Apoio emocional às famílias de doentes com Covid-19 é muitas vezes assumido pelos profissionais de saúde.
Uma enfermeira da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Alcorcón, em Madrid, Espanha, está atualmente a viver num quarto de hotel, uma forma de proteger a sua mãe com Alzheimer, o pai idoso e as duas filhas adolescentes. E este é apenas um dos milhares de casos e relatos perante a pandemia de coronavírus em Espanha.
Numa entrevista ao jornal espanhol El País, Fátima afirma que nos últimos dias viu "pela primeira vez como a vida e a morte se entreolham num piscar de olhos". A profissional de saúde, na linha da frente do combate ao coronavírus, relata os dias difíceis passados na unidade hospitalar, junto dos doentes. "Apertei a mão de uma mulher antes de lhe dar a medicação. Eu disse-lhe: 'Tudo vai ficar bem', e eu falhei. A morte venceu novamente. Saí para a rua a gritar, a chorar", confessa.
São vários os profissionais de saúde que falam das suas frustrações e dúvidas, numa altura em que lutam contra o vírus e tentam salvar mais vidas todos os dias.
"Eles veem que as pessoas pioram da noite para o dia e morrem. A situação cria muita incerteza, sensação de falta de controlo. Têm medo de pegar e infetar os seus familiares. E isso cria-lhes culpa e isolamento", revela um psicólogo do hospital Gregorio Marañón à mesma publicação.
O Presidente da Sociedade Espanhola de Psiquiatria, Celso Arango, chefe de Gregorio Marañón, enviou uma carta aos seus afiliados onde pediu que cuidassem dos enfermeiros "que lutam contra a exaustão, a impotência, tomando decisões vitais para as quais não foram treinados, a precariedade material e técnica. Tudo sem período prévio de adaptação".
Gloria, uma outra enfermeira da UTI, sublinha que a coisa mais difícil perante uma morte é a carga emocional da família perante a situação. "A coisa mais difícil quando um paciente morre é ver a família a usar máscaras e a gritar à porta: 'Pai, nós amamos-te'. Aproximam-se, e mesmo que o doente esteja sedado, estamos a despedir-nos. Às vezes há um gesto. Eles choram. E eu choro com eles", revela.
O apoio emocional às famílias de doentes com Covid-19 é, por isso, muitas vezes assumido pelos profissionais de saúde.
"Em geral, o apoio emocional é feito pelas famílias e essa carga, agora, com pacientes isolados, é assumida pelos profissionais de saúde", explica a professora de psicologia clínica María Paz García-Vera.
"Eu só quero chorar". É assim que a assistente de enfermagem Irene Llorente se sente perante a impotência dos rostos vítimas da Covid-19.
Mas há quem relate também dificuldades em dormir e até pesadelos. "Saí da porta do hospital a chorar. Não consigo dormir. Tenho pesadelos", relata ao El País.
"Todos nós dobramos e triplicamos as camas, mudámos a nossa maneira de trabalhar, continuamos a tomar decisões, com o sentimento de não dar o cuidado ideal", confessou Mari Cruz Martín Delgado, outra profissional de saúde.Espanha regista até ao momento 11.744 mortes por coronavírus e 124.736 pessoas infetadas.
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