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Presidente de Cabo Verde pede ações para colmatar escassez de recursos do mar

José Maria Neves destacou papel da ilha de São Vicente nas políticas para oceanos.

07 de junho de 2022 às 16:36

O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, destacou esta terça-feira, no Mindelo, o papel da ilha de São Vicente nas políticas para os oceanos, face ao novo paradigma dos escassos recursos marinhos, evidenciando a experiência local da aquacultura de camarão.

"A experiência de aquacultura de camarão, que já leva alguns anos, é um exemplo para provar que estes projetos são viáveis e necessários, principalmente quando se torna evidente a diminuição de recursos, nesta área. Espero que a denominada Zona Económica Marítima de São Vicente consiga estimular e dinamizar mais iniciativas do género, o que se enquadra nos seus objetivos, nomeadamente, no concernente ao aproveitamento do mar", frisou o chefe de Estado José Maria Neves, na abertura do colóquio "Os Oceanos", que decorre esta terça-feira naquela ilha.

No caso da Fazenda de Camarão, trata-se de uma ideia que nasceu há dez anos em São Vicente e cuja produção começou em 2019, chegando já a um volume anual de 30 toneladas de camarão, para exportação. Entretanto, também em termos de aquacultura, está em curso um investimento norueguês em São Vicente para a produção de atum.

Na sua intervenção, o chefe de Estado destacou a importância da investigação e disponibilização de dados sobre este tema, acreditando que ao Campus do Mar, no Mindelo, e a outras entidades ligadas ao setor, deverá ser reservado um papel importante em todo este processo, especialmente no que se refere à pesquisa e à inovação.

"A Zona Económica Marítima de São Vicente, Campus do Mar, Universidade Técnica do Atlântico, Escola do Mar, serão peças de um puzzle que se quer completo e bem encaixado para se conseguir os objetivos preconizados. Todos os esforços devem convergir no sentido de se conseguir a sustentabilidade e um equilíbrio entre o investimento responsável e um oceano sustentável", apontou.

Na abertura deste encontro, que acontece durante dois dias no Mindelo, o Presidente realçou a relevância dos dez desafios da "Década Oceanos", que se apresentam como um verdadeiro teste à consciência global, instigando a humanidade a escolher o caminho. Assim, considerou as metas preconizadas necessárias, inadiáveis e alcançáveis, mas que o compromisso de todos será determinante e decisivo.

"De entre esses desafios, pretende-se entender e combater a poluição marinha, reduzindo ou eliminando as fontes de poluição, que podem ser terrestres ou marítimas, porém, todas com impactos negativos na saúde humana e nos ecossistemas oceânicos. Procura-se, igualmente, reduzir os impactos das atividades humanas e, desta forma, proteger e restaurar ecossistemas e biodiversidade", enumerou.

De todos os desafios, destacou aquele que considera ser o mais nobre, que é o de "alimentar o planeta" pela ampliação da oferta de alimentos com recurso à pesca e ao cultivo de organismos marinhos de forma sustentável.

Outro desafio, disse, passa pelo desenvolvimento de uma economia oceânica sustentável e equitativa, através da economia do mar, nas suas mais diversas vertentes, e neste quesito constata o "elevado potencial" que o arquipélago tem por explorar.

"Cabo Verde tem encetado passos concretos para a implementação de uma economia azul, e, acredito, será bem-sucedido. Basta recordarmos do resultado espetacular das campanhas de reflorestação, nos primeiros anos da independência. Face à fúria como a natureza tem reagido à incessante agressão que vem sofrendo, com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, de entre os desafios, é de se sublinhar a pertinência de se ampliar o conhecimento sobre a relação entre os oceanos e o clima do Planeta", afirmou o chefe de Estado.

José Maria Neves pediu ainda atenção para as populações ribeirinhas, propondo aumentar a resiliência das comunidades aos riscos oceânicos, a melhoria nos serviços de alerta precoce de diversos tipos e níveis de perigo, associados aos oceanos e à costa, assim como a preparação e a resiliência da comunidade.

"Por outro lado, se compararmos o conhecimento de que dispomos, entre continentes e oceanos, verificamos que as maiores lacunas acontecem na parte marítima. Daí que um dos desafios seja o de expandir o Sistema Global de Observação dos Oceanos, o que facultará mais informações, possibilitando a tomada de decisões com maior rigor, e não menos importante, partilhar essas mesmas informações," considerou o Presidente cabo-verdiano.

O chefe de Estado defendeu ainda que o desconhecimento sobre os oceanos é uma falha que deve ser colmatada, sendo o mapeamento do fundo do mar um dos dez desafios da "Década dos Oceanos", e defendeu a criação de uma representação digital dos oceanos para facilitar o objetivo de explorar as suas riquezas, mas também de o conhecer e preservar a biodiversidade marinha.

"Reconhecendo a importância da produção de dados, há que propiciar o acesso aos mesmos, de forma equitativa, e uma socialização para que chegue a todos os usuários em tempo oportuno. Ou seja, este desafio referenciado como sendo habilidades, conhecimentos e tecnologia para todos pretende assegurar um conhecimento abrangente e, dessa maneira, melhor conhecer e gerir de forma dinâmica e sustentável os oceanos", sublinhou José Maria Neves.

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