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Pinguins criticamente ameaçados competem por alimento com embarcações de pesca

População de pinguins-africanos diminuiu quase 80% em 30 anos, em parte devido à competição com a pesca local.

18 de novembro de 2025 às 07:45

Os pinguins-africanos (Spheniscus demersus), criticamente ameaçados de extinção, têm uma probabilidade significativamente maior de procurar alimento nas mesmas áreas que as embarcações de pesca comerciais durante anos de baixa abundância de peixe, segundo um estudo.

Esta circunstância aumenta a competição por alimento e pressiona ainda mais uma espécie já em crise, de acordo com uma nova investigação liderada pela Universidade de St. Andrews (Reino Unido).

Publicado no 'Journal of Applied Ecology', o estudo introduz uma nova métrica chamada "intensidade de sobreposição" que, pela primeira vez, mede não só a extensão do espaço partilhado entre os pinguins e as embarcações de pesca, mas também quantos pinguins são efetivamente afetados por essa sobreposição.

A população de pinguins-africanos diminuiu quase 80% nas últimas três décadas, em parte devido à competição com a pesca local, que se concentra nas sardinhas e anchovas, presas essenciais para os pinguins.

A pesca local é realizada com redes de cerco, grandes redes utilizadas para cercar cardumes de peixes.

Jacqueline Glencross, autora principal do estudo e investigadora do Instituto Escocês de Oceanos da Universidade de St Andrews, explicou que pretendiam "uma forma melhor de avaliar quantos pinguins são potencialmente afetados quando a pesca opera nas proximidades, e não apenas onde ocorre a sobreposição de habitats".

Utilizando dados de monitorização de pinguins das ilhas Robben e Dassen, a equipa, composta por investigadores da Universidade de Exeter, do Departamento de Florestas, Pesca e Ambiente da África do Sul e da BirdLife África do Sul, descobriu um aumento significativo na sobreposição de habitats durante anos de escassez de alimentos.

Em 2016, um ano com baixa biomassa de peixe, cerca de 20% dos pinguins procuravam alimentos nas mesmas zonas que os barcos de pesca ativos.

Em contraste, durante anos com populações de peixes mais abundantes, a sobreposição diminuiu para apenas 4%.

Estas descobertas sugerem que a competição entre a pesca e os pinguins pode intensificar-se quando as presas são escassas, representando o maior risco durante períodos sensíveis, como a criação das crias, quando os pinguins adultos precisam de procurar alimento de forma eficiente para alimentar as suas crias.

Ao quantificar a intensidade da sobreposição a nível populacional, o estudo fornece uma nova e poderosa ferramenta para avaliar os riscos ecológicos e orientar a gestão da pesca baseada nos ecossistemas, sublinharam os autores da investigação.

Tem também implicações práticas para o planeamento de áreas marinhas protegidas dinâmicas que possam responder em tempo real às mudanças na dinâmica predador-presa.

O pinguim-africano ganhou recentemente destaque num caso judicial histórico na África do Sul, que questionou a ausência de proibições de pesca perto de colónias de reprodução de pinguins.

No início deste ano, os setores da conservação e das pescas chegaram a acordo no Tribunal Superior sobre a necessidade de proibições de pesca perto das colónias de pinguins.

Em resposta, o governo sul-africano restabeleceu mais zonas de proibição de pesca biologicamente significativas em redor da Ilha Robben, uma das principais colónias estudadas.

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