Tal como era antecipado, o secretário-geral do PSOE passou a votação à tangente.
Com cinco tentativas fracassadas no currículo, Pedro Sánchez conseguiu finalmente ser investido primeiro-ministro na votação que decorreu esta terça-feira, 7 de janeiro, no parlamento espanhol e que permite a Espanha pôr fim a quase um ano sem um governo em plenitude de funções. Tal como era antecipado, o secretário-geral do PSOE passou a votação à tangente.
Depois de um ano de crise política, com duas eleições gerais pelo meio, Sánchez terá agora uma tarefa ainda mais complexa: conferir estabilidade a Espanha e pôr fim ao persistente bloqueio político-institucional que levou à realização de quatro legislativas em quatro anos.
Todavia, não será fácil fazê-lo pois vai governar em coligação com a aliança de esquerda radical Unidas Podemos, força liderada por Pablo Iglesias com quem o líder do PSOE manteve, até aqui, uma relação com mais baixos do que altos e porque será um executivo fragilizado porque dependente do apoio de forças independentistas: a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, soberanistas de esquerda) e os nacionalistas bascos (PNV, nacionalistas de centro-direita).
Pode assim dizer-se que a governação ficará nas mãos dos independentistas catalães. Note-se que em fevereiro do ano passado, o voto contra da ERC foi decisivo para chumbar o orçamento para 2019 do então governo monopartidário de Sánchez e assim abrir a crise política que acentuou por mais 13 meses o clima de incerteza política em Espanha. Por outro lado, não tendo conseguido alcançar uma maioria óbvia de governo na sequência das eleições de abril do ano passado, Pedro Sánchez optou pela repetição de eleições precisamente para não ficar dependente de forças soberanistas.
A ERC chumbou a proposta orçamental por Sánchez ter recusado negociar com o governo autonómico da Catalunha (Generalitat) o direito à autodeterminação da região. Agora, para assegurar a abstenção da ERC, o líder socialista e o partido catalão acordaram instituir uma mesa de negociação "bilateral" com o objetivo de resolver o "conflito político" entre Madrid e a Generalitat.
Não há democracia sem governo
"O nosso dever é dar aos cidadãos aquilo para que votaram: um governo", declarou o secretário-geral do PSOE na intervenção que abriu o último dia do debate de investidura. Pedro Sánchez realçou a importância de pôr fim ao bloqueio e defendeu que não há democracia sem governo para enunciar a questão que estava em cima da mesa: "coligação progressista ou mais bloqueio?".
A resposta veio de seguida. "Vai haver um governo progressista em Espanha", proclamou antes ainda da votação e referindo-se ao primeiro governo de coligação entre partidos de esquerda desde a transição democrática. Sánchez aproveitou ainda para propor que sejam feitas alterações à lei de modo a facilitar investiduras e a dificultar a repetição de cenários de bloqueio.
O líder do Podemos e futuro vice-primeiro-ministro, Pablo Iglesias, deixou a garantia de que, com o próximo governo, haverá convivência entre nacionalismos e cada qual poderá "emocionar-se" com os símbolos que bem quiser. "Pedro: não nos vão atacar pelo que fizermos. Vão atacar-nos pelo que somos", asseverou.
O ex-número dois do Podemos e agora deputado do Más País, Íñigo Errejón, fez uma curta declaração para agradecer a Sánchez e Iglesias pelo acordo alcançado e que peca por tardio. "Este governo devia ter nascido há quatro anos, em muito melhores condições e evitando tanto desgaste pelo caminho", atirou o político que saiu do Podemos em crítica à incapacidade do partido para forjar entendimentos com o PSOE.
Pela ERC falou Montse Bassa, que exigiu a libertação "imediata" de Oriol Junqueras, líder do partido, e a anulação da sentença que o mantém preso. A terminar as intervenções, a porta-voz do PSOE, Adriana Lastra, agradeceu a Sánchez "por nunca ter perdido a força" e não ter desistido de ser primeiro-ministro para depois apontar baterias contra uma "direita radicalizada".
PP critica "governo mais radical da história"
À direita, as críticas incidiram sobretudo na aliança do PSOE ao Unidas Podemos pelo risco que tal solução representa para a constituição espanhola e para a integridade territorial do reino espanhol.
Pablo Casado, presidente do PP, sustentou que "a democracia espanhola teve dois grandes inimigos, os terroristas e os golpistas" para lamentar que Pedro Sánchez se tenha aliado aos segundos para cumprir o objetivo de governar. Casado recordou ainda que o líder socialista provocou eleições antecipadas para não ficar dependente de independentistas e, agora, governar nessa condição. Considerando este como o "governo mais radical da historia", o líder conservador antecipa que "não acabará bem".
Inés Arrimadas fez um discurso duro, defendendo que "os espanhóis não votaram para isto" e acusando Sánchez de querer "cavar trincheiras" e de, "pior de tudo", "fazê-lo desde o governo". "Sánchez quer extremos, temos de dar-lhe uma alternativa de centro", disse a líder do Cidadãos.
Santiago Abascal, presidente do Vox, aproveitou a investidura para homenagear uma mulher assassinada e defender a prisão perpétua para criminosos sexuais.
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