Gerard foi submetido a todo tipo abusos sexuais quando frequentava uma escola masculina.
Gerard Gorman tinha 11 anos quando começou a ser chamado por um padre para uma sala à parte e a ser submetido a todo o tipo de abusos sexuais. Em 1970, começou a estudar em St. Colman's, um colégio religioso para rapazes na Irlanda, considerado um símbolo de estatuto social. Gerard era um rapaz pequeno numa escola nova em que todos pareciam intimidantes e distantes. Exceto o professor de educação religiosa Malachy Finegan, que era simpático, brincalhão e solícito. Este mais tarde acabaria por se revelar um predador sexual. Hoje, mais de cinco décadas depois, Gerard contou ao jornal The Guardian o terror vivido às mãos do pároco, um "monstro" que era "intocável".
Tudo começou num dia em que Malachy Finegan acenou para Gerard, sorriu e indicou o caminho para a sua sala particular. Quando já estava com ele, pediu-lhe que se sentasse no sofá e fechou a porta. A partir daí, o terror começou. Segundo relata ao jornal The Guardian, o padre conversou um pouco com o rapaz e depois aproximou o seu corpo. "Todo o rosto dele envolvia-me e apagava tudo o resto. Eu estava de calções e ele pôs as mãos no meu pénis", recorda.
Gerard confessa que não gritou. Explica que não percebia aquilo que estava a acontecer e que ficou "paralisado" perante os avanços do religioso. Conta também que sentia medo que alguém visse aquele momento e assumisse que a culpa era dele.
"Ouvia vozes vindas do corredor, mas em vez de esperar que me salvassem, temia ser descoberto. Tinha medo que alguém abrisse a porta e me culpasse pelo que ele estava a fazer. O que é que iriam dizer? Como é que eu ia viver com isto?", relembra.
A partir daí, começou um ciclo angustiante e os abusos tornaram-se rotina - apalpões, masturbação, violação. "O abuso era implacável. Mesmo nos dias em que não acontecia nada, eu ouvia vozes e pensava que era ele a virar a esquina. Sentia-me nas garras dele durante todo o tempo em que estava naquele sítio", conta.
Apesar de estar a viver um pesadelo, durante muito tempo Gerard optou por ficar em silêncio. Refugiava-se numa arrecadação escura e bafienta, escondida atrás de um quadro negro da sala de aula, aguardando a chegada dos pais.
Depois do primeiro ano no colégio, Gerard decidiu desafiar o pai, dizendo que não voltaria para aquele liceu. Conseguiu um acordo com a mãe que o colocou noutro colégio masculino. Ficou aliviado porque sabia que não se iria reencontrar com o seu abusador e sabia que o seu segredo estava bem guardado.
Assim que saiu do colégio, Gerard começou a revelar um comportamento agressivo e rebelde. Faltava às aulas, não utilizava o uniforme e vandalizava paredes.
Quando chegou à maioridade, Gerard conheceu a mulher com iria casar. Os traumas dificultaram a sua vida sexual, pois, por vezes ,quando fazia sexo com a esposa vislumbrava o padre e assustava-se.
Gorman, que mais tarde se tornou um pintor e decorador, recorreu ao álcool.
"O álcool era uma muleta. Quando saía com os meus amigos, pensava: 'Perdi tanta coisa e isto é divertido'. Estávamos apenas a desfrutar da diversão. Mas tornou-se muito perigoso", revela.
Um dia, quando estava num cemitério, deparou-se com a lápide do seu abusador, em forma de cruz celta recentemente erigida - a sepultura de Finegan, que morrera em 2002, respeitado e venerado. Por ficar muito perturbado com a situação, decidiu contar tudo aquilo que tinha passado à mulher.
Gerard tentou suicidar-se e deixou a família devastada. Ao sobreviver, decidiu que tinha de falar sobre a sua história e lutar pela responsabilização. Já era demasiado tarde para processar Finegan, por isso Gerard avançou com uma ação cível contra a Igreja Católica, que chegou a acordo com Gorman em 2017, após cinco anos. A Igreja reconheceu o dano e concordou em remover a lápide do padre.
Finegan não foi citado publicamente. Em 2018, Gorman fê-lo num documentário da BBC Spotlight, mas em silhueta e sob um nome falso. Veio a saber-se que Finegan teria abusado de pelo menos uma dúzia de outros rapazes.
Em 2022, Gorman sentiu-se preparado para revelar a sua identidade e contou a sua história num livro de memórias, So Young: The Taking of My Life By the Catholic Church, escrito em conjunto com o seu irmão Damian, poeta e dramaturgo. O livro inclui depoimentos de vítimas da sua família.
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