Moçambique viveu desde as eleições gerais de 9 de outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane.
O político Venâncio Mondlane afirmou esta segunda-feira, no aeroporto de Maputo, que o tempo em que os moçambicanos eram esquecidos está a "passar para o passado", festejando com apoiantes a formalização do partido, enquanto a polícia disparava no exterior.
"Que fique bem claro, nós estamos pela paz", afirmou Venâncio Mondlane, em declarações aos jornalistas à saída do aeroporto, após uma viagem ao exterior, recebido em festa por dezenas de apoiantes enquanto empunhava a bandeira do seu partido, Anamola, autorizado na semana passado pelo Governo moçambicano, o qual diz estar aberto a uma "frente comum" da oposição, traçando já como meta as eleições autárquicas, dentro de três anos.
"Em 2028, com Anamola, os municípios todos, vamos limpar", disse o político, que em 2023 foi candidato da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) à autarquia de Maputo, cuja vitória do candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), nunca reconheceu.
Enquanto se dirigia aos jornalistas, cerca das 15h45 locais (14h45 em Lisboa) ouviam-se no exterior do aeroporto, cujo acesso está condicionado pela polícia, disparos pela Unidade de Intervenção Rápida, numa aparente tentativa de travar o acesso de mais pessoas, apoiantes do ex-candidato presidencial nas eleições gerais de 9 de outubro, à infraestrutura, também fazendo uso de gás lacrimogéneo.
Na saída da comitiva de Venâncio Mondlane, já fora do aeroporto, a polícia voltou a fazer vários disparos, como foi possível constatar no local.
Pouco depois, dezenas concentraram-se junto à residência do político, ainda em festa, à chegada de Venâncio Mondlane, perante forte reforço policial.
"O tempo em que fomos esquecidos, o tempo que parecia que nós éramos invisíveis, é um tempo que podemos dizer que começa a passar para o passado. Agora estamos a caminhar para uma era em que aqueles que no passado foram espezinhados, foram roubados, foram maltratados, escravizados, podem dizer que agora nós nos sentimos moçambicanos", disse antes o político.
"O tempo em que o povo moçambicano, quando tentasse protestar, o protesto era confundido ou era considerado terrorismo, esse tempo está a passar para o passado. E ainda digo mais, se defender um povo foi considerado terrorismo, se exigir que haja transporte condigno e não os homens serem encaixados num atrelado e serem puxados com um trator, se isso é terrorismo, então estou aqui, eu, chefe maior dos terroristas e o terrorismo vai continuar", acrescentou, numa alusão a um dos crimes - de terrorismo - de que está acusado pelo Ministério Público no âmbito das manifestações pós-eleitorais.
O Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos de Moçambique aceitou em 15 de agosto o pedido de registo do partido de Venâncio Mondlane, que deu entrada em abril, disse à Lusa o seu mandatário judicial, Mutola Escova.
Moçambique viveu desde as eleições gerais de 9 de outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder.
Segundo organizações não-governamentais morreram cerca de 400 pessoas em confrontos com a polícia, conflitos que cessaram após dois encontros entre Mondlane e Chapo, com vista à pacificação do país.
O ex-candidato presidencial anunciou em 7 de agosto que alterou a designação do seu partido, passando de Anamalala para Anamola, após pedido do Governo moçambicano, que considerou que a anterior sigla carregava "um significado linguístico".
Anamalala significa "vai acabar" ou "acabou", expressão usada por Venâncio Mondlane durante a campanha para as eleições gerais de 9 de outubro de 2024, cujos resultados não reconhece, e que se popularizou durante os protestos por si convocados nos meses seguintes.
A informação da alteração para Anamola, significando igualmente Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo, constava do recurso que o antigo candidato presidencial submeteu no mesmo dia ao Conselho Constitucional (CC), por considerar então que o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religioso não respondeu no prazo legal ao pedido para a constituição da formação partidária.
Num ofício do ministério, assinado pelo ministro Mateus Saíze, com data de 28 de maio e que a Lusa noticiou nessa altura, era referido que o termo "Anamalala", proposta de acrónimo de Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo, é proveniente da língua macua, falada em Nampula, norte do país, "e por isso já carrega um significado linguístico para a comunicação dos que nela se expressam".
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