crescente de armas autónomas letais, drones, e assim por diante, que estão a visar as nossas instalações e o nosso pessoal", lamentou.

No seu 'briefing' aos jornalistas, o subsecretário-geral refletiu ainda sobre os grandes cortes de financiamento aplicados por países como os Estados Unidos à ONU, explicando que o setor humanitário das Nações Unidas está "subfinanciado, sobrecarregado e sob ataque".

Este ano, o departamento chefiado por Fletcher só recebeu 19% do financiamento necessário, o que representa uma quebra de 40% em relação ao ano passado, disse.

"Estamos numa situação agora em que muitos gostariam de ver a ONU enfraquecida, o que, claro, é um ato imprudente de automutilação", defendeu, sem apontar nomes.

A sede da ONU acolhe na próxima semana o Debate da Alto Nível da Assembleia-Geral, onde são esperados dezenas de chefes de Estado e de Governo.

Os líderes deverão refletir sobre as conquistas das últimas oito décadas e o caminho a seguir para um sistema multilateral mais inclusivo e responsivo, esperando-se que apresentem posições e prioridades no contexto dos desafios globais.

Entre os líderes esperados para este debate estão os Presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov.

De acordo com o calendário provisório cedido pela ONU, Portugal estará representado pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Tendo em conta o cenário de grave crise financeira que a ONU atravessa, à qual se junta uma crise de legitimidade e de confiança, Tom Fletcher anteviu que a edição deste ano da Assembleia-Geral terá a "semana de alto nível mais significativa em muito tempo e que realmente definirá a ação da ONU daqui em diante".

Neste momento, as Nações Unidas têm em marcha a "Iniciativa ONU80" - um projeto que visa mudanças estruturais na própria organização multilateral devido à grave crise de financiamento que atravessa.

A "Iniciativa ONU80", promovida pelo secretário-geral, António Guterres, defende a urgência de fundir unidades, eliminar duplicações funcionais e estruturais, e cortar nas funções que são desempenhadas noutras partes do sistema, incluindo nas Operações de Manutenção da Paz.

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