Governo chinês reforça controlo sobre reuniões cristãs clandestinas.
A recente vaga de detenções de líderes cristãos na China está a gerar preocupação internacional e a aprofundar o sentimento de medo entre os fiéis de igrejas não oficiais, conhecidas como “house churches” (igrejas em casa). O caso de Gao Yingjia, pastor sénior da Igreja Zion, tornou-se um símbolo da repressão contra comunidades cristãs desde 2018.
Gao foi detido numa operação policial ocorrida de madrugada, enquanto se escondia com a esposa, Geng Pengpeng, numa casa nos arredores de Pequim. Dois meses depois, estava num centro de detenção na província de Guangxi, acusado de “uso ilegal de redes de informação”, no âmbito de uma operação que envolveu dezenas de líderes religiosos, de acordo com o jornal The Guardian.
“Sabíamos que havia riscos em sermos cristãos na China, mas nunca se pode estar totalmente preparado”, afirmou Geng, que, entretanto, fugiu para o estrangeiro com o filho à procura de segurança. Esta situação ilustra o dilema vivido por muitas famílias: regressar à China e enfrentar possível detenção, permanecer em países com risco de extradição, ou procurar asilo noutro local.
A detenção de Gao integra a maior ofensiva governamental contra cristãos chineses desde 2018, ano em que Wang Yi, líder da igreja ‘Early Rain Covenant’, foi condenado a nove anos de prisão por “incitação à subversão”. Analistas e organizações de direitos humanos descrevem a atual campanha como um possível “golpe final” nas igrejas não oficiais.
A Igreja Zion, fundada em 2007, é uma das mais proeminentes “house churches” da China, com milhares de membros em todo o país. Embora tenha estado de portas abertas durante vários anos, foi forçada a fechar o espaço físico em Pequim em 2018, passando depois a um modelo híbrido que combinava sermões online e pequenos encontros presenciais.
Segundo Ian Johnson, autor de ‘The Souls of China’, citado pelo The Guardian, após 2018 todas as igrejas não oficiais passaram a operar de forma clandestina, tentando contornar controlos cada vez mais apertados. As detenções de outubro demonstram, segundo o investigador, que o governo pretende deixar claro que estas práticas “não são aceitáveis”.
A repressão não se limitou à igreja Zion. Na província de Zhejiang, mais de 100 cristãos foram detidos numa única rusga, após meses de pressão relacionada com a imposição da bandeira nacional chinesa em igrejas locais. Outros pastores e membros de redes evangélicas receberam penas de prisão longas, muitas vezes sob acusações de fraude ou crimes administrativos.
Em setembro, novas regras proibiram grupos religiosos não licenciados de realizarem sermões online, reforçando o controlo do estado sobre a prática da fé. O presidente Xi Jinping tem defendido ativamente a “sinicização das religiões”, isto é, a adaptação aos valores e à ideologia do Partido Comunista Chinês.
Embora os números oficiais indiquem que cerca de 3% da população chinesa se identificava como cristã, especialistas alertam que estes dados poderão subestimar a realidade, devido ao receio cada vez maior de se assumir publicamente a fé cristã. Um inquérito de 2018 sugeria que até 7% da população acreditava numa divindade cristã.
Apesar da repressão, líderes como Jin Mingri, fundador da Igreja Zion, mantiveram uma visão otimista até à sua detenção. Pouco antes de ser preso, Jin afirmou acreditar que uma nova vaga de avivamento espiritual surgiria após a repressão.
Enquanto isso, Geng Pengpeng continua à espera de orientação, dividida entre a fé e o medo. “Às vezes pergunto-me se isto é real”, confessa – uma pergunta que resume a experiência de milhares de cristãos chineses perante uma realidade cada vez mais marcada pela vigilância e pela incerteza.
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