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Regulador do setor audiovisual na Roménia quer que Bruxelas responsabilize TikTok pela interferência nas presidenciais

Eleições presidenciais de novembro foram anuladas por suspeita de influência russa.

03 de maio de 2025 às 08:20

A entidade reguladora do setor audiovisual na Roménia defende que a Comissão Europeia deve responsabilizar a plataforma TikTok pela interferência nas eleições presidenciais de novembro, que foram anuladas por suspeita de influência russa.

As autoridades romenas e cerca de 20 organizações não-governamentais pediram uma averiguação à plataforma chinesa, após a primeira volta das presidenciais, em 24 de novembro, em que o TikTok catapultou um candidato populista relativamente desconhecido, Calin Georgescu, para a vitória, com 23% dos votos.

"Calin Georgescu era um candidato obscuro, que dava algumas entrevistas a meios de comunicação pouco significativos. Era uma pessoa estranha que espalhava narrativas alucinantes sobre extraterrestres. Nunca o vimos como uma ameaça real. Na noite eleitoral, quando saíram as primeiras projeções dos resultados, ficámos literalmente chocados", relatou, em entrevista à Lusa em Bucareste, Valentin-Alexandru Jucan, presidente interino do Conselho Nacional do Audiovisual (CNA).

"Ele recebeu um milhão e meio de votos e toda a gente começou a perguntar de onde vinham estes votos. O que não conseguíamos ver foi o que aconteceu no TikTok semanas antes do dia das eleições. E agora temos informações mais do que suficiente", relatou.

A conta principal do candidato e "outras centenas de contas dele, que não eram oficiais", divulgaram o mesmo conteúdo e, nas últimas duas semanas antes das eleições, tiveram 90 milhões de visualizações, prosseguiu o responsável.

"Nem a [artista norte-americana] Taylor Swift tem 90 milhões de visualizações em duas semanas", exemplificou.

"Foi este o mecanismo de divulgação e promoção através do TikTok desta pessoa. Vimos tudo depois", acrescentou Valentin Jucan, que sublinhou ter ficado "claro como água" a intervenção da Rússia neste processo.

Georgescu não relatou qualquer despesa de campanha às autoridades eleitorais, mas o presidente do CNA garante que esta operação custou muito dinheiro -- entre 30 e 50 milhões de euros.

Valentin Jucan defende que o TikTok deveria ser sujeito a "sanções", como multas, pela União Europeia (UE) pelo seu papel nas eleições de novembro.

"O dano está feito", declarou.

Antes de novembro, descreveu o responsável do CNA, o TikTok não respondia a qualquer reclamação das autoridades romenas, mas desde então "passou a responder aos pedidos" de Bucareste "em menos de 20 minutos".

Em 17 de dezembro, a Comissão Europeia abriu um processo formal contra o Tiktok por suspeitas de violação da integridade das eleições na Roménia.

O executivo comunitário suspeitava que a empresa não cumpriu a sua obrigação de "avaliar e atenuar adequadamente os riscos sistémicos ligados à integridade das eleições, nomeadamente no contexto das recentes eleições presidenciais romenas de 24 de novembro".

Apesar de o TikTok estar agora a colaborar com as autoridades romenas, no processo eleitoral para a repetição da primeira volta, no domingo, o CNA insiste que Bruxelas tem de concluir o procedimento sobre os acontecimentos de novembro.

Caso contrário, questionou o representante, o que "pode acontecer?".

"Podemos ter a certeza de que, na segunda-feira após as eleições, nós teremos o mesmo tipo de cooperação por parte do TikTok? Temos a certeza de que na próxima segunda-feira alguém da empresa ainda estará lá ou só vai dar 'erro 404'?", perguntou.

O TikTok reconheceu, num comunicado, que "a eleição presidencial romena é um evento significativo sob intenso escrutínio público" e revelou ter desativado, entre novembro e dezembro, dezenas de milhares de contas e removido quase 93 mil perfis falsos.

Na semana passada, a plataforma anunciou o lançamento do Centro Eleitoral Romeno, uma nova campanha de literacia mediática e um "trabalho contínuo" com mais de 20 parceiros de verificação de factos, medidas que "reforçam" a atuação do TikTok para "proteger a plataforma e ligar a comunidade a informações eleitorais fiáveis".

Bruxelas reconheceu a resposta da rede social em relação às eleições.

"Congratulamo-nos com as alterações introduzidas pelo TikTok. Estas incluem uma melhor deteção e rotulagem de contas políticas e mais peritos em língua romena, bem como 120 peritos adicionais para o grupo de trabalho eleitoral romeno que trabalha especialmente em campanhas de influência encobertas e integridade da publicidade", afirmou no início de abril a comissária europeia para a Tecnologia, Henna Virkkunen Virkkunen.

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